As recentes falas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em que classificou os organizadores da Agrishow como “fascistas e negacionistas” e a presença de ministros na Feira do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST), no último final de semana em São Paulo, aumentaram a crise entre o governo federal e o agronegócio brasileiro.
Desde a campanha eleitoral do ano passado até os eventos mais recentes, Lula tem protagonizado momentos dúbios entre atenção e críticas ao setor responsável por quase 25% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Na primeira plenária estadual do Plano Plurianual do governo federal, realizada na semana passada, o presidente se referiu à feira Agrishow, no começo do mês, dizendo que “alguns fascistas e negacionistas não quiseram presença do meu ministro”, quando houve suposto “desconvite” ao ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro. A organização da feira negou que isso tenha ocorrido e chegou a cancelar a cerimônia de abertura.
Além disso, no último final de semana, os ministros Paulo Pimenta (Secretaria de Comunicação Social), Luiz Marinho (Trabalho) e Márcio Macedo (Secretaria-Geral) estiveram na feira promovida pelo MST em São Paulo. O movimento já promoveu cerca de 30 invasões de terra desde o começo do ano, entre elas de áreas produtivas e de pesquisa, como as propriedades da Suzano no Espírito Santo e da Embrapa, na Bahia.
As falas e ações de integrantes do governo não repercutiram bem entre parlamentares, em especial para o deputado federal Pedro Lupion (PP-PR), que preside a Frente Parlamentar da Agropecuária. À Gazeta do Povo, ele diz que Lula se contradiz entre o discurso oficial frente aos parlamentares e o que faz em eventos que participa.
“Ele tem demonstrado, desde o primeiro dia, uma total contrariedade seja na tomada de decisões seja na política contrários às nossas demandas. Tivemos um arrefecimento, uma possibilidade de aproximação, ele esteve conosco na FPA, mas, pelo jeito, não adiantou nada. Infelizmente, mostra mais uma vez um desprezo desse governo pelo setor mais importante da economia”, disse.
Para Lupion, as falas de Lula e ações de seus ministros afastam qualquer chance de aproximação e ainda levantam dúvidas sobre a ligação do governo com o MST – a CPI, que deve começar os trabalhos em breve, vai responder a essas dúvidas, segundo o deputado.
Já o vice-presidente da FPA, Arnaldo Jardim (Cidadania-SP), reforçou a crítica em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, de que “o governo dá sinais absolutamente contraditórios e tem vivido uma certa esquizofrenia com o agro”.
A opinião é semelhante à do deputado federal Ricardo Salles (PL-SP), que foi ministro do Meio Ambiente no governo de Jair Bolsonaro (PL). Ele também questionou a ligação do governo Lula com o MST e as críticas ao agronegócio. De acordo com ele, o país que “tem o agronegócio mais produtivo e sustentável do planeta assiste indignado à preferência do atual governo por criminosos que invadem, depredam e extorquem brasileiros no campo”.
Ainda no final de semana, o deputado Evair de Mello (PP-ES) foi mais incisivo e disse que o governo “arrancou a ponte com o agro e não tem mais diálogo”. “É a fotografia que nós precisávamos para poder provar o envolvimento do governo com o MST nessas invasões de terra”, disse o parlamentar, ao comentar sobre a foto do vice-presidente Geraldo Alckmin ao lado de um dos líderes do MST, João Pedro Stédile.
Além de Alckmin, o indicado de Lula à diretoria de política monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, também posou para fotos com integrantes do MST na última sexta-feira (12).
Lideranças do agronegócio e políticos criticam a fala de Lula sobre a Agrishow
Embora não faça parte da organização da Agrishow, o presidente do Sindicato Rural de Ribeirão Preto (SRRB), Paulo Maximiano Junqueira Neto, disse que a fala do presidente Lula foi genérica e a classificou como inconcebível e lamentável. “Ele atacou o agro, como chefe de Estado, isso é inconcebível. Ele foi genérico, então, de certa forma, ele atingiu toda uma classe e toda uma região, que é a mais pujante do estado de São Paulo. Lamento profundamente o governo federal não estar presente [na Agrishow]. Lamento mais ainda essa fala do presidente da República, que de forma alguma poderia ter dito algo parecido”, disse o presidente do sindicato rural.
O vice-líder da oposição ao governo na Câmara, o deputado federal Evair de Mello (PP-ES) também criticou as atitudes do presidente Lula com relação ao agronegócio. “O agro merece respeito. Sem saber o que acontece no país, Lula gasta seu tempo viajando e quando está no Brasil continua no palanque, em campanha, quase cinco meses depois de assumir a presidência. Seu ódio e sede de vingança o deixam ainda mais cego e louco. A equipe está perdida, sem base. De braços dados com os terroristas do MST, agora resolveu acusar os produtores rurais de fascistas", disse o deputado.
A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) publicou, em sua conta no Twitter, o trecho do discurso de Lula e classificou a fala como um novo ataque ao agro. “Lula é puro ódio e vingança. E contra nossos cidadãos que trabalham de sol a sol para colocar comida em nossos pratos, contra aqueles que sustentaram a economia brasileira durante a crise criada pelos governos petistas, contra a locomotiva do PIB [Produto Interno Bruto] brasileiro. E ainda repete a narrativa de seu ministro que, em entrevista, disse que o organizador do evento pediu para que ele fosse outro dia, e ainda assim, ele se diz ‘desconvidado’”, comentou a parlamentar paulista.
A deputada federal Caroline De Toni (PL-SC) destacou que os posicionamentos de Lula atrapalham o setor. “Lula vem dando mostras de que seu rancor para com o agronegócio vai atrapalhar em muito este que é o setor que mais contribui para o PIB do Brasil, seja através de aumento de impostos, da burocracia ambiental, da demarcação de terras indígenas ou mesmo de invasões de terra. Dia após dia, dá provas de ser um convicto inimigo do agro. A CPI do MST, para a qual serei indicada, vai contribuir para trazer a público mais verdades a esse respeito”, disse a deputada.
Na opinião da analista política e econômica pela FGV Carol Curimbaba, é compreensível que a situação da Agrishow tenha gerado desconforto, mas a reação do governo federal destrói pontes. “Lula segue destruindo pontes com o setor mais relevante economicamente para o país e distribuindo fake news, porque a Agrishow não desconvidou autoridades do governo federal. É possível entender o desconforto, mas acredito que o ideal seria o governo federal ‘peitar’ a situação e falar das propostas para o setor”.
Com relação à Agrishow, a Gazeta do Povo contatou as entidades realizadoras do evento para comentar as falas do presidente Lula. A feira é realizada por cinco entidades do agronegócio: a Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), a Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda), a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp) e a Sociedade Rural Brasileira (SRB).
A assessoria da Abag afirmou que esse é “um assunto superado”. Francisco Maturro, o presidente da Agrishow, é também vice-presidente da Abag. A Anda não retornou até o fechamento da matéria. Por meio de suas assessorias de imprensa, as demais entidades preferiram não se posicionar sobre o fato.
Lula diz que irá à feira na Bahia para “fazer inveja” à Agrishow
Em seu discurso, Lula também mencionou que irá à Bahia Farm Show para "fazer inveja" à Agrishow. O evento vai ocorrer entre 6 e 10 de junho. "Eu quero dizer que eu [vou] nessa feira só para fazer inveja nos maus-caracteres de São Paulo que não deixaram o meu ministro participar", disse o presidente.
Diante disso, Mello aproveitou a fala para lembrar que Bolsonaro esteve na feira da Bahia em 2022. “Aguardaremos sua presença neste ano, em Luiz Eduardo Magalhães, na Bahia Farm Show. Será até engraçado comparar as imagens da visita de Bolsonaro lá em 2022 com as dele neste ano”, comentou o parlamentar do Espírito Santo.
O deputado federal Ricardo Salles (PL-SP) também comentou a fala do presidente em suas redes sociais. “Lula espalhar fake news, como quando disse que seu Ministro foi desconvidado da Agrishow, a gente tá acostumado. Mas insultar a maior cadeia produtiva do país? Isso é inaceitável”, destacou Salles.
Para a analista política Carol Curimbaba, o tom revanchista de Lula prejudica o diálogo com o setor. “Ele disse, em tom revanchista, pros "fascistas de São Paulo" que ele pode ir em outras feiras e que a Agrishow não tá com nada. É muito triste, porque é um momento em que a gente espera a construção de pontes”, avaliou a especialista.
O presidente do SRRB, Paulo Maximiano, também criticou a colocação do presidente Lula. “Não tem que haver disputa entre feiras. Todas elas têm que ser cada vez melhores. A Agrishow bateu todos os recordes nesta edição, de público e de vendas. É dessa forma que ele quer se aproximar do agro? É dessa forma que ele quer dizer que tem que haver pacificação? Tudo o que ele está fazendo é contra o que eles disseram na eleição”, finalizou.
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