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A influência do Ministério da Economia nos números da pandemia de coronavírus no Brasil será um novo alvo da CPI da Covid do Senado nas últimas semanas de trabalho da comissão. O colegiado estuda convocar para depoimento o ministro Paulo Guedes ou o secretário de Política Econômica da pasta, Adolfo Sachsida. O anúncio foi feito pelo vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), após a reunião da comissão nesta terça-feira (28).
A inclusão do Ministério da Economia na ampla lista de assuntos apurados pela CPI foi motivada pelo depoimento da advogada Bruna Morato, que falou à CPI nesta quarta. Ela representa médicos que trabalharam para a empresa Prevent Senior e deixaram a companhia por discordarem de práticas supostamente determinadas pelos seus diretores, como a obrigatoriedade do uso do tratamento precoce contra a Covid-19 e a adulteração de causas de morte de pacientes.
Morato disse aos senadores que o ministério e representantes da Prevent Senior mantinham um "pacto" que consistia no estímulo ao tratamento precoce e no combate a medidas de isolamento social e restrição a atividades comerciais. A ação, de acordo com a advogada, se encaixava na diretriz "o Brasil não pode parar", lançada pelo governo de Jair Bolsonaro em março do ano passado, para estimular o retorno ao trabalho.
Senadores que fazem oposição ao Palácio do Planalto passaram a vincular o Ministério da Economia ao "gabinete paralelo", estrutura identificada desde o início da CPI que prestaria, de modo informal, orientações ao presidente Bolsonaro sobre a pandemia de forma contrária aos pontos mais consensuais no ambiente científico.
Outro braço do governo que a comissão deve investigar é a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). A entidade é responsável pela regulação do setor de planos de saúde privados. Para senadores da comissão, a ANS foi omissa ou incompetente ao não prevenir os problemas identificados com a Prevent Senior.
A convocação de um representante da ANS foi defendida pelo presidente da CPI, o senador Omar Aziz (PSD-AM). Nesta terça, a CPI aprovou um pedido de investigação da ANS e também do Conselho Federal de Medicina e dos conselhos regionais da categoria, também por conta de uma suposta omissão no caso Prevent Senior.
Hang vai depor nesta quarta; governistas veem perseguição
O depoimento desta quarta-feira (29) na comissão será do empresário Luciano Hang, proprietário das lojas Havan, e amigo e aliado político do presidente Jair Bolsonaro.
Hang foi chamado à CPI, inicialmente, para falar sobre sua suposta participação no "gabinete paralelo". Além de ser próximo de Bolsonaro, ele liderou, no primeiro semestre, uma iniciativa de empresários que buscava uma mudança na legislação para permitir a compra e a utilização de vacinas contra a Covid-19 por parte da iniciativa privada.
Alguns parlamentares também veem conexão entre o empresário e o que definem como um "sistema de propagação de fake news". Para estes senadores, Hang seria um dos financiadores de uma cadeia de sites e perfis nas redes sociais que espalharia notícias falsas e ataques contra apoiadores de Bolsonaro.
Os desdobramentos do caso Prevent Senior, porém, trouxeram um novo elemento para a presença de Hang na CPI. A mãe do empresário, Regina, morreu no início do ano quando estava sob tratamento em uma unidade mantida pela Prevent Senior. Na ocasião, Hang divulgou um vídeo em que lamentava o fato de sua mãe não ter sido submetida ao tratamento precoce. Alguns senadores desconfiam, entretanto, que Regina teria sido medicada de acordo com as normas do tratamento precoce, e que tanto Hang quanto a Prevent Senior teriam omitido o fato por questões políticas.
A advogada Bruna Morato, que depôs à CPI nesta terça, entregou à comissão o prontuário de Regina e o do médico Anthony Wong, que também morreu no início do ano quando estava sob os cuidados da Prevent Senior. Segundo ela, o "interesse social" justifica a quebra da privacidade que deveria ser observada no caso.
Senadores alinhados ao governo Bolsonaro questionaram a convocação de Hang. Marcos Rogério (DEM-RO) perguntou, de forma irônica, se o empresário estava vendendo respiradores em suas lojas. As compras de respiradores artificiais são pivôs de casos de corrupção protagonizados por governos estaduais e municipais que, segundo Rogério, a CPI se recusa em investigar.
Já Eduardo Girão (Podemos-CE), que se apresenta como senador independente mas costuma se posicionar ao lado dos parlamentares governistas, disse que a CPI está adotando uma atitude de perseguição com aliados de Bolsonaro. "Todo mundo que compartilha da ideologia do presidente é perseguido", declarou.