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O ministro da Defesa, José Múcio Monteiro disse, na manhã desta quarta (16), que faltou policiamento e atuação das Forças Armadas nas ruas de Brasília no dia 8 de janeiro, e que uma operação de GLO, Garantia da Lei e da Ordem, poderia ter sido implantada para evitar a invasão e a depredação das sedes dos Três Poderes.
“Faltou naquele dia, verdadeiramente uma repressão. Se houvesse quem impedisse aquilo [a invasão], Exército, Marinha, Aeronáutica ou Polícia do Distrito Federal, não teria tido aquilo”, disse em entrevista ao UOL.
Múcio diz que tem “absoluta certeza” de que os atos de vandalismo poderiam ter sido evitados com o acionamento dos militares para conter o que ele chamou de “grupo de baderneiros financiados por um grupo de irresponsáveis e sem liderança”.
O ministro afirma que, durante uma das várias reuniões que participou naquele dia, ouviu algum dos participantes dizer que deveria ser implantada uma operação de GLO (Garantia da Lei e da Ordem) para permitir aos militares irem às ruas conter as invasões, mas que não sabe exatamente quem foi.
“Aquilo tudo que houve no dia 8 de janeiro, havia GLO. Alguém falou que ‘GLO é coisa de quem quer dar golpe’, e ‘bote o Exército na rua’. E alguém disse alto, eu estava no telefone, disse assim ‘o Exército só pode ir pra rua com GLO’. Não, com GLO não”, afirmou enquanto conversava com o presidente Lula, embora não tenha recomendado.
Múcio disse que o governo está estudando alguma medida que permita aos militares irem às ruas sem necessariamente recorrer a este tipo de operação. A dúvida ainda é a quem os agentes responderiam, se um comando militar ou civil.
“Ainda está em gestação, precisa combinar com os dois lados. Mas, eu sou daqueles que, por mim, ficava como está. Isso funciona desde 1988 sem nunca ter estabelecido risco”, afirmou.
Na perspectiva dos membros da oposição da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de janeiro, as declarações de José Múcio reforçam a teoria de que o governo federal foi negligente e poderia ter impedido as cenas lamentáveis.
O senador Eduardo Girão (Novo-CE) comentou sobre a declaração do ministro da defesa, considerando-a surpreendente e impactante. Ele observou que a fala do ministro "sugere uma reação defensiva", afirmando que se o poder de decretar a GLO "estava nas mãos do presidente Lula e não foi utilizado, então houve uma omissão por parte do governo".
As gravações das câmeras do Palácio do Planalto no 8 de janeiro, divulgadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no fim de abril para a imprensa, revelaram um diálogo tenso entre José Múcio e o ministro da Justiça, Flávio Dino, quando Lula e ministros chegaram de noite para vistoriar os danos no local.
Naquela ocasião, os dois discordaram quanto à desocupação do acampamento de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) que estava localizado em frente ao quartel-general do Exército. Dino defendia a remoção imediata dos grupos acampados, enquanto Múcio sustentava a ideia de não utilizar a força para retirar ninguém do local. Por volta das 21h45, os vídeos mostram o momento em que Dino entra na sala de espera do gabinete de Lula e inicia uma discussão com Múcio, que estava ao telefone. Ambos faziam gestos enérgicos.
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José Múcio Monteiro afirma que as Forças Armadas não queriam dar um golpe. “Aquele dia era muito fácil se as Forças Armadas quisessem um golpe, o povo foi. Era só apoiar aqueles baderneiros que não representavam a sociedade”, disse.
“Não havia liderança [dos manifestantes], cada um escolhia para onde ia. Um [grupo] ia para o Congresso, outro para o Supremo, outro para o Palácio [do Planalto], não veio um comandante, ninguém na frente. Veio um bando de senhoras, crianças, idosos”, completou.
Janja desconfia do Exército
Durante a entrevista, Múcio também falou sobre a desconfiança da primeira-dama Janja em relação ao Exército, já que atualmente quem faz a segurança dela é a Polícia Federal e não os militares, o que criou, segundo o ministro, "duas gestões" no Gabinete de Segurança Institucional (GSI). "Acho que dificulta, mas o presidente está satisfeito", disse.
"Ela [Janja] deve ter seus motivos, mas, em vez de gastar minha energia preocupado ou contrariado com isso, gasto minha energia em tentar recompor essa confiança. Tenho esperança e vou trabalhar para recompor essa confiança", disse Múcio.