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O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o ministro da Justiça, Sergio Moro, já haviam feito um acordo para a troca no comando da Polícia Federal (PF), hoje ocupada pelo Maurício Valeixo. Segundo fontes ouvidas pela Gazeta do Povo, a questão em aberto era definir quem seria o substituto no comando da corporação.
Nesta quinta-feira (23), no entanto, circulou a informação de que Moro teria colocado o cargo à disposição por discordar do nome sugerido pelo presidente. A assessoria de imprensa do ministério negou o suposto pedido de demissão, divulgado por alguns jornais.
O líder da bancada de Segurança Pública no Congresso, o deputado federal Capitão Augusto (PL-SP), aliado de Moro, disse ter conversado com o ministro pouco depois da informação do pedido de demissão ter sido divulgado. “Não pediu, mesmo”, disse o deputado, que afirmou ainda que tem uma reunião com Moro agendada para a próxima terça-feira (28).
“Entrei em contato com ele agora para saber se está mantida a reunião, com esse negócio de demissão, ele falou que não procede e a reunião está mantida”. No encontro, integrantes da bancada vão conversar com Moro sobre a resolução do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) que orienta a liberação de presos por causa do coronavírus.
As trocas na PF
Bolsonaro defende a indicação de Anderson Torres, atual secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, para o comando da PF, mas o nome encontra resistência de Moro. Além disso, o presidente quer que o indicado não seja escolhido pelo ministro.
Um nome alternativo para assumir o posto é do diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem, aprovado por Bolsonaro e visto por Moro como a solução “menos pior”. O ministro ainda deve tentar emplacar o nome do secretário-executivo do Ministério da Justiça, Luiz Pontel.
As divergências nas trocas na PF se tornaram públicas em agosto do ano passado. Naquele mês, Bolsonaro anunciou a exoneração de Ricardo Saadi do cargo de Superintendente da Polícia Federal no Rio de Janeiro, dizendo que a saída dele seria por motivos de produtividade. O presidente ainda tentou emplacar o nome de Alexandre Silva Saraiva, superintendente da PF no Amazonas, para o cargo.
A PF, que é subordinada a Moro, reagiu negativamente. Informou que a troca no Rio já estava sendo discutida há tempos, que a saída de Saadi nada tinha a ver com questões de produtividade e que seu substituto, na verdade, seria Carlos Henrique Oliveira Sousa, superintendente da PF em Pernambuco – que foi quem acabou assumindo.
Moro não se manifestou publicamente. Bolsonaro continuou a dar declarações e chegou a dizer que se não podia trocar o superintendente do Rio de Janeiro, trocaria o diretor-geral da PF. Em meio à tentativa do presidente de intervir na PF, a corporação deflagrou a operação Turbulência, que mirou o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE). A ação colocou o presidente em uma situação delicada e fortaleceu Moro e Valeixo.
Quem é Valeixo
O delegado federal Maurício Valeixo assumiu a direção da Polícia Federal (PF), em janeiro do ano passado, com a fama de quem comandou a Superintendência da PF no Paraná durante a Operação Lava Jato.
Foi ele também quem coordenou a operação de prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e que “resistiu” à ordem de soltura do petista expedida por um desembargador de plantão do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4).
Moro no governo
Moro entrou para o governo como ministro “indemissível”, com a promessa de que teria plena autonomia para atuar no combate à corrupção, ao crime organizado e ao crime violento. O presidente, no entanto, barrou indicação de Moro para o Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, mudou o Coaf (que passou a ser vinculado ao Banco Central), e pediu por mudanças na Receita Federal. Aliado de Moro, Roberto Leonel foi demitido da presidência do Coaf.