Pelo menos oito ministros do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) têm usado a cota de viagens disponível para o retorno a seus estados de residência para apoiar candidatos às prefeituras em suas bases eleitorais. O levantamento foi feito em cima do Painel de Viagens pelo Estadão, publicado nesta segunda (26), e aponta que o ministro Camilo Santana (PT-CE), da Educação, foi o que mais utilizou a verba prevista na Lei Orçamentária Anual deste ano.
O levantamento também inclui os ministros Rui Costa (PT-BA, Casa Civil), Alexandre Padilha (PT-SP, Relações Institucionais), André de Paula (PSD-PE, Pesca e Aquicultura), Carlos Lupi (PDT-RJ, Previdência Social), Celso Sabino (PP-PA, Turismo), André Fufuca (PP-MA, Esporte) e Silvio Costa Filho (Republicanos-PE, Portos e Aeroportos).
As assessorias da maioria dos ministros negaram uso indevido da cota e informaram que eles viajaram para cumprir agendas institucionais e, alguns, para o retorno às suas residências. Apenas os assessores de Costa Filho e Lupi não responderam à apuração. A Gazeta do Povo procurou a assessoria de Rui Costa e aguarda retorno.
Segundo a apuração, Camilo Santana, foi o que mais viajou neste ano, com 55 deslocamentos, sendo 24 para o Ceará, sua base eleitoral, mais que o dobro registrado em 2023. Além de retornar para sua residência, Camilo teria aproveitado as viagens para participar de eventos de anúncios do governo federal em Fortaleza, onde o PT busca conquistar a prefeitura com o deputado estadual Evandro Leitão (PT-CE).
Fortaleza é uma das prioridades do PT nas eleições municipais, tanto que Leitão contou com a presença de Lula em sua convenção no dia 3 de julho. A assessoria de Santana informou que ele participou de 51 agendas públicas pelo país, sendo 8 no Ceará. “Os demais deslocamentos para o Ceará refletem apenas seu deslocamento semanal para o estado de origem, onde reside sua família”, disse à reportagem.
Ministros próximos de Lula, como Alexandre Padilha (PT) e Carlos Lupi (PDT), também intensificaram viagens para seus redutos eleitorais, com foco em agendas relacionadas ao governo. Padilha esteve em São Paulo entre 19 e 22 de julho, participando da convenção de Guilherme Boulos (Psol) na capital paulista, ao lado de Lula. “Na segunda-feira, o ministro retornou a Brasília em voo de carreira, conforme previsto na Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2024”, disse a assessoria.
Lupi, por sua vez, realizou 27 viagens em 2024, sendo 16 para o Rio de Janeiro, incluindo a oficialização de Martha Rocha como pré-candidata a vice-prefeita na chapa de Eduardo Paes. A assessoria do ministro não respondeu ao questionamento da reportagem.
Rui Costa, o mais próximo de Lula entre os ministros, é ex-governador da Bahia e realizou 43 viagens em 2024, mais que o dobro de todo o ano anterior, sendo 27 para a Bahia. A Gazeta do Povo procurou a assessoria dele e aguarda retorno.
André de Paula, presidente estadual do PSD em Pernambuco, aproveitou suas viagens para participar de convenções partidárias em diversas cidades do estado, apurou o Estadão. “Sobre os eventos citados, as agendas políticas foram realizadas após o cumprimento de sua agenda como ministro”, pontuou sua assessoria.
Já André Fufuca, que assumiu o cargo durante a reforma ministerial de setembro de 2023, realizou 39 viagens em 2024, sendo 31 para o Maranhão, onde foi eleito deputado federal. “No dia 12/07 ele seguiu para São Luís, conforme prevê a portaria que autoriza o deslocamento dos ministros de Brasília para as suas regiões de origem. Daí em diante, usou meios próprios para deslocar-se pelo interior do estado”, disse sua assessoria.
Celso Sabino, empossado em agosto de 2023, realizou 40 viagens em 2024, sendo 18 para o Pará. Suas atividades incluíram eventos organizados em parceria com o governo federal e aliados políticos, além de preparar o estado para a COP-30, que ocorrerá em 2025, justificou sua assessoria.
Silvio Costa Filho, que tomou posse em setembro de 2023, quase triplicou o número de viagens em 2024, com 53 deslocamentos, sendo 26 para Pernambuco, onde participou de convenções de candidatos apoiados por seu grupo político. A assessoria do ministro não respondeu à reportagem.
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