Os ministros com perfil discreto ganharam força no governo do presidente Jair Bolsonaro. Eles costumam se manter longe das polêmicas que possam criar crises. Embora muitas vezes acabem sendo envolvidos em algumas delas pelas circunstâncias, esses ministros não as alimentam com declarações públicas. Talvez por isso os ministros "discretos" são aprovados por Bolsonaro; e alguns foram ou ainda são cotados para cargos mais estratégicos no futuro.
Confira quem são os ministros discretos em alta no Planalto:
Tarcísio Freitas, o ministro "tocador de obras”
O ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, construiu e mantém prestígio com Bolsonaro desde o início do mandato do presidente. Além disso, dos ministros do “núcleo militar” do governo, Tarcísio é o mais popular também nas redes sociais.
Enquanto a agenda econômica do também ministro Paulo Guedes (Economia) pouco avança, Tarcísio é visto no Planalto como um "tocador de obras" – algo importante dentro da estratégia de reeleição de Bolsonaro. O Ministério da Infraestrutura entregou 86 obras em 2020.
No segundo ano à frente do Ministério da Infraestrutura, Tarcísio Freitas consolidou o diálogo da pasta com o Congresso. A partir da boa relação com os parlamentares, ele consegue executar obras necessárias, mesmo com o orçamento apertado.
Para 2021, Tarcísio tem uma série de projetos para entregar a Bolsonaro. Em dezembro, ele anunciou que serão feitas 50 concessões ao setor privado: 23 aeroportos, 17 portos; três ferrovias, e 11 lotes de rodovias. Também será feita a privatização da Companhia Docas do Espírito Santo (Codesa).
A expectativa é de que as privatizações e renovações de concessões resultem em R$ 137,5 bilhões em investimentos nos próximos anos e quase R$ 3 bilhões em outorga para o governo. “A ideia é contratar R$ 137 bilhões e, investimentos que, quando materializados, vão gerar mais de dois milhões de emprego”, afirmou o ministro, ao apresentar o balanço das ações da pasta.
Mas o prestígio de Tarcísio com Bolsonaro não significa que ele esteja ileso a polêmicas. O projeto Pró-Brasil foi uma das poucas em que Tarcísio se envolveu em 2020. Talvez a única. O Pró-Brasil, apresentado no início da pandemia do coronavírus, causou um atrito entre a ala militar do governo, da qual Tarcísio faz parte, e Paulo Guedes.
O plano pretende realizar uma série de investimentos federais de grande porte em diversos setores para melhorar a economia do país quando a pandemia acabar. A proposta vai contra o que prega Guedes, que defende a menor participação do Estado na economia.
Além disso, Tarcísio enfrenta a insatisfação das lideranças de caminhoneiros autônomos. O ministro teria rompido com parte dessas lideranças devido ameaças de paralisação. O motivo da insatisfação dos caminhoneiros é o projeto conhecido como "BR do Mar", responsável por incentivar a navegação de cabotagem, que pode resultar na diminuição do transporte terrestre. O projeto foi aprovado pela Câmara dos Deputados e está sob análise do Senado.
Tereza Cristina foi cotada para disputar a presidência da Câmara
A ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, teve o nome cotado para voltar à Câmara e concorrer à presidência da Casa. Antes de o Centrão bater o martelo e confirmar Arthur Lira (PP) na disputa, Tereza Cristina era sondada para tentar conseguir o cargo estratégico no parlamento e assegurar a influência do Planalto. A ministra é deputada federal pelo DEM licenciada. O fato de o nome dela ter surgido como opção para o comando da Câmara dentro da base de Bolsonaro, mostra o prestígio dela.
No Planalto, Tereza Cristina é vista como uma boa negociadora. Ela foi acionada em 2020, por exemplo, para acalmar os ânimos de produtores e tentar conter uma espiral inflacionária com o aumento da inflação dos alimentos.
O trabalho dela foi o de mostrar que o governo não faria nenhuma intervenção nos preços dos alimentos (fato que poderia levar ao reajuste "preventivo"). Para os consumidores, anunciou que não existia o risco de desabastecimento no país – o que poderia levar ao uma corrida aos supermercados, o que também pressionaria a inflação ainda mais para cima.
Outro incêndio que a ministra ajudou a apagar foi a crise entre Brasil e China criada por declarações do ex-ministro da Educação Abraham Weintraub e do deputado federal Eduardo Bolsonaro, filho do presidente. "A China é o grande puxador dessas compras [exportações] pelo tamanho que tem de população, que precisa ser alimentada. Ser ministra é administrar contratempos", disse Tereza Cristina em entrevista à CNN Brasil, em julho.
Outra área que ela teve de atuar foi a ambiental. Em meio às queimadas e desmatamento da Amazônia e do Pantanal, a ministra foi chamada para participar de uma audiência pública no Senado. Durante a sessão, ela declarou que “o boi é o bombeiro do Pantanal" e que o número de queimadas poderia ser "até menor" se houvesse mais gado. Após as declarações, o Senado pediu ao ministério dados sobre a atividade pecuária no Pantanal.
Para tentar restabelecer a confiança da comunidade internacional nas ações do governo para combater a devastação na Amazônia, em novembro, a ministra sobrevoou a região acompanhada de diplomatas de vários países. "Agora, temos que restabelecer a verdade. A verdade é que nós temos um território enorme, que a Amazônia está preservada", disse em nota a ministra.
Rogério Marinho: dos ministros discretos, o que pode chegar mais longe
O titular do Ministério do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, é mais um dos ministros discretos em alta no governo. Considerado um articulador político hábil. Ele deixou o cargo de secretário especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia para assumir a pasta do Desenvolvimento Regional em fevereiro de 2020.
A aposta de Bolsonaro é que Marinho, no ministério, que tem forte presença no Nordeste, ajude a entregar obras na região para aumentar sua popularidade entre os nordestinos. Como o próprio Marinho é do Nordeste, ele é cotado para se tornar candidato a vice ao lado de Bolsonaro em 2022. Respeitado pelo Centrão, o ministro poderia puxar votos da região para o presidente.
Habilidade política para isso Marinho tem. Ele foi um dos responsáveis por construir as articulações políticas para aprovar a reforma da Previdência, em 2019. Também ajudou a aprovar o teto de gastos no governo de Michel Temer, quando era deputado federal.
Porém, ao longo de 2020 defendeu a flexibilização de gastos dentro do governo – o que o levou a ter desentendimentos com Paulo Guedes. Os atritos, porém, só se tornaram públicos por causa de Guedes – e não de Marinho, que manteve sua discrição e não costumava comentar as divergências com o colega de Esplanada.
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