Em cinco meses de governo, a maioria dos ministros de Jair Bolsonaro (PSL) já cumpriu alguma missão oficial fora do país, segundo levantamento da Gazeta do Povo. As razões das viagens internacionais são bem variadas: vão desde o suporte ao presidente da República em fóruns internacionais até uma inspeção à base científica brasileira na Antártida.
Há também encontros com potenciais investidores. É o que executou até a terça-feira passada (21) a ministra da Agricultura, Tereza Cristina. Ela fez um giro de 15 dias por quatro países asiáticos: Japão, China, Vietnã e Indonésia.
Uma tendência identificada nas viagens dos chefes da Esplanada é a prioridade a países do chamado "primeiro mundo". Nações como EUA, Canadá, Espanha e França figuram entre os destinos mais recorrentes. Já os vizinhos sul-americanos são menos lembrados – Argentina e Chile, exceções, receberam viagens de ministros.
A preferência por países ricos se explica, principalmente, porque é neles que estão as principais oportunidades de negócios, e também as sedes de organismos internacionais. Como exemplo, a cidade de Davos, na Suíça, abriga o Fórum Econômico Mundial, destino da primeira viagem internacional de Jair Bolsonaro, que contou também com a presença de Paulo Guedes (Economia), Sergio Moro (Justiça e Segurança Pública) e Ernesto Araújo (Relações Exteriores).
Experiências distintas
Araújo é, como esperado, o ministro que mais missões cumpriu no exterior. Além de acompanhar Bolsonaro nas viagens do presidente a diferentes países, o chanceler foi a Hungria, Itália, Vaticano e Polônia. Nas visitas, encontros com chanceleres de outros países e a discussão de acordos internacionais.
Os dois ministros mais conhecidos do atual governo, Guedes e Moro, são também frequentes em missões internacionais. O titular da Economia fez cinco viagens, sendo que quatro tiveram como destino os EUA – na mais recente, acompanhou Bolsonaro na passagem por Dallas. Moro também cumpriu cinco missões externas. Foram três na Europa (França, Suíça e Portugal) e duas nos Estados Unidos. No fim de abril, irá à Argentina para um encontro do Mercosul.
O ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, fez quatro viagens internacionais. Acompanhou Bolsonaro nos giros por Jerusalém, Washington e Dallas e foi também ao Canadá, onde participou em março de um encontro nacional sobre mineração.
Já o titular da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, fez três viagens: também integrou a comitiva que foi a Israel e esteve ainda em Washington e Barcelona, na Espanha. A passagem de Pontes por Israel foi tratada por Bolsonaro como um dos pontos altos da viagem da delegação brasileira – o presidente é fã do desenvolvimento tecnológico do país israelense, a quem costuma citar como referência principalmente para a obtenção de água. A passagem por Barcelona teve como destino o Mobile World Congress (MWC), feira de tecnologia de comunicação móvel, campo tratado como prioritário dentro do ministério.
A Espanha foi também um dos destinos do ministro do Turismo, Marcelo Alvaro Antônio. Ele se encontrou, no país europeu, com representantes do grupo Globalia, do ramo da aviação, a quem pediu mais investimentos no país.
No dia 18 de maio, o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas celebrou a entrada da Globalia como mais uma companhia aérea a operar no país. "Importante destacar que será 1ª empresa a operar no mercado brasileiro por conta da MP que abriu capital estrangeiro em empresas [aéreas] nacionais. Obtendo outorga, ela vai contratar pilotos e tripulação brasileira, gerando empregos, concorrência no setor e novos investimentos no país", disse.
Em outra viagem, Alvaro Antônio foi a Puerto Iguazu, cidade argentina que faz fronteira com o Paraná e compartilha as Cataratas do Iguaçu com o Brasil.
Aventura no continente gelado
O ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, fez uma das viagens internacionais de maior repercussão negativa no governo Bolsonaro. Ele integrou a comitiva brasileira que foi à Antártida verificar as condições da base científica brasileira no continente. O espaço sofreu um incêndio em 2012.
A controvérsia em torno da viagem de Lorenzoni se deu porque a expedição ocorreu na mesma semana em que a Câmara dos Deputados formalizava a composição de suas comissões, o que teria impacto nos debates sobre a reforma da Previdência. Deputado licenciado e um dos responsáveis pela articulação entre Parlamento e Executivo, Lorenzoni foi questionado por não estar no Brasil no momento decisivo.
O ministro chegou a gravar um vídeo para explicar que havia feito a viagem "por determinação do presidente Bolsonaro" e que "o governo tem um mote definido".
A viagem à Antártida contou também com outros dois ministros: Wagner Rosário, da CGU, e Ricardo Salles, do Meio Ambiente. Salles foi pivô de outras controvérsias envolvendo missões internacionais. No início do mês, ele cancelou uma viagem que faria à Europa por conta de críticas que a política ambientalista do Brasil tem recebido de pesquisadores internacionais. Salles tem também empreendido um corte de custos de agendas internacionais.
O titular da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, fez uma viagem aos EUA em março, em que foi às cidades de Nova York e Washington. Ainda em maio ele irá à África, e passará por África do Sul e Angola.
A Gazeta do Povo consultou todos os ministérios sobre as viagens internacionais de seus titulares. As pastas de Saúde, Direitos Humanos e Educação não responderam até a conclusão desta reportagem. Já Infraestrutura, cujo titular é Tarcísio Gomes de Freitas, e Desenvolvimento Regional, chefiado por Gustavo Canuto, informaram que os ministros não realizaram viagens internacionais até o momento.
Carona, mas sem mordomia
Em algumas ocasiões, os ministros são acompanhados de outras autoridades em suas missões internacionais. A viagem recente da ministra Tereza Cristina pela Ásia é um exemplo. A titular da Agricultura foi acompanhada de um grupo amplo de deputados, que reúne, entre outros, Luis Miranda (DEM-DF), Luiz Nishimori (PR-PR) e o presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, deputado federal Alceu Moreira (MDB-RS).
As viagens deixaram de ser mais confortáveis – e caras – a partir de fevereiro de 2018, quando um decreto da gestão do ex-presidente Michel Temer determinou que as passagens aéreas de todos os relacionados para viagens internacionais devem ser da classe econômica. Antes, em 2015, a então presidente Dilma Rousseff havia determinado a proibição da compra de passagens em primeira classe – mas deixado a brecha para a aquisição de passagens na classe executiva.