Voto foi dado em julgamento de recursos do X contra decisões de censura do ministro contra perfis na plataforma.| Foto: Fábio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil
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O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), afirmou nesta sexta (30) que a rede social X desvirtua “criminosamente o exercício da liberdade de expressão”. A afirmação consta no voto de um julgamento em vigor no plenário virtual da Corte que julga quatro recursos da plataforma contra decisões do magistrado para o bloqueio de perfis investigados.

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O julgamento começou à 0h pelos ministros da Primeira Turma do STF e se encerra no dia 6 de setembro. Apenas Moraes, que é também o relator, votou até o fechamento desta reportagem. Ainda estão pendentes os votos de Cármen Lúcia, Luiz Fux, Cristiano Zanin e Flávio Dino.

“Conforme tenho ressaltado, a liberdade de expressão é consagrada constitucionalmente e balizada pelo binômio LIBERDADE E RESPONSABILIDADE, ou seja, o exercício desse direito não pode ser utilizado como verdadeiro escudo protetivo para a prática de atividades ilícitas. Não se confunde LIBERDADE DE EXPRESSÃO com IMPUNIDADE PARA AGRESSÃO. Dessa maneira, uma vez desvirtuado criminosamente o exercício da liberdade de expressão, a Constituição Federal e a legislação autorizam medidas repressivas civis e penais, tanto de natureza cautelar quanto definitivas”, disse Moraes no voto para os quatro recursos em julgamento (veja na íntegra).

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O principal ponto de debate é se, nos casos investigados, o bloqueio deve ser aplicado à conta inteira ou apenas a postagens específicas. A plataforma argumenta que o bloqueio de perfis inteiros configura censura prévia, defendendo que as ordens judiciais deveriam se restringir à remoção de conteúdos específicos.

Moraes sustentou, ainda, que os provedores não têm legitimidade para contestar o bloqueio de contas de usuários quando a ordem judicial é decorrente de uma investigação.

“Não cabe ao provedor da rede social pleitear direito alheio em nome próprio, ainda que seja o destinatário da requisição dos bloqueios determinados por meio de decisão judicial para fins de investigação criminal, eis que não é parte no procedimento investigativo”, escreveu o ministro.

Moraes destacou que, quando o exercício da liberdade de expressão é desvirtuado de forma criminosa, na visão dele, a Constituição Federal e a legislação permitem a adoção de medidas repressivas, tanto civis quanto penais, de natureza cautelar ou definitiva.

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Ele também votou contra um pedido do X para revisar o valor das multas aplicadas por descumprimento das ordens de bloqueio, que ultrapassam R$ 100 mil. Para Moraes, “não há reparo a ser feito, diante da capacidade financeira da embargante [a rede social X] e da necessária e urgente finalidade coercitiva”.

Além do julgamento iniciado nesta sexta (30), Moraes também deve decidir ao longo do dia se manda suspender o acesso ao X no Brasil após a rede social não atender à determinação dele de designar um novo representante legal no país. O prazo terminou na noite de quinta (29) após o magistrado ter dado um período de 24 horas para a empresa cumprir a decisão.

Em nota, a equipe de Assuntos Governamentais Globais da plataforma disse esperar “em breve” a ordem de bloqueio do X no Brasil. “Ao contrário de outras plataformas de mídia social e tecnologia, não cumpriremos ordens ilegais em segredo”, diz uma nota divulgada no perfil Global Government Affairs.

O X considera o bloqueio de perfis de investigados pelo STF, ordenado por Moraes, como “ilegais” e destinados a “censurar opositores políticos” do magistrado. “Em breve, esperamos que o Ministro Alexandre de Moraes ordene o bloqueio do X no Brasil – simplesmente porque não cumprimos suas ordens ilegais para censurar seus opositores políticos”, afirmou a rede social.

A intimação foi enviada por meio de uma postagem no perfil oficial do STF no próprio X, pois a empresa encerrou as atividades no país no dia 17 de agosto. Em resposta ao ministro, a rede social alega que, quando tentou recorrer das determinações, Moraes “ameaçou prender nossa representante legal no Brasil”.

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“Mesmo após sua renúncia, ele congelou todas as suas contas bancárias. Nossas contestações contra suas ações manifestamente ilegais foram rejeitadas ou ignoradas”, diz o comunicado do X.

A plataforma também criticou os demais ministros da Corte. “Os colegas do Ministro Alexandre de Moraes no Supremo Tribunal Federal estão ou impossibilitados de ou não querem enfrentá-lo”, apontou a plataforma.

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