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Aliança do Centrão

Ministro de Bolsonaro trabalha por fusão que geraria “superpartido”

Ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, tem buscado partidos do Centrão para fundir com o PP (Foto: Isac Nóbrega/PR)

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Além da articulação política do governo do presidente Jair Bolsonaro, o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, está empenhado em promover uma fusão do PP com pelo menos outros dois partidos do Centrão. Nos últimos dias, Nogueira passou a procurar líderes do PSL e do Republicanos para tentar viabilizar uma união que resultasse em um grande partido dentro do Congresso.

O entorno do ministro da Casa Civil admite que a estratégia tem como pano de fundo aumentar a governabilidade de Jair Bolsonaro e com isso ampliar a viabilidade política do presidente para 2022. Uma fusão entre os partidos garantiria a maior bancada da Câmara com 126 deputados, o que facilitaria a aprovação de matérias de interesse do Palácio do Planalto no ano eleitoral. Como comparação, as atuais duas maiores bancadas partidárias (de PT e PSL) têm cada uma 53 cadeiras.

Fusão ampliaria fatia do fundo eleitoral, mas não atrairia Bolsonaro

Outro ponto em discussão entre os envolvidos nas negociações seria a participação do novo partido no fundo eleitoral em 2022. Depois do veto de Bolsonaro aos R$ 5,7 bilhões que haviam sido incluídos na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), líderes do Centrão trabalham agora por um montante de R$ 4 bilhões para financiar os candidatos em 2022.

Mesmo com a fusão, o presidente Bolsonaro não deverá se filiar ao novo partido. No entanto, a possibilidade de volta das coligações aprovada pela Câmara e a espera de votação pelo Senado poderia garantir ao presidente acesso ao fundo eleitoral, caso ele vá para uma legenda nanica (o presidente negocia, por exemplo, com o Patriota).

Segundo aliados de Nogueira, dentro do PP existe uma resistência à filiação de Bolsonaro em diversos diretórios estaduais. Além disso, integrantes do partido não estariam dispostos a dividir o fundo eleitoral com a bancada de deputados bolsonaristas que pretendem seguir o presidente para o seu futuro partido.

Com a fusão e volta das coligações, o novo partido conseguiria fundos para financiar todas as candidaturas, além de oferecer estrutura para o projeto de reeleição de Bolsonaro. Entretanto, ainda não há previsão para que a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que prevê a possibilidade de coligações seja votada no Senado, onde há resistências à matéria. Para entrar em vigor para 2022, o projeto precisa ser aprovado até outubro, um ano antes das eleições.

Acordos regionais podem dificultar a fusão 

Além de Ciro Nogueira, a possibilidade de fusão conta com a simpatia do presidente nacional do PSL, Luciano Bivar (PE). O cacique do partido que abrigou a candidatura de Bolsonaro em 2018 já admite aos seus interlocutores que teme uma redução do tamanho da legenda em 2022 com a saída de deputados bolsonaristas.

Na esteira da eleição de Bolsonaro, o PSL conseguiu eleger 53 deputados e com isso conquistou a maior bancada da Câmara. A representatividade na Casa é determinante para definir o montante do fundo eleitoral e do tempo de propaganda no rádio e na TV.

No entanto, deputados da ala contrária ao presidente Bolsonaro do PSL tentam frear as negociações de fusão e tentam levar o partido para a chamada terceira via. O partido filiou o apresentador José Luiz Datena e vem testando seu nome em pesquisas. Em outra frente, integrantes do Movimento Brasil Livre (MBL) articulam uma filiação ao PSL, entre eles o deputado Kim Kataguiri (SP), que atualmente integra do DEM.

Já no PP, a aproximação de dirigentes estaduais do partido com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem sido o empecilho para Ciro Nogueira. Em visita ao Nordeste, o líder petista esteve reunido com lideranças do partido e recebeu sinalizações de apoio já no primeiro turno das eleições.

Vice-governador da Bahia, João Leão (PP), anunciou apoio a Lula a despeito de seu partido fazer parte da base aliada do governo Bolsonaro. “Estamos juntos com Lula independente de qualquer condição”, disse Leão. De acordo com Leão, os diretórios estaduais têm liberdade para formar suas próprias alianças. Líderes petistas admitem que será possível consolidar apoios do PP na maior parte dos estados do Nordeste, mesmo sem o respaldo de uma aliança nacional.

O deputado André Fufuca (MA) assumiu interinamente a presidência do PP com a ida de Nogueira para a Casa Civil. Ao portal Metrópoles, ele desconversou sobre a possibilidade de fusão e reafirmou a tradição da legenda em fazer alianças de acordo com os interesses regionais.

“São três partidos que estão crescendo e com expectativa de aumentar a bancada. Como vão se juntar? (...) O PP sempre respeitou muito a democracia estadual. Cada estado tem uma história”, declarou.

Republicanos rejeita fusão

Já o presidente do Republicanos, deputado Marcos Pereira (SP), negou a possibilidade de fusão com o PP e o PSL. Ligado à Igreja Universal, o partido tem mantido pragmatismo em relação ao apoio a Bolsonaro, mas o líder da denominação, bispo Edir Macedo, tem deixado em aberto a possibilidade de romper com o projeto de reeleição com o presidente.

“O Republicanos não irá se fundir com PP e PSL ou com qualquer outro partido. Isso não procede e é informação já negada diversas vezes. O Republicanos completou 16 anos e segue firme para ser um dos maiores partidos do Brasil”, afirmou Marcos Pereira

DEM já foi cortejado para participar da fusão

Essa não é a primeira tentativa de Ciro Nogueira de promover uma fusão entre o PP e outras legendas do Centrão. Antes de cortejar o Republicanos, o ministro da Casa Civil já tinha mantido conversas com líderes do PSL e do DEM.

Rachado desde o começo deste ano depois que o ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia (RJ) não conseguiu eleger seu sucessor para a presidência da Casa, a ala do ninho democrata próxima ao governo Bolsonaro passou a encampar a fusão com o PP e o PSL. No entanto, o presidente nacional do DEM, ex-prefeito de Salvador ACM Neto conseguiu frear as negociações e tirou o partido do radar.

Oficialmente o DEM integra o grupo que tenta viabilizar uma candidatura de terceira via para as eleições de 2022 e vem testando o nome do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta como pré-candidato à presidência. Em outra frente, ACM Neto planeja disputar o governo do estado da Bahia e uma união com o pré-candidato pelo PDT, Ciro Gomes, não é descartada. Pedetistas e democratras, inclusive, admitem que Mandetta poderia ser vice na chapa do grupo.

“Eu e Ciro conversamos e nos entendemos perfeitamente, pois os valores eram maiores. O próximo passo é exatamente exercícios como esse em que a gente vai vendo aqueles que pregam que somos, diferentes, assimétricos, incapazes, vão se surpreender que não somos. Existem pesadelos que só sonhos para sair deles”, sinalizou Mandetta durante uma live da Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB).

Mesmo assim, ACM Neto pretende entregar o diretório estadual do Rio de Janeiro para o deputado Sóstenes Calvancante, que faz parte da bancada evangélica na Câmara, e é próximo do presidente Jair Bolsonaro. A ideia é manter na legenda outros nomes do partido no estado que são próximos do Palácio do Planalto, entre eles o deputado Marcos Soares, filho do missionário RR Soares.

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