Ministério da Saúde autoriza critérios clínicos para detecção de Covid-19. Na imagem: médico faz a oximetria em paciente.| Foto: HERIKA MARTINEZ / AFP
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Um novo protocolo de contagem de casos de Covid-19 dividiu a comunidade médica. Em coletiva sobre as estratégias de combate à doença, o Ministério da Saúde anunciou que passará também o diagnóstico clínico. Ou seja, o médico poderá dizer se o paciente tem ou não a doença, sem precisar de um teste laboratorial, como é o comum.

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Segundo a pasta, as unidades de saúde poderão usar os critérios “clínico/imagem” (quando se analisa a tomografia do pulmão) ou somente “clínico” (uma análise dos sintomas). O diagnóstico dessa forma só é aconselhado quando não se tem testes disponíveis.

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Antes da decisão, eram usados o “critério laboratorial”, com a realização de exames, e o “clínico epidemiológico”, quando o paciente tem um histórico de contato com casos confirmados da doença.

Decisão é controversa

“Quando existe um grande número de casos e você tem o fator epidemiológico a maior porcentagem é ligada à doença. É possível trabalhar com dados epidemiológicos sem exames ou quando você não tem o exame à disposição”, afirma Jaime Rocha, médico infectologista da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).

“Sem entrar na questão política, é possível se trabalhar com critérios epidemiológicos. É claro que eles têm falhas e não dão a certeza absoluta. Só que esses critérios são usados para a situação ambulatorial, não para pacientes graves internados”, ressalta Rocha.

Raquel Stucchi, infectologista da Unicamp e consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), considera as novas orientações válidas, principalmente porque existem alguns sintomas que são claramente causados pela Covid-19, como a perda de olfato e paladar repentinos.

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O uso da tomografia em casos de Covid-19 apresenta uma imagem conhecida como “opacidade em vidro fosco”, que pode ser periférica, bilateral, com ou sem consolidação ou linhas intralobulares visíveis ("pavimentação"); ou multifocal de morfologia arredondada com ou sem consolidação ou linhas intralobulares visíveis; ou sinal de halo reverso.

Segundo Stucchi, essa é uma forma clara para os médicos na detecção de um possível caso de Covid-19.

No entanto, ela ressalta que a doença pode atingir outros órgãos e não apresentar os sintomas considerados tradicionais. O novo coronavírus pode causar, por exemplo, derrame. “Neste momento, seria ideal que todas as pessoas que tenham derrame sejam testadas, mesmo as que apresentam doenças pré-existentes”, afirma.

O médico Leonardo Weissmann, também consultor da SBI, considera um “absurdo” a forma de testagem anunciada pelo Ministério da Saúde, pois outras doenças podem apresentar sintomas similares aos da Covid-19.

Ele aponta que a decisão é um reflexo da falta de médicos no Comitê de Crise responsável pelas de enfrentamento da pandemia no país. “A decisão reforça o que disse o TCU sobre os problemas no enfrentamento da pandemia”, afirma Weissmann.

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O Tribunal de Contas da União alertou o governo nesta semana sobre a falta de articulação e estratégia no combate à crise.

Weissmann reforça a importância de as pessoas continuarem tomando os cuidados necessários, como lavar as mãos frequentemente, manter o distanciamento social e o uso de máscaras, mesmo as que já tiveram a doença.

Na última segunda-feira (22), a Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou para a subnotificação de casos de Covid-19 no Brasil. Weissmann não descarta que a nova forma de testagem, mais flexível, possa "driblar" a notificação de casos.

Testagem em massa

O Ministério da Saúde apresentou a nova orientação como um complemento do seu programa de testagem em massa. A pasta relançou na o programa “Diagnosticar para Cuidar”, que já havia sido apresentado em maio, pelo ex-ministro Nelson Teich. O ministério espera realizar 46,5 milhões de testes (22% população). Porém, até o momento, a pasta só distribuiu 3,7 milhões RT-PCR e 7,5 milhões de testes rápidos, segundo o Painel de insumos, mantido pelo ministério.

Pessoas assintomáticas também serão testadas, segundo o ministério, seja por meio do teste RT-PCR ou pelo imunocromatografia (teste rápido) ou imunoenzimático (Enzyme-Linked Immunosorbent Assay - ELISA). Durante a coletiva foi anunciado que devem ser adquiridos 12 milhões de testes ELISA ou ECLIA, realizados em laboratórios.

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De acordo com o ministério, a intenção é investir na Atenção Primária para a coleta e diagnóstico devido à interiorização da doença. Por isso unidades sentinelas passarão a realizar o teste RT-PCR (molecular) em 100% dos casos de Síndrome Gripal (SG). Os serviços de saúde credenciados, como Centros de Atendimento à Covid-19, poderão coletar amostras de todos os casos leves.

Diferenças entre os testes

O RT-PCR é feito com a coleta de secreções das vias respiratórias, como nasofaringe (nariz) e orofaringe (garganta). As amostras são analisadas em laboratório, ele é mais eficaz até o oitavo dia de contaminação.

“O teste sorológico do tipo ELISA ou ECLIA traz como vantagem maior segurança e precisão, por ser realizado em ambiente laboratorial. Isso garante maior rastreabilidade das amostras e inserção do resultado no sistema de Gerenciamento Laboratorial”, afirmou Arnaldo Correia de Medeiros, secretário de Vigilância em Saúde, durante a coletiva de quarta.

Os 12 milhões de testes sorológicos ELISA ou ECLIA serão distribuídos pelo Ministério da Saúde aos Laboratórios Centrais de Saúde Pública (LACENs) de todos os estados, segundo a pasta. Além dos LACENs, a testagem em massa será analisada pela rede de laboratório Dasa e pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Os testes rápidos (imunocromatográficos), feitos com uma gota de sangue, analisam a existência de anticorpos no sangue como IgM ou IgG. A eficácia desse diagnóstico é maior em pessoas que foram expostas ao vírus por mais tempo. O ideal é que o teste seja realizado a partir do oitavo dia de contaminação, pois mostra uma “resposta do organismo quando este teve contato com o vírus, recentemente (IgM) ou previamente (IgG)”, segundo a Anvisa.

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Os resultados ficam prontos entre 10 e 30 minutos. O órgão ressalta que testes rápidos (IgM/IgG) podem auxiliar o mapeamento da população “imunizada” (que já teve contato com o vírus). Eles não têm, no entanto, função de diagnóstico.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]