Sergio Moro após conferência de imprensa em que anunciou sua demissão do governo.| Foto: EVARISTO SA / AFP
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O longo discurso de despedida do ex-ministro Sergio Moro na última sexta-feira (24) contou com a seguinte frase: "quero dizer que, independentemente de onde esteja, eu sempre vou estar à disposição do país para ajudar". A declaração lembrou, de certo modo, uma emitida há mais de 200 anos: "sempre procurei servir lealmente ao Brasil na medida de minhas forças". Quem disse essa sentença foi Dom Gastão de Orleans, mais conhecido como Conde d’Eu, marido da Princesa Isabel.

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As conexões entre o ex-ministro e o integrante do Império Brasileiro, no entanto, não avançam muito a partir daí. A demissão de Moro foi também entre os monarquistas brasileiros um dos assuntos mais comentados dos últimos dias.

O segmento, que apoiou em peso a candidatura de Jair Bolsonaro em 2018, lamentou a queda do ex-juiz da Lava Jato, mas não tanto pela sua figura – a constatação dos defensores do regime monárquico é de que o episódio indicou novamente que a República é um sistema destinado ao fracasso.

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Tanto que, dois dias depois da saída de Moro, os monarquistas da internet lançaram uma mobilização virtual para emplacar a hashtag #ImperioJa. Eles alegam ter conseguido alcançar mais de 23 mil menções ao termo e que a expressão figurou entre as mais citadas da rede social Twitter.

A constatação de diferentes grupos é o de tentar aproveitar o momento atual para amplificar a popularidade do movimento monarquista e apresentá-lo como uma solução aos problemas do Brasil.

República: "sistema corrupto e corruptor"

"Nesse momento em que o governo da República afunda em mais uma crise, mostrando que o sistema republicano está fundamentado na corrupção e na instabilidade, o sistema monárquico se afirma como a única saída desse lamaçal que é a República. Não há saída. A República jamais será capaz de entregar um Brasil decente para os brasileiros. As crises cíclicas, a corrupção e o golpismo constituem seu fundamento. Basta desse sistema corrupto e corruptor!"

O texto é da página "Diga Sim à Monarquia", grupo do Facebook com mais de 34 mil seguidores.

Mensagens semelhantes são encontradas em outros perfis monarquistas nas redes sociais. Mais do que uma tendência de apoio a Moro ou Bolsonaro, o que se percebe é uma corrente de crítica à instituição República.

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O perfil "Ave, Império", com cerca de 4 mil seguidores no Twitter, postou, no domingo (26): "Faz 130 anos que vivemos uma crise após a outra! Quando pensamos que vai melhorar vem outra crise! Corrupção, violência, falta de eficiência na gestão pública e etc! Nos 67 anos de Império, tivemos apenas uma constituição, apenas uma moeda!".

Já o perfil da loja "O Monarquista", que comercializa artigos como canecas e camisetas com o brasão imperial brasileiro, postou frase de Dom Bertrand, bisneto da Princesa Isabel: “Eu não conheço nenhum brasileiro que diga que a república deu certo”.

Betrand é ativista digital e apoiador do governo Bolsonaro. Recentemente, postou um vídeo com análises sobre a pandemia da Covid-19. Segundo ele, o coronavírus foi criado pelo Partido Comunista Chinês, com o objetivo de enfraquecer o sistema capitalista internacional.

No vídeo ele também declara que existem forças no Brasil que querem "se aproveitar da situação para neutralizar a reação conservadora que houve nos últimos anos", que teria culminado com a eleição de Bolsonaro.

Entre políticos com mandato, reação é outra

O deputado estadual Frederico D'Avila (PSL-SP) ostenta em seu perfil no Twitter uma bandeira da família imperial brasileira. Ele endossou a mobilização virtual do dia 26 e escreveu: "Monarquia carrega um nível maior de estabilidade política, pelo poder moderador e poder moral que tem sobre os políticos, o regime monárquico também serve para resgatar nossa identidade histórica e aumentar a coesão popular, restaurando o dever cívico, o patriotismo #ImperioJa".

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Dias antes, entretanto, D'Ávila não titubeou em marcar posição diante do conflito entre Bolsonaro e Moro. Ele escreveu que o presidente "não se desviou de nenhum dos seus valores e princípios" e que portanto permaneceria "#FechadoComBolsonaro". Conduta semelhante foi adotada pela deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP), uma das principais apoiadoras de Bolsonaro no Congresso Nacional e que se apresenta como ativista pela restauração da monarquia. A parlamentar teve conversas suas com Moro divulgadas pelo ex-ministro e tem criticado, desde então, a postura do ex-juiz da Lava Jato.

Descendente da família real brasileira, o também deputado federal Luiz Phelippe Bragança (PSL-SP) foi pela via de buscar minimizar o confronto entre Bolsonaro e Moro. Segundo ele, o presidente e o ex-ministro combatem adversários comuns, como a corrupção e o totalitarismo, e portanto não devem ser posicionados como rivais. "Quem sai vencedor são os corruptos, são os que querem controlar o Brasil do ponto de vista ideológico", declarou.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]