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Forças Armadas

O que está por trás da mudança no Ministério da Defesa e como isso impacta os militares

insatisfação do presidente com lealdade de Azevedo e Silva forçou mudança no Ministério da Defesa.
Presidente da República, Jair Bolsonaro durante Cerimônia Comemorativa do Dia do Exército, com a Imposição da Ordem do Mérito Militar e da Medalha do Exército Brasileiro. (Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil)

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A escolha do ministro da Casa Civil, general Walter Braga Netto, para o Ministério da Defesa, diz muito sobre o que o presidente Jair Bolsonaro quer na pasta a partir de agora: ter um ministro mais alinhado ao seu governo e não apenas com as Forças Armadas. Foi isso que custou a demissão do agora ex-ministro Fernando Azevedo e Silva, que permaneceu no cargo por dois anos e dois meses.

O general Azevedo e Silva sempre procurou adotar uma postura de neutralidade dos militares em relação à gestão Bolsonaro. Não à toa, em sua nota de despedida da pasta, disse que, no período em que exerceu o cargo, preservou as "Forças Armadas como instituições de Estado".

Por essa postura institucional, Azevedo e Silva desagradou Bolsonaro em outras ocasiões quando o presidente pediu, nos bastidores, manifestações dele em apoio a posições do governo, o que caracterizariam o envolvimento direto das Forças Armadas com a política de governo.

A escolha de Braga Netto, um ministro do "núcleo-duro" do Palácio do Planalto, não sugere que ele vai obedecer e concordar com Bolsonaro em tudo. Mas interlocutores militares ouvidos pela Gazeta do Povo entendem que ele terá um perfil mais complacente do que o de Azevedo e Silva.

Desavenças entre Bolsonaro e Azevedo e Silva não são recentes

Um fato recente incomodou Bolsonaro e serviu como "empurrão" para a demissão de Azevedo e Silva: a entrevista do chefe do Departamento Geral de Pessoal do Exército, general Paulo Sérgio, ao jornal Correio Braziliense, publicada no domingo (28).

O general Paulo Sérgio cita que, no Exército, o índice de letalidade por Covid-19 é de 0,13%, bem abaixo em comparação ao da população brasileira, de 2,5%. Temendo uma terceira onda da doença no país, ele defendeu o home office de militares e uma espécie de "lockdown" nos quartéis. Paulo Sérgio evitou, ainda, propagandear o uso da cloroquina e outros medicamento para o chamado tratamento precoce. Uma postura contrária à adotada pelo governo Bolsonaro.

A expectativa de Bolsonaro era que o Ministério da Defesa ou o Comando do Exército tomassem alguma atitude em relação à entrevista. Nada fizeram. Desde o início da pandemia, o Exército defende o isolamento social como a medida mais eficaz para evitar a propagação da Covid-19.

O Centro de Estudos Estratégicos do Exército (Ceeex), um órgão estratégico do Estado-Maior do Exército, preparou um estudo defendendo o isolamento social, mas o governo federal, por ordens de Bolsonaro, não o encampou. Além do isolamento, os militares também apostaram na conscientização de outras ações, como o uso de máscaras, higienização das mãos e home office.

Bolsonaro pediu a demissão do comandante do Exército

A falta de alinhamento da Defesa e dos militares na política sanitária de enfrentamento à Covid-19 não foi a única desavença entre Bolsonaro e Azevedo e Silva. O presidente também já pediu ao agora ex-ministro a demissão do comandante do Exército, o general Edson Leal Pujol, segundo apurou a Gazeta do Povo com interlocutores militares.

No episódio em que Bolsonaro falou sobre o uso de "pólvora" quando "acaba a saliva", Pujol entrou em rota de colisão com ele. À época, as falas de Pujol geraram rápida reação de Bolsonaro. O presidente cobrou de Azevedo e Silva uma postura por entender que o comandante do Exército falou em nome de todos os militares. E que o único representante político e institucional de todas as forças seria o próprio ministro da Defesa.

Azevedo e Silva, então, mobilizou os três comandantes de Força para construir uma nota conjunta tentando desfazer a impressão de que haveria um descontentamento das Forças Armadas com o presidente.

Aquele episódio, contudo, não foi a única vez que Bolsonaro colocou Azevedo e Silva em "saia justa". Em 2020, o presidente da República também participou de um ato em frente ao quartel-general (QG) do Exército. Na ocasião, alguns manifestantes defenderam a volta do AI-5, o período mais ditatorial do regime militar.

Ainda no ano passado, Azevedo e Silva participou ao lado de Bolsonaro de um sobrevoo de helicóptero sobre outro ato visto pela classe política como antidemocrático em Brasília. Na ocasião, o ministro disse que o acompanhou para checar "as condições de segurança". Na manifestação em frente ao QG, informou que o papel das Forças Armadas é "manter a paz e a estabilidade do país".

A expectativa agora é que o general Pujol seja substituído no comando do Exército, como é do desejo de Bolsonaro.

Reunião entre Bolsonaro e ministro foi rápida

O anúncio da demissão de Azevedo e Silva pegou o general desprevenido. A reunião que ele teve às 14h com Bolsonaro no Planalto já estava agendada, mas o ministro não sabia do teor da conversa, afirmam interlocutores.

Chegando ao gabinete presidencial, Azevedo e Silva tomou conhecimento da demissão em uma conversa que não durou muito mais de três minutos. "O presidente que pediu o cargo, não foi o ministro que pediu demissão", esclarece um assessor do Ministério da Defesa.

"O ministro sempre preservou as Forças [Armadas] como de Estado, e não políticas", acrescenta o interlocutor. Outro assessor da Defesa é taxativo ao explicar a demissão. "Houve um desgaste natural com o tempo", afirma, confirmando que a demissão ocorre devido à vontade de Bolsonaro em ter um ministro mais "vocal" na defesa do governo.

Apesar da cobrança de um ministro mais alinhado seja a explicação majoritária dada no governo, uma outra versão complementar é dada para explicar a mudança. A transferência de Braga Netto para a Defesa abriu uma vaga que será ocupada por Luiz Eduardo Ramos, agora ex-ministro-chefe da Secretaria de Governo. A Secretaria de Governo, por sua vez, será chefiada por Flávia Arruda (PL-DF), aliada do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).

Especialista alerta para riscos; aliado minimiza mudança no comando

A demissão de Azevedo e Silva pode ter um custo político significativo, avalia o especialista em segurança e defesa nacional Alexis Risden, consultor da BMJ Consultores Associados. Para ele, a mudança de comando pode estremecer ainda mais o relacionamento de Bolsonaro com o Congresso.

"O ministro Fernando tinha um ótimo trânsito dentro do Congresso e, também, com o Judiciário", cita Risden, ao lembrar da experiência de Azevedo e Silva como assessor do ministro Dias Toffoli, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF). Além disso, há riscos sobre como as Forças Armadas poderão reagir a Braga Netto.

A mudança no comando da Defesa não foi bem recebida pelos comandantes das três Forças Armadas, segundo se fala nos bastidores. Apesar de Risden identificar em Braga Netto alguém que não dirá "sim" e concordará com Bolsonaro em tudo, o risco de ele ser um ministro mais político e menos institucional não agrada a caserna.

"Ter um ministro que, por ventura, possa quebrar essa confiança e alinhamento que os comandantes têm com o Ministério da Defesa é um risco olhando por essa ótica dentro das Forças", destaca Risden.

O deputado federal Coronel Armando (PSL-SC), segundo-vice-presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara, entretanto, não vê riscos.

Armando destaca que historicamente as Forças Armadas se veem imersas em ilações e suspeitas de sua utilização política pelo governo vigente. "O PT diz que não conseguiu influenciar as Forças Armadas como deveria ter influenciado, e que isso foi um dos motivos da derrocada do partido, que foi não ter conseguido entrar nas Forças Armadas", destaca.

"Isso aconteceu porque elas estão acima de qualquer ideologia, de direita ou esquerda. O Exército de ontem, hoje e sempre tem os mesmos valores de dedicação da pátria", acrescenta Armando. O deputado, que é coronel da reserva do Exército, diz que a política não entra nos quartéis e pondera que assim permanecerá. "Não discutimos política nos quartéis. Intervenção nunca foi objetivo do presidente, nosso, ou dos militares", destaca o parlamentar, que é aliado do governo.

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