O ex-ministro da Justiça, Sergio Moro, disse em depoimento à Polícia Federal no último dia 12 que ministros do governo Jair Bolsonaro reconhecem a ligação do filho do presidente, vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), com o chamado “gabinete do ódio”. O grupo é composto por assessores do Palácio do Planalto, ligados à ala ideológica do governo. Moro disse que, após deixar o governo em abril, passou a ser alvo de ataques nas redes sociais que teriam partido destes servidores.
A existência do “gabinete do ódio” foi revelada pelo jornal O Estado de São Paulo em setembro do ano passado. O grupo ligado a Carlos inclui os assessores especiais da Presidência Tercio Arnaud, José Matheus Salles Gomes e Mateus Matos Diniz.
As informações do ex-ministro foram prestadas à PF no curso da investigação sobre atos antidemocráticos praticados entre março e junho deste ano. O inquérito foi aberto a pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR) e tramita no Supremo Tribunal Federal (STF).
“Indagado se tem conhecimento do envolvimento de Eduardo Bolsonaro, Carlos Bolsonaro, Tercio Arnaud, José Matheus, Mateus Matos em quaisquer dos fatos ora mencionados (manifestações antidemocráticas), respondeu QUE os nomes de Carlos Bolsonaro e Tercio Arnaud eram normalmente relacionadas ao denominado ‘Gabinete do Ódio’; indagado sobre como tomou conhecimento da relação de tais pessoas com o denominado ‘Gabinete do Ódio’, respondeu QUE tomou conhecimento por comentários entre ministros do governo; indagado sobre quais ministros citavam a participação de Carlos Bolsonaro e Tercio Arnaud no ‘Gabinete do Ódio’ respondeu QUE eram ministros palacianos (que trabalham no Palácio do Planalto)”, disse Sérgio Moro, segundo termo de depoimento registrado pela Polícia Federal.
O ex-titular da pasta da Justiça, no entanto, não quis revelar os nomes. Os ministros que trabalham no Palácio do Planalto atualmente são Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), Walter Braga Netto (Casa Civil), Jorge Oliveira (Secretaria-Geral da Presidência) e Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional).
Moro chegou a dizer à PF que, para mais detalhes, seria importante ouvir os ministros do Palácio do Planalto, mas sem dizer quais. “Indagado se o depoente poderia nominar tais ministros, respondeu QUE reforça que era um comentário corrente entre os ministros que atuavam dentro do Palácio do Planalto”, registrou a PF. Em outro momento do depoimento, porém, o ex-ministro listou como “palacianos” Heleno, Ramos e também o secretário de Comunicação, Fabio Wajngarten.
O ex-juiz da Lava Jato foi ouvido como testemunha, e não consta como investigado. A PF mira parlamentares, youtubers, blogueiros e empresários bolsonaristas ligados a manifestações antidemocráticas, enquanto rastreia a movimentação de valores envolvida nos atos e na geração de lucro nas redes sociais por meio da monetização de canais.
A PF já ouviu, neste inquérito, Carlos Bolsonaro e os três assessores da Presidência que fazem parte do gabinete do do ódio.
Moro disse que foi vítima de ataques do gabinete do ódio
Sergio Moro disse também à Polícia Federal que não tem conhecimento da utilização de recursos e estrutura do governo federal para a realização de ataques, e que as informações que têm sobre esse tema foram colhidas na leitura da imprensa. No entanto, sobre os ataques que recebeu após romper com o governo Bolsonaro, Moro disse que “chegou ao seu conhecimento que tais ataques eram oriundos do denominado ‘gabinete do ódio’”.
“QUE esclareceu que quando de sua saída do Ministério de Justiça ocorreram diversos ataques contra sua pessoa em redes sociais; QUE chegou ao seu conhecimento que tais ataques eram oriundos do denominado “Gabinete do ódio”; Indagado se pode nominar as pessoas responsáveis pela a prática de tais condutas, direta ou indiretamente, respondeu QUE não sabe denominar”, disse Moro, segundo a PF.
Ainda no depoimento, Moro negou conhecer ou ter relação com alguns dos investigados do inquérito dos atos antidemocráticos.
Em outro trecho, ao ser questionado se teve conhecimento da existência de uma estrutura montada no Planalto para atacar a honra dos presidentes da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, do Supremo Tribunal Federal ou da República, ele respondeu que “seu conhecimento sobre tais ataques vinha por meio das redes sociais e da mídia, não sabendo a origem de tais publicações”.
Mas, em seguida, ao ser perguntado se tal estrutura teria sido usada para “tentar impedir, com emprego de violência ou grave ameaça, o livre exercício de qualquer dos Poderes da União ou dos Estados”, Moro disse que “tinha conhecimento de uma animosidade entre o Presidente da República e o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ)”.
Ele acrescentou que Maia sofria ataques por meio de publicações em redes sociais, mas disse não saber dizer de onde partiam tais ofensas.
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