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Presidência ou Senado?

Apalavrado com o Podemos, Moro vai assinar filiação em novembro para disputar eleições

Sergio Moro
Senador Oriovisto Guimarães cumprimenta Sergio Moro: filiação do ex-juiz da Lava Jato ao Podemos pode ocorrer em novembro (Foto: Geraldo Magela/Agência Senado)

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O ex-juiz Sergio Moro está apalavrado com o Podemos e desembarca no Brasil em novembro para assinar sua ficha de filiação ao partido. Interlocutores de Moro e parlamentares da legenda assumem que as conversas avançaram ao longo das últimas semanas e o que até então era uma sinalização do ex-ministro da Justiça em se filiar evoluiu para um compromisso em disputar as eleições de 2022.

Moro se juntará ao Podemos com a finalidade de disputar a Presidência da República. Alguns no Podemos dizem que se, por acaso, ele perceber que a perspectiva de furar a polarização entre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) for difícil, ele poderá vir a concorrer como governador ou senador pelo Paraná.

A possibilidade de Moro não concorrer à Presidência, porém, é remota. Ele está convencido de que pode conseguir romper a polarização. Um dos motivos que o persuadiu a disputar o cargo é o resultado de uma pesquisa eleitoral interna do Podemos que o coloca na terceira colocação, com 10% das intenções de voto, segundo afirmam um senador e um deputado do partido.

O desembarque de Moro no Brasil é esperado para a primeira semana de novembro. O Podemos trabalha para que a filiação ocorra em uma quarta-feira, preferencialmente no dia 10. Moro disse aos mais próximos que se filiará entre 10 e 21 de novembro. "A ideia é ser numa quarta-feira porque todos os deputados e senadores estarão em Brasília", explica um senador do partido.

Mesmo sondado por outros partidos, Moro vai se filiar ao Podemos

É improvável que Moro não se filie ao Podemos, admitem interlocutores do ex-juiz. "Como o Sergio é um cara de palavra, é difícil ele dar para trás nessa decisão", sustenta um empresário aliado. Um grupo de empresários do Paraná que trabalha por sua pré-candidatura e o auxilia na montagem de sua agenda eleitoral afirma, contudo, que sondagens não faltam.

Empresários desse grupo dizem ter recebido por Moro sondagens do Novo, do União Brasil — o partido que nasce da fusão entre o DEM e o PSL — e até do Republicanos, um partido aliado de Bolsonaro. "São convites que vieram das cúpulas desses partidos, não de diretórios [estaduais]. Os caciques estão querendo conversar com ele", afirma um interlocutor do ex-juiz.

As sondagens chegaram ao conhecimento de Moro e do Podemos, que evoluíram as conversas. "Há 16 dias, ele esteve em Curitiba e jantou na casa do [senador] Alvaro [Dias (Podemos-PR)]. A Renata Abreu [deputada federal e presidente do partido] se deslocou de São Paulo para lá. Nesse jantar, ele se comprometeu com os dois em assinar a ficha com o Podemos em novembro", afirma um senador.

O senador Oriovisto Guimarães (Podemos-PR) não confirma que a filiação de Moro esteja apalavrada, mas demonstra a expectativa de que isso ocorra. "A situação vai bem. A minha esperança de que o Moro se filie ao Podemos em 9 ou 10 [de novembro] é muito grande. Existem conversas nesse sentido, não está batido o martelo, mas tem grandes chances que ocorra", sustenta.

A Gazeta do Povo procurou a deputada Renata Abreu mas não conseguiu contato. Alvaro Dias, líder do partido no Senado, disse que qualquer pronunciamento sobre Moro será feito apenas em novembro. "É uma decisão interna e eu cumpro à risca", afirmou.

Deputados do Novo admitem que uma sondagem foi feita a Moro, mas dizem que o partido vai lançar o empresário Luiz Philippe D'Ávila, fundador do Centro de Liderança Pública (CLP). No União Brasil, interlocutores da legenda confirmam sondagens e a intenção de avançar as conversas por uma "terceira via" competitiva em 2022.

O deputado federal Aroldo Martins (Republicanos-PR), vice-líder do partido e membro do diretório paranaense da legenda, desconhece qualquer sondagem a Moro. "Da parte do diretório estadual não houve nenhuma conversa, só se houve da parte da Executiva Nacional. E se houvesse tido algum contato da Executiva Nacional, ela teria nos informado [ao diretório estadual]", afirma.

O que falta para Moro assinar a ficha de filiação ao Podemos

O atual vínculo empregatício de Moro é um dos motivos pelos quais ele não pôde assinar sua filiação na recente passagem pelo Brasil. Moro mora atualmente nos Estados Unidos, onde presta serviços de consultoria em compliance para a empresa de consultoria Alvarez & Marsal.

O ex-ministro da Justiça comunicou sua decisão de retornar ao Brasil e disputar as eleições em 2022 à hierarquia da empresa e, portanto, pediu amigavelmente para romper seu contrato. A possibilidade para que isso ocorra se dará apenas a partir de 31 de outubro. Por isso, até lá, Moro permanece em Washington.

"A pequena dúvida que temos com relação ao dia da filiação [de Moro] se dá a essa questão", explica um senador do Podemos. "Depende da vinda dele em definitivo dos Estados Unidos, onde ele voltou para encerrar seu contrato com a empresa de compliance onde ele aplicou [aos clientes] regras de conformidade e transparência", complementa.

Uma vez filiado, o partido trabalhará para anunciar a pré-candidatura de Moro à Presidência. "Isso vai ter que ser decidido na convenção do partido e ele tem que querer. Mas você pode observar que, pelas andanças dele — ele esteve falando com [João] Doria [governador de São Paulo (PSDB), [Luiz Henrique] Mandetta [ex-ministro da Saúde e filiado ao DEM] —, ele está claramente interessado", analisa o senador Oriovisto Guimarães.

O parlamentar reafirma, contudo, desconhecer algo concreto sobre a filiação de Moro ao Podemos. "Ele não me disse 'eu vou ser candidato'. Mas tudo indica que, pelas conversas e andanças, ele será. Se ele não quisesse, ele estava quieto no canto dele", ressalta Guimarães.

O que o ex-juiz da Lava Jato espera do Podemos

Interlocutores de Moro confirmam que resta a ele encerrar seu contrato com a Alvarez & Marsal. Mas reforçam que, embora acreditem ser difícil Moro descumprir sua palavra, ele ainda busca garantias da cúpula da legenda de que terá poder de voto e não ficará à margem de decisões como a composição de coalizões políticas e formações de chapas. "Ele não é igual o Bolsonaro, que quer ser dono do partido, mas também não quer ficar isolado", diz um aliado.

Os interlocutores dizem, ainda, que Moro busca um partido coeso e alinhado a seus princípios. Ele deseja, por exemplo, um partido que combata a corrupção de forma intransigente e que esteja atento aos principais anseios da sociedade. No Senado, o ex-juiz identifica maior coesão às pautas votadas, diferentemente da Câmara.

Moro tratou como vitória a rejeição do substitutivo da proposta de emenda à Constituição (PEC) 5/2021, que muda o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP). Segundo procuradores e promotores, a pauta enfraquece a independência do MP. Na Câmara, o Podemos votou dividido e isso demonstrou falta de coesão aos princípios defendidos pelo ex-juiz na avaliação de interlocutores.

Dos 10 deputados do Podemos na Câmara, cinco votaram a favor e os outros foram contra a PEC 5. A votação dividida não é, contudo, um fator que o impedirá de se filiar. "Ele achou normal, porque anda acompanhando o posicionamento da bancada e não é de hoje que ele nota essa falta de unidade. Mas não é algo que o incomoda, nem a votação da PEC 5. Para ele, não foi um 'bicho de sete cabeças'", explica um aliado do ex-ministro da Justiça.

Parlamentares do Podemos entendem como naturais os pedidos feitos por Moro e não veem problemas em querer fazer parte do processo decisório. Até reforçam que ele terá poder de escolha sobre o cargo que deseja disputar. "O Alvaro disse que abriria mão da reeleição em favor de Moro se ele escolhesse concorrer ao Senado, mas a tendência é ele concorrer à Presidência", afirma um senador.

Aliados de Moro no Podemos na Câmara analisam que, para vencer as eleições em 2022, ele não pode correr o risco de provocar uma desunião e que o partido precisa ser visto como um partido de todos os brasileiros moderados e de centro. "O Podemos não pode ser o partido de promotores e procuradores. É o partido que atende da empresa doméstica, do microempresário e do pequeno produtor rural ao grande empresário", alerta um deputado federal da legenda.

O que o Podemos espera de Moro em 2022

Já parlamentares do Podemos esperam de Moro um candidato à Presidência da República com um discurso agregador, que propague a união do Brasil. "Precisamos de alguém que comande o país sem revanchismos, como é o Bolsonaro. É hora de conciliar", sustenta um deputado federal do partido.

O tom conciliador esperado pelo Podemos exigirá, contudo, um ajuste no discurso de Moro. A cúpula do partido entende que ele usa uma fala muito técnica e que agrega pouco capital social. Por isso, membros da Executiva Nacional e outros parlamentares entendem que ele precisará calibrar a fala para atingir o eleitor médio, o eleitorado de centro que é mais pragmático e menos ideológico.

Alguns parlamentares da legenda entendem que, já no ato da filiação, Moro deve apresentar um discurso robusto. "Todos sabem quem é o Moro, mas o que valem são as frases de efeito. Ele vai apresentar um discurso com duas ou três frases capazes de cativar a todo o Brasil", sustenta um deputado federal. "Vai ter que buscar os descontentes de todos os lados em um discurso pautado não só no combate à corrupção e como destravar o Brasil, mas também em como combater a miséria e fome", acrescenta.

Alguns no Podemos entendem, também, que Moro não poderá ser intransigente com o processo político-eleitoral. A avaliação feita por parlamentares é que, para furar a polarização entre Bolsonaro e Lula e capitanear a terceira via, ele precisará se sentar à mesa com os caciques políticos e cogitar até mesmo uma junção entre Podemos e o União Brasil pelos instrumentos previstos na federação partidária.

Interlocutores de Moro sustentam que o próprio ex-juiz detectou que a linguagem dele precisa melhorar para chegar ao jovem e às classes socioeconômicas mais baixas. "Isso é um ponto estratégico que ele mesmo reconhece. O jovem e o eleitor médio não entende o linguajar 'lavajatês', o 'juridiquês'. E ele está disposto a calibrar isso", afirma um aliado.

Os interlocutores do ex-ministro da Justiça também acreditam que não será um problema para ele buscar apoio junto à classe política. No Paraná, inclusive, há conversas em curso de aproximá-lo do governador Ratinho Júnior (PSD), aliado de Bolsonaro. Também há conversas na linha de aproximá-lo de caciques do União Brasil, como o deputado Júnior Bozzella (PSL-SP), atual vice-presidente da sigla.

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