Aplaudido de pé e ovacionado por um auditório lotado na Universidade de Harvard, o vice-presidente Hamilton Mourão participou do evento de encerramento da Brazil Conference, em Boston (EUA). Quando questionado sobre o que faria de diferente se fosse ele o presidente do Brasil, respondeu: “A parceria [com o presidente Jair Bolsonaro] é total. A gente discute, debate, mas quando ele toma uma decisão, estou com a decisão 100%”. Mas ponderou: “Pela minha personalidade, talvez escolhesse outras pessoas para trabalhar comigo”.
Com foco nos 100 dias de gestão do governo, Mourão abordou diversos tema em sua palestra: falou que o problema da violência só será resolvido com políticas sociais, que educação básica é prioridade, que o desmatamento ambiental está no limite e pediu um “não ao ódio” nas redes sociais.
LEIA TAMBÉM: Mourão nega ‘conspiração’ e acusa oposição de querer criar divisão entre ele e Bolsonaro
Vice diz ser natural queda de popularidade no Datafolha
No dia em que o Instituto Datafolha divulgou que 30% dos brasileiros consideram o governo Bolsonaro ruim ou péssimo, a pior avaliação de um início de gestão num 1.º mandato presidencial, Mourão classificou o resultado da pesquisa como algo natural.
“Existe uma ansiedade muito grande por parte da nossa sociedade. Estamos vivendo a crise do desemprego muito grande. Então essa ansiedade se traduz no: 'Pô, esse pessoal não ia fazer tudo? O que eles estão fazendo?' Então vejo naturalmente essa queda inicial de popularidade”, afirmou o vice.
Hamilton Mourão também saiu em defesa do presidente Jair Bolsonaro nos 100 primeiros dias de governo, que se serão completados na próxima quarta-feira (10 de abril). “Tão criticado e muitas vezes tão pouco compreendido. Pra Bolsonaro moldar o futuro é a suprema arte de um governo. A visão do presidente Bolsonaro é muito clara. Ele está trabalhando para as próximas gerações, não para as próximas eleições”.
OUÇA O PODCAST: Guerra dos 100 Dias: Bolsonaro, Lula, FHC ou Collor. Qual governo fez mais em 3 meses?
3 passos para aprovar a reforma da Previdência
Em meio às discussões que envolvem o governo e o Congresso para a aprovação da reforma da Previdência, Hamilton Mourão voltou a defender um diálogo mais claro e objetivo para construir uma maioria.
“Óbvio, tem que haver diálogo. São três coisas [necessárias para aprovar a reforma]. Clareza, o governo tem quer ter clareza, ninguém pode ter dúvidas sobre os objetivos do governo. Tem que ter determinação pra levar a frente e buscar as conquistas desses objetivos. E ter paciência, muita paciência no diálogo”, disse o vice-presidente.
Na semana passada, o presidente Jair Bolsonaro mudou a estratégia de negociação com os parlamentares, o foco não está mais nas bancadas temáticas e sim em construir um diálogo com líderes dos partidos. “É uma forma de buscar maiorias transitórias para cada uma das propostas”, falou Hamilton Mourão
Mourão defende políticas sociais
O vice-presidente respondeu a diversas perguntas feitas por professores e estudantes de Harvard. Muitas delas abordaram os problemas sociais que o Brasil está enfrentando.
A educação básica foi classificada como prioridade por Mourão. Mas ele disse que antes é preciso resolver a questão do ministro da Educação, Ricardo Vélez. “Estamos com um problema no Ministério da Educação. O presidente vai tomar uma decisão a esse respeito amanhã [segunda]. Ele já definiu. A nossa visão, do nosso governo é a seguinte, nós temos que investir pesado na educação básica. Nós investimos muito no ensino superior e pouco na educação básica. Temos uma evasão enorme da escola e uma massa de jovens de 13, 14, 15 anos que não entendem um texto”.
FIQUE POR DENTRO: Bolsonaro sinaliza que vai demitir Vélez
Outro tema abordado e que recebeu destaque do vice-presidente em seu discurso inicial foi a questão da segurança públicas. Mourão defendeu que a solução não está no enfrentamento entre polícia e bandidos, e sim em uma melhor eficiência de políticas sociais.
“Se não tivermos um trabalho consistente e permanente e vigoroso na área social. Nós não vamos resolver esse problema nunca. Nós vamos enxugar gelo. Poderemos ter a melhor polícia do mundo, ter o melhor sistema prisional, mas com as pessoas vivendo amontoadas em favelas, sem acesso a água, sem acesso a luz, sem direito a propriedade, sem ter esgoto, nós não vamos resolver o problema”.
Defesa da redução da maioridade penal
Segundo o vice-presidente, a discussão sobre a maioridade penal e uma reforma do sistema carcerário também precisam estar na pauta do governo. “Temos que discutir o problema do criminoso menor de idade. Com 17 anos de idade é um homem. Ele pega mata uma pessoa, passa 3 meses [preso] e volta. O tráfico hoje recruta esse tipo de elemento”, disse o vice.
Sobre as penitenciárias, Hamilton Mourão afirmou que elas têm que deixar de ser “uma colônia de férias onde bandidos comandam o crime organizado” e que ao mesmo tempo essas penitenciárias precisam recuperar o trabalho de reinserção social. “Essas prisões são masmorras em que as pessoas não vão se corrigir. A instituição que eu servi por 46 anos, o Exército, tem um regulamento. O regulamento disciplinar do Exército diz que a punição só é válida se ela educa. Como vou educar uma pessoa, se jogar uma pessoa numa masmorra sem ter uma atividade laboral, sem ter uma progressão educacional? Então temos que mudar esse quadro”.
Desmatamento atingiu o limite
Apesar da promessa de campanha de Jair Bolsonaro, em que afirmou que sairia do Acordo de Paris sobre mudanças climáticas, o governo já recuou. Na palestra em Harvard, Hamilton Mourão reiterou que o Brasil vai seguir no acordo e se sujeitar “aos ditames que ali estão colocados”.
O vice-presidente falou que é uma responsabilidade do governo brasileiro preservar a floresta amazônica e que “o arco de desmatamento atingiu o limite”. Afirmou ainda que o setor agropecuário precisa manter e defender a terra que tem: "Porque se ela se deteriorar, vão perder a capacidade de produção”.
Elogio a FHC e repúdio ao ódio nas redes sociais
Por duas vezes durante em sua apresentação na Universidade de Harvard, que durou pouco mais de uma hora, Hamilton Mourão citou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que estava na plateia. Primeiro disse que FHC passou oito anos nessa luta de conseguir dialogar com o Congresso. Depois, elogiou as privatizações feitas pelo governo do tucano no setor das telecomunicações. Mas afirmou que é preciso uma reforma no setor para aumentar o número de antenas celulares no país.
VEJA TAMBÉM: Em Harvard, FHC 'ensina' como Bolsonaro e Guedes deveriam negociar com o Congresso
Hamilton Mourão também fez menções a Mangabeira Unger, ex-ministro do governo Lula, com quem se reuniu no sábado (6), e ao ex-presidente americano Franklin Roosevelt, do Partido Democrata. Atualmente os Estados Unidos são governados pelos republicanos e em sua visita à Casa Branca, Jair Bolsonaro encerrou sua apresentação citando o republicano Ronald Reagan.
O discurso de ódio nas mídias sociais também foi criticado pelo vice-presidente. Afirmou que o terrorismo cibernético fez do Brasil e Nova Zelândia vítimas recentes de atentados, referendo-se ao massacre em uma escola de Suzano (SP) e a mesquitas em Christchurch.