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O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, voltou a defender as sentenças que emitiu quando era o juiz da operação Lava Jato. "Ninguém foi condenado injustamente, ninguém foi condenado sem provas", afirmou. Moro ressaltou que a Lava Jato desmontou um "esquema criminoso que afetou a Petrobras" e que "não apenas fez financiamento de campanha, mas serviu para enriquecimento ilícito".
Moro esteve nesta segunda-feira (20) do programa de entrevistas Roda Viva, da TV Cultura. Foi a segunda participação dele na atração - a primeira foi em 26 de março de 2018, quando ainda era o juiz da operação Lava Jato. Na ocasião, a entrevista gerou recordes de audiência à emissora.
Moro classificou como "bobajarada" e "episódio menor" o vazamento de supostas conversas entre ele e membros da força-tarefa da operação Lava Jato, como o procurador Deltan Dallagnol. "Nunca dei importância a isso", afirmou. Moro declarou também que considera que o vazamento "foi usado politicamente para tentar soltar criminosos presos e enfraquecer o trabalho do Ministério da Justiça".
Embora não reconheça a autoria da totalidade das mensagens, o ministro disse que o conteúdo divulgado não desabona sua atuação. "Nenhuma das mensagens indica fraude ou conluio de qualquer espécie. Estou absolutamente tranquilo", apontou.
O ministro disse que considera 2019 "um ano de sucesso para área de Justiça e Segurança Pública", por conta da redução "sem precedentes históricos" de crimes como homicídios, roubos e latrocínios por todo o país.
Em relação à divulgação de uma conversa entre os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff de 2016, que levou ao cancelamento da indicação de Lula para o cargo de ministro da Casa Civil, Moro voltou a dizer que não acredita ter errado ao tornar público o diálogo. Segundo o ministro, ao juiz cabe cuidar do que é decisivo para o processo, sem preocupações com impactos políticos. "Aqueles áudios revelavam que havia uma obstrução de justiça, pura e simples", disse Moro. Lula foi indicado por Dilma para comandar a Casa Civil, mas teve sua nomeação vedada pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Eleições 2022
Moro foi questionado sobre uma possível pretensão de se candidatar à Presidência da República. Pesquisas recentes apontam que ele tem índices de popularidade superiores ao do presidente Jair Bolsonaro e que registra números relevantes de intenção de voto.
O ministro disse que "não tem esse tipo de ambição" e que "o candidato do governo Bolsonaro deve ser ele mesmo [Bolsonaro]". "Os ministros do governo Bolsonaro vão apoiar o presidente", declarou.
"Minha vida já é suficientemente complicada, não penso sobre daqui a 10, 15 anos", declarou Moro. O ministro indicou que, após o término de seu trabalho na Justiça e Segurança Pública, considera trabalhar na iniciativa privada ou tirar um ano sabático de estudos no exterior.
Controvérsias no governo
O ministro disse que aconselhou Bolsonaro a demitir o ex-secretário da Cultura, Roberto Alvim, que divulgou um vídeo de inspiração nazista. "Foi um episódio bizarro", declarou. Moro falou também que "responderia se consultado" ao presidente sobre a situação do chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom), Fabio Wajngarten, que é proprietário de uma empresa que recebe recursos do governo federal.
Os jornalistas que participaram do Roda Viva também perguntaram a Moro sobre a presença no governo do Ministro do Turismo, Marcelo Alvaro Antonio, que se tornou réu sob acusação de corrupção. Para o ex-juiz, o fato de a Polícia Federal estar investigando Antonio "mostra que a PF está com autonomia", e "cabe à Justiça, à Polícia Federal e ao presidente tomar uma decisão sobre o caso".
Moro também disse ter uma "relação ótima" com Bolsonaro e negou ter passado por qualquer episódio com o presidente "em que os dois saíssem gritando" um com o outro.
O ministro defendeu o presidente ao dizer que Bolsonaro não ataca a imprensa. "O presidente está dando ampla liberdade pra imprensa fazer seu trabalho", disse Moro. O relacionamento de Bolsonaro com os jornalistas tem sido marcado por sucessivos embates.
Juiz de garantias
O ministro falou também sobre a criação da figura do juiz de garantias, incluída pela Câmara dos Deputados no pacote anticrime proposto por Moro no início do ano. O ex-juiz foi contrário à ideia, que acabou sancionada pelo presidente Bolsonaro.
Segundo Moro, a Câmara "inseriu essa figura de maneira açodada" e sem verificar a viabilidade da aplicação da proposta. "Quantas comarcas têm um juiz só? Não sabemos", declarou. O ministro disse que Bolsonaro sancionou a iniciativa por um cálculo político - um eventual veto seria derrubado pelo Congresso.
Vaga no Supremo
Moro foi questionado sobre a possibilidade de ser indicado pelo presidente Bolsonaro a uma vaga no STF - ideia que ganhou força a partir de maio do ano passado, quando o presidente disse que havia firmado um "compromisso" com Moro para o posto.
O ministro afirmou que considera "inapropriado discutir vaga quando não há vaga". O próximo posto no Supremo será aberto em novembro, quando o ministro Celso de Mello completará 75 anos. Moro disse que é católico - a afirmação foi referência à declaração de Bolsonaro de que tende a indicar para o STF um jurista "terrivelmente evangélico" e declarou que sua prioridade é "aprofundar o trabalho no Ministério".