Pelo menos dez membros do PT ligados ao presidente Lula (entre eles dois ministros do governo), além de entidades aliadas ao partido, como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e a Central Única dos Trabalhadores (CUT), já se posicionaram abertamento contra classificar o Hamas como um grupo terrorista. O grupo é o autor da onda de ataques extremistas contra Israel que já vitimou mais de 1,8 mil pessoas entre israelenses e palestinos.
Uma declaração do governo britânico em 2021, que contou com o apoio dos Estados Unidos e de países da União Europeia, levou o partido e entidades a publicarem um manifesto a favor do grupo extremista que deu origem à guerra contra Israel em 2023. Além do PT, a carta também foi assinada por deputados do PSOL, PCdoB e PSB, partido do vice-presidente Geraldo Alckmin.
Na época da publicação do manifesto, os signatários criticaram a classificação do "Movimento de Resistência Islâmico - Hamas" pelo Reino Unido como uma “organização terrorista”.
A carta articulada pelo Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz) afirmava que o posicionamento do Reino Unido “representa uma extensão da política colonial britânica, em desacordo com a posição da maioria do povo da Inglaterra, que se opõe à ocupação israelense e aos seus crimes”.
Para o partido e os movimentos, o “direito à resistência” é assegurado pelo Direito Internacional e Humanitário, pela Carta das Nações Unidas e por outras resoluções da ONU (veja o manifesto completo mais abaixo).
A assinatura da carta por políticos e movimentos de esquerda veio à tona em um momento em que o governo Lula resiste em classificar o Hamas como um grupo terrorista. Há apenas notas de repúdio contra a violência e a violação dos direitos humanos, como a tortura e a morte de civis inocentes, como o brasileiro Ranani Glazer, no sábado (7).
Seis dos 10 petistas que assinaram carta pró-Hamas em 2021 repudiaram novos ataques
Dos dez partidários do PT que foram contra a classificação do Hamas como um grupo terrorista, seis mudaram parcialmente de opinião e passaram a condenar os métodos utilizados pela facção desde o início da guerra, no final de semana.
O principal deles, o ministro Alexandre Padilha (PT-SP), das Relações Institucionais, afirmou que o documento assinado em 2021 ocorreu em um contexto de pandemia, em que “aumentar o tensionamento com organizações da região tornaria ainda mais difícil garantir ações de cuidado pelos governos locais [do Oriente Médio] ou obter ajuda internacional para àquelas localidades, de modo a assegurar cuidados de saúde e água a milhões de inocentes que ali vivem”.
“Em nenhuma hipótese essa decisão pode ser confundida com apoio a qualquer tipo de violência. Já deixei claro meu absoluto repúdio aos atos terroristas praticados nessa semana”, escreveu em uma nota publicada nas redes sociais sem mencionar diretamente o Hamas. Padilha ainda chamou de “fake news” a notícia de que não se posicionou efetivamente contrário ao grupo.
A mesma opinião foi adotada por Paulo Pimenta (PT-RS), ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência da República, um dia depois da publicação desta reportagem. Ele disse que o manifesto foi redigido em um momento de pandemia em que era preciso manter a ajuda humanitária a Gaza e que associar isso a um apoio ao Hamas na guerra é uma "desonestidade intelectual".
"Esse manifesto tem sido utilizado de forma absolutamente equivocada por pessoas que tentam transformar as coisas em disputa politica. Nossa preocupação hoje é a promoção da paz e garantir a vida dos brasileiros que estão em Jerusalém, Cisjordânia e Gaza", disse em entrevista à GloboNews evitando classificar o grupo especificamente como terrorista enquanto a ONU não muda de posicionamento.
A deputada federal Professora Rosa Neide (PT-MT), que também assinou a carta, replicou em suas redes sociais a mesma explicação de Alexandre Padilha, que também repudiou os “atos terroristas praticados” nesta semana. Contudo, assim como o correligionário, a deputada não mencionou diretamente o grupo terrorista.
O deputado federal Paulão (PT-AL) adotou um posicionamento semelhante ao de Padilha, e disse que assinou o documento em 2021 por conta das circunstâncias da pandemia da Covid-19, mas que nunca foi "a favor de qualquer célula terrorista. Nem de lá e nem de cá".
"O oportunismo político na tragédia, a partir de Fake News, tem sido uma estratégia doentia de extremistas. Toda a minha solidariedade às vítimas da guerra em Israel e na Palestina. A cultura do ódio fica para quem não respeita a vida. Eu sou da cultura da paz. Nunca da guerra, nem da mentira", disse à Gazeta do Povo.
Outro petista signatário da carta a favor do Hamas e que mudou parcialmente de opinião é o deputado federal Helder Salomão (PT-ES), que não classificou diretamente os ataques como terrorismo, mas disse que é preciso “condenar todo tipo de violência e trabalhar por uma cultura de diálogo, de tolerância e de paz entre as nações”.
Assim como a posição do governo brasileiro, Salomão defendeu o cumprimento do acordo de reconhecimento dos dois territórios coexistindo pacificamente. Posicionamento semelhante ao do deputado federal Padre João (PT-MG), que compartilhou uma nota do PT para expressar o repúdio aos ataques e a defesa do acordo.
“O Projeto Juntos para Servir reitera o posicionamento do PT sobre o caso Palestina e Israel. Qualquer informação além disso não condiz com o posicionamento do projeto composto por Leleco Pimentel [deputado estadual em MG] e Padre João”, disse na postagem reproduzindo logo depois o posicionamento do PT.
O partido disse, através da presidente Gleisi Hoffmann e do secretário de Relações Internacionais do PT, Romenio Pereira, que “repudia todo e qualquer ato de violência e se solidariza com todas as vítimas e seus familiares”.
“O Partido dos Trabalhadores expressa sua preocupação com a recente escalada de violência envolvendo palestinos e israelenses, com diversas vítimas civis, incluindo crianças e idosos”, afirmou.
O PT afirma que o único caminho para a paz na região é o cumprimento dos acordos de Oslo, que completaram 30 anos em 2023, e o cumprimento das resoluções da ONU, e que tem confiança de que “o Brasil poderá cumprir como mediador deste conflito histórico, situando-se à frente do Conselho de Segurança da ONU”.
Por outro lado, petistas históricos como o presidente da Itaipu Binacional, Enio Verri (PT-PR), e os deputados Zeca Dirceu (PT-PR), Érika Kokay (PT-DF)e Nilto Tatto (PT-SP) assinaram a carta de 2021 e ainda não se posicionaram sobre os ataques do Hamas. A Gazeta do Povo entrou em contato com suas assessorias e aguarda resposta.
Além do PT, a carta também foi assinada por deputados do PSOL, PCdoB e PSB, partido do vice-presidente Geraldo Alckmin. Ele repudiou a violência dos ataques, mas igualmente sem nominar o Hamas e sem classificar os atos como terrorismo.
“Repudio os ataques aéreos e terrestres, com relatos de sequestros de civis, vindos de Gaza contra o território do Estado de Israel. Os ataques devem cessar imediatamente, como pede o posicionamento do Itamaraty. A retomada das conversas pela paz na região é fundamental. Meus sentimentos aos familiares das vítimas”, disse Alckmin.
MST e CUT, que assinaram manifesto, não condenam novos ataques do Hamas
Já entre as entidades citadas, o MST mantém o posicionamento e afirma que “a Resistência Palestina, desde Gaza, reagiu de maneira legítima, às agressões de à política de extermínio que Israel implementa na região há mais de 75 anos”.
“O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) do Brasil mais uma vez reitera nosso apoio total e irrestrito à luta do povo Palestino pela sua autodeterminação e contra a política de apartheid implementada por Israel”, disse em uma nota publicada na segunda (9).
Por outro lado, a CUT adotou um posicionamento contrário à escalada de violência, mas endereçou a autoria dos ataques ao próprio governo israelense. Em uma nota publicada nesta terça (10), a entidade trabalhista pede um “cessar fogo imediato e a retomada de negociações do Estado de Israel com os legítimos representantes do povo palestino”.
“A própria imprensa israelense, como o prestigioso jornal Haaretz, atribui a responsabilidade pela atual situação no Oriente Médio ao governo de Netanyahu, um governo racista, colonizador, autoritário e belicista, que criou uma situação de ataques cotidianos aos palestinos também na Cisjordânia, em Jerusalém oriental, e que foi questionado por grandes mobilizações dentro do próprio Estado de Israel”, disse a CUT em nota.
A entidade pede, ainda, o fim do bloqueio “criminoso” à Faixa de Gaza “à pretexto de represálias ao Hamas”, assina Sérgio Nobre, presidente da CUT.
O que diz o manifesto
Veja abaixo o texto completo do manifesto redigido em 2021 pelos partidos e movimentos sociais:
“Resistência não é terrorismo!
Todo apoio ao povo palestino na luta por legítimos direitos
Os parlamentares, entidades e lideranças brasileiras que subscrevem este documento, expressam o seu profundo descontentamento à declaração da secretária do Interior da Inglaterra, Priti Patel, que atribuiu ao Movimento de Resistência Islâmico – Hamas, a designação de “organização terrorista”, alegando falsamente que o Movimento palestino seria “fundamentalmente e radicalmente antissemita”.
Este posicionamento representa uma extensão da política colonial britânica, em desacordo com a posição da maioria do povo da Inglaterra, que se opõe à ocupação israelense e aos seus crimes. Seu objetivo é claro: atingir a legítima resistência palestina contra a ocupação e o apartheid israelense, numa clara posição tendenciosa em favor de Israel e tornando-se cúmplice das constantes agressões aos palestinos e aos seus direitos legítimos.
O direito à resistência assegurados pelo Direito Internacional e Humanitário, pela Carta das Nações Unidas e por diversas Resoluções da ONU, entre elas as de nº 2.649/1970, 2.787/1971 e 3103/1974, reiterando o direito de todos os povos sob dominação colonial e opressão estrangeira de resistir ao ocupante usurpador e se defender.
A resistência é um legítimo direito dos palestinos contra a ocupação e as reiteradas violações dos direitos humanos, bem como os crimes de guerra. Direito que os palestinos não abrem mão e para o qual, contam com o nosso apoio e solidariedade à sua causa de libertação e pelo seu Estado nacional palestino.
Parlamentares e entidades que assinaram
Brasil, 23 de novembro de 2021”.
Ministro Paulo Pimenta (PT-RS)
Ministro Alexandre Padilha (PT-SP)
Deputada Érika Kokai (PT-DF)
Deputada Fernanda Melchiona (PSOL-RS)
Deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ)
Ex-deputada Perpétua Almeida (PCdoB-AC)
Ex-deputada Professora Rosa Neide (PT-MT)
Deputada Sâmia Bomfim (PSOL-SP)
Deputada Talíria Petrone (PSOL-RJ)
Ex-deputado Camilo Capiberibe (PSB-AP)
Ex-deputado David Miranda (PSOL-RJ)
Ex-deputado Enio Verri (PT-PR)
Deputado Gláuber Braga (PSOL-RJ)
Deputado Helder Salomão (PT-ES)
Deputado Ivan Valente (PSOL-SP)
Deputado Nilto Tatto (PT-SP)
Deputado Orlando Silva (PCdoB-SP)
Deputado Padre João (PT-MG)
Deputado Paulão (PT-AL)
Deputado Zeca Dirceu (PT-PR)
Partido Socialismo e Liberdade – PSOL
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST
Instituto Brasil Palestina – IBRASPAL
Central Única dos Trabalhadores – CUT
Federação Árabe Palestina do Brasil – FEPAL
Aliança Palestina do Maranhão
Aliança Palestina Recife
Amigos de Palestina
Associação de Solidariedade e pela Autodeterminação do Povo Saaraui – ASAARAUI
Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz – Cebrapaz
Centro Cultural Manoel Lisboa
Ciranda Comunicação Compartilhada
Comitê Anti-imperialista General Abreu e Lima – CAL
Comitê Brasileiro em Defesa dos Direitos do Povo Palestino
Comitês Islâmicos de Solidariedade – CIS
Espaço cultural e político al Janiah
Frente Nacional de Luta Campo e Cidade – FNL
Fórum Latino Palestino – FLP
Grupo de Estudos Retóricas do Poder e Resistências – GERPOL/UnB
Instituto de Estudos sobre Geopolítica do Oriente Médio – IGEOP
Instituto Estudos e Solidariedade para Palestina Razan al-Najjar
Movimento pela Libertação da Palestina – Ghassan Kanafani
Movimento Policiais Antifascistas do Maranhão
Movimento Popular Socialista – MPS-PSB
Observatório Proletário
Sociedade Palestina de Brasília
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