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Trabalhadores no cemitério de Vila Formosa, em São Paulo, no dia 17 de abril de 2021.
São Paulo registrou mais mortes que nascimentos no mês de abril.| Foto: Miguel Schincariol/AFP

Os impactos causados pela pandemia no Brasil no decorrer dos últimos 13 meses são sentidos não somente no dia-a-dia, com mudanças nos hábitos dos brasileiros, adoção do distanciamento social, cuidados recorrentes com a higiene, além de alteração da rotina estimuladas por medidas de restrição mais duras. Estudos de diferentes entidades apontam que as mudanças demográficas provocadas pela Covid-19 no País quebraram marcas históricas em pouco mais de um ano e modificaram a história da dinâmica populacional humana no Brasil.

Menos 2 anos de vida

Um estudo recente publicado por pesquisadores do Departamento de Demografia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em conjunto com a Escola de Saúde Pública de Harvard, Escola de Gerontologia da Universidade do Sul da Califórnia e o Departamento de Pesquisa Populacional de Princeton aponta que em 2020 a expectativa de vida dos brasileiros caiu 1,94 anos em razão do alto nível de mortalidade, que não era visto desde 2013, colocando o Brasil de volta ao patamar de 2009.

O estudo aponta que, entre 1945 e 2020, a expectativa de vida dos brasileiros aumentou de 45,5 para 76,7, anos, uma média de crescimento de quase cinco meses por ano que agora foi bruscamente interrompido pela pandemia. “Dos ganhos obtidos na expectativa de vida ao nascer no Brasil ao longo de duas décadas, mais de um quarto foi perdido em razão da Covid-19”, apontam os pesquisadores.

Impactos demográficos

Para realizar o estudo foram usados dados sobre mortes relatadas para medir e comparar os números de óbitos entre os estados de uma perspectiva demográfica. Os pesquisadores apontam que a queda foi maior para homens, aumentando em 2,3% e 5,4% a diferença entre homens e mulheres na expectativa de vida ao nascer e aos 65 anos, respectivamente. Entre os estados, alerta a pesquisa, a população do Amazonas perdeu 59,6% das melhorias na expectativa de vida ao nascer desde o ano de 2000. E neste ano a situação deve ser ainda pior. Somente nos primeiros quatro meses de 2021 foram registradas mais mortes causadas pela Covid-19 do que todo o ano de 2020, o que deve ter um impacto demográfico ainda maior ao longo dos próximos meses. Ontem o País atingiu a marca de 400 mil vítimas da doença.

O Distrito Federal, por exemplo, teve uma redução estimada na expectativa de vida ao nascer de 3,68 anos, a maior queda absoluta entre todos os estados. No geral, as quedas foram maiores nos estados do Norte, liderada por Amapá (3,62 anos), Roraima (3,43 anos) e Amazonas (3,28 anos). Recentemente a região passou por um colapso no seu sistema de saúde, o que influenciou os cálculos negativamente.

“O número de mortos pelo coronavírus no Brasil em 2020 foi catastrófico. Os ganhos estaduais em longevidade conquistados ao longo de anos ou mesmo décadas foram revertidos pela pandemia.”, aponta o relatório.

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Números subestimados

Os pesquisadores destacam ainda que os números do estudo podem estar subestimados em razão das consequências indiretas causadas pela pandemia que devem impactar ainda mais esse quadro no futuro. “Embora essas descobertas sejam perturbadoras, argumentamos que são quase certamente subestimadas”, diz o levantamento. Primeiro, as mortes pela Covid-19 podem ser subestimadas em algumas regiões em razão da falta de exames complementares para identificar a infecção. Outro ponto destacado é que a mortalidade causada por outras doenças pode ter relação com o coronavírus.

Sobreviventes da Covid-19 podem ser mais vulneráveis ​​a outras condições, no curto prazo, devido a comorbidades anteriores”. Além do mais, adiamento de exames, diagnósticos e procedimentos médicos em razão da situação de emergência da pandemia podem ter causado outras mortes. “A Covid-19 interrompeu os serviços de atenção primária no Brasil e isso comprometeu, por exemplo, o rastreamento do câncer, com redução de cerca de 35% em novos diagnósticos”, concluem os pesquisadores.

São Paulo segue queda

Um estudo semelhante divulgado em abril pela Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade) de São Paulo confirma essa tendência na redução da expectativa de vida. Segundo o levantamento do órgão, essa perspectiva era de 76,4 anos em 2019 e caiu para 75,4 em 2020.

“O rápido aumento dos níveis de mortalidade, devido à expansão da pandemia da Covid-19 em todo o território paulista, afetou diretamente os padrões demográficos de longevidade conquistados, resultando em retrocesso ao patamar de vida média observado sete anos atrás, entre 2012 e 2013”, diz o estudo.

Para os homens, a expectativa de vida caiu mais do que para as mulheres. Entre as mulheres, a vida média caiu de 79,4 para 78,7 anos, com perda de 0,7 ano em 2020. Já entre os homens passou de 73,3 para 72,0 anos, uma redução de 1,3 ano. Para os homens, a expectativa de vida caiu mais do que para as mulheres. Entre as mulheres, a vida média caiu de 79,4 para 78,7 anos, com perda de 0,7 ano em 2020. Já entre os homens passou de 73,3 para 72,0 anos, uma redução de 1,3 ano.

Mortes superam nascimentos

Outro dado motivado pela pandemia é que pela primeira vez o número de mortes já superou o de nascimento em algumas regiões do Brasil nos primeiros meses de 2021, período de agravamento da Covid-19 no País. De acordo com dados do Portal da Transparência de Registro Civil, no mês de abril, por exemplo, o Sudeste do Brasil teve mais mortes que nascimentos.

Levantamento realizado pela Gazeta do Povo mostra que houve 76.508 nascimentos até o 29 de abril, contra 81.525 mortes – números totais, mas que foram diretamente influenciados pelos óbitos causados pelo coronavírus. Já São Paulo registrou 41.407 nascimentos e 44.087 mortes no mesmo período. Minas Gerais teve 17.234 nascimentos contra 17.268 óbitos. No Rio de Janeiro essa diferença foi maior: 13.893 nascimentos contra 16.473 mortes.

Apesar de pequena diferença, Espírito Santo, ao contrário dos demais estados da região, teve mais nascimentos (3.974) do que mortes (3.697). De acordo com estudos os Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), essa era uma situação prevista para acontecer no País apenas em 2047, mas que foi adiantada em quase três décadas em razão da pandemia.

Menor taxa de natalidade

Um levantamento realizado Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen-Brasil), também com base no portal da Transparência do Registro Civil, que reúne dados de 7.651 Cartórios de Registro Civil existentes no Brasil, mostra que houve uma queda histórica no número de nascimentos em janeiro de 2021, primeiro mês após o período de uma gestação regular, de nove meses, desde o início da pandemia, no final de março de 2020. No primeiro mês deste ano foram registrados 207.901 nascimentos, 15,1% menor que os 244.974 registros de janeiro de 2020. Segundo os dados apurados pela Arpen, 26 dos 27 estados registraram queda no número de nascimentos em janeiro de 2021.

Os locais com maior redução foram o Maranhão (-26%), Amazonas (-23,9%), Roraima (-23,1%), Piauí (-21,3%) e Mato Grosso (-20,8%). Rio de Janeiro teve uma queda de -19,3%, São Paulo de -15,7%, Distrito Federal de -15,1%, Rio Grande do Sul de -14,5%, Minas Gerais de -10,7, e Paraná de -9,6%. Apenas Rondônia apresentou alta no período, com um aumento de 3% nos nascimentos.

O presidente da entidade, Gustavo Renato Fiscarelli, lembra que a Covid-19 afetou todos os aspectos vitais da população, sejam pessoais, econômicos ou da vida civil. “No Registro Civil, que compreende os atos principais de cidadania, já eram nítidos os impactos nos óbitos e nos casamentos, mas agora, passados nove meses desde o mês de abril, verificou-se o primeiro impacto na natalidade da população brasileira. Na pandemia, os casais optaram por adiar o sonho de terem filhos, o que certamente impactará futuramente no desenvolvimento do País”, lamentou.

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