O vice-presidente Hamilton Mourão acusou neste sábado (6) a oposição de tentar criar uma divisão entre ele e o presidente Jair Bolsonaro. Em entrevista coletiva em Boston (EUA), Mourão negou haver uma conspiração do núcleo militar do governo contra o presidente. Ele também falou sobre o jeito de Bolsonaro negociar com o Congresso, o Ministério da Educação, China, Venezuela e imigrantes brasileiros nos Estados Unidos.
Sobre as acusações de que estaria trabalhando contra Bolsonaro, Mourão afirmou que, no Exército, aprendeu que “a lealdade para com o comandante são cláusulas pétreas”. Disse ainda que sua viagem aos Estados Unidos estava programada havia dois meses e foi autorizada pelo próprio presidente – nos bastidores de Brasília, corre a informação de que a viagem do vice aos Estados Unidos teria causado "ciúmes" em parte do governo e no próprio Bolsonaro por causa do protagonismo de Mourão.
A viagem aos Estados Unidos ocorre três semanas após o encontro entre Bolsonaro e o presidente americano Donald Trump. “[Minha viagem] é um complemento. O presidente atuou na área em que ele tem por dever de ofício atuar: assinatura de acordos, proposição de fatos que são medidas que aumentem o relacionamento entre os países. No meu caso, estou em uma universidade prestigiada, Harvard, para transmitir as nossas ideias, onde o presidente não teve a oportunidade de fazer isso”, disse Mourão. Mais cedo, o vice-presidente já havia dito que ele próprio era um "complemento" de Bolsonaro.
Hamilton Mourão irá participar neste domingo (7) do painel de encerramento da Brazil Conference, evento organizado por alunos da universidade de Harvard e do Massachusetts Institute of Technology (MIT). Depois, segue para Washington, onde na segunda-feira vai se encontrar com o vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence. “Importante que nós vices tenhamos esse canal aberto. E a gente só se conhece quando senta pra conversar”, disse Mourão. Mourão volta ao Brasil na quarta.
Vice nega "conspiração" militar
O filósofo Olavo de Carvalho, chamado de "guru" do governo, tem sido um dos maiores críticos à postura do vice-presidente Hamilton Mourão e dos ministros da "ala militar" do governo. Recentemente Olavo escreveu que “nenhum general disse uma palavra contra os inimigos de Bolsonaro, só contra amigos dele”.
Hamilton Mourão refutou o termo "ala militar". “Primeiro lugar, essa ala militar, na realidade ela não existe. O que existe são ministros que vieram das Forças Armadas”.
Ele negou que haja uma conspiração contra Jair Bolsonaro. “Eu já comentei: até parece que diariamente, no final do dia, ali pelas 20 horas, em algum canto escondido do Palácio do Planalto, eu, o [Augusto] Heleno, o Santos Cruz, Floriano Peixoto, nos reunimos pra ver o que que vamos fazer agora. Isso não acontece”, disse Mourão, referindo-se aos ministros militares do governo.
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Mas o vice-presidente admitiu que os ministros mais próximos à Jair Bolsonaro –general da reserva Augusto Heleno (chefe do Gabinete de Segurança Institucional) e o general da reserva Carlos Alberto dos Santos Cruz (ministro-chefe da Secretaria de Governo) – têm aconselhado o presidente em sua maneira de agir nas tomadas de decisão.
“O presidente tem o estilo próprio e você tem que saber trabalhar com o estilo do presidente. Você não vai mudar a forma de uma pessoa agir na fase da vida que ele se encontra. O que tem ocorrido, normalmente, é que a gente procura discutir com o presidente, o processo de tomada de decisão, pra melhorar aquilo que ele tem que decidir. Mas nenhum tipo de tutela, moderação ou 'vamos segurar o presidente'.”
Evasivas sobre Vélez e Olavo de Carvalho
O Ministério da Educação (MEC) também foi assunto de Mourão nos Estados Unidos. Na sexta-feira pela manhã, Jair Bolsonaro falou sobre a situação do ministro Ricardo Vélez. Disse que "está bastante claro que não está dando certo” e que “até segunda, vai ser resolvido, ninguém mais vai reclamar”. O vice-presidente disse desconhecer se haverá alguma mudança no Ministério da Educação. “Não sei se [Vélez]será trocado na segunda-feira”.
Mourão evitou entrar em polêmica com Olavo de Carvalho, quando foi perguntado se, caso Vélez seja demitido, será o "guru" quem indicará o novo ministro. “Sobre essa questão, se foi o Olavo quem indicou ou não, eu não sei disso. Essa questão não passou por mim. O que sei, é o que vejo na imprensa. E, obviamente, o ministro Vélez, em entrevista, negou que seja afilhado o Olavo de Carvalho. Então vou acreditar na palavra do ministro”.
O jeito de Bolsonaro governar: "É um processo de ensaio e erro"
O vice-presidente comentou sobre a mudança de estratégia do governo para fazer com que a reforma da Previdência seja aprovada no Congresso. “A solução que o presidente encontrou é a de composições transitórias [com os partidos] para enfrentar os problemas que surgirem, que é o caso inicial da Previdência. Num primeiro momento o presidente buscou-se valer das bancadas temáticas. Não funcionou. E partiu pra segunda linha de ação que é conversar diretamente com os presidentes de partidos”, disse o Mourão.
Ele também falou sobre a opção de não buscar fazer um governo de coalizão, com a distribuição de ministérios para aliados. “Faz parte do jogo político. É um processo de ensaio e erro, realmente. Ou a gente se rende àquela coalizão que era feita antigamente, e o presidente não quer fazer isso, ou nós tentamos novas formas.” Em palestra no Brazil Conference, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) havia criticado a falta de habilidade de Bolsonaro e de Paulo Guedes em negociar com o Congresso.
Surpresa com posição de Bolsonaro sobre muro de Trump
Apesar de afirmar que não existe divisão entre o presidente e ele, Hamilton Mourão se mostrou surpreso ao saber que Jair Bolsonaro declarou à rede de TV americana Fox News ser a favor da construção do muro entre Estados Unidos e México. “Ele falou isso mesmo? Bom, se o presidente apoia, eu também apoio”.
Imigrantes: "Temos profunda admiração por eles"
Mourão se reuniu neste sábado (6) com representantes da comunidade brasileira em Massachusetts. Quando foi questionado sobre a declaração de Jair Bolsonaro, também à Fox News, em que afirmou que “a maioria dos imigrantes não tem boas intenções e nem quer fazer o bem ao povo americano”, o vice-presidente disse que não comenta declarações do presidente: “Não seria ético falar de algo que meu comandante falou”. Bolsonaro, logo depois, disse ter cometido um ato falho e afirmou que não quis dizer que achava que a maioria não tinha boas intenções, mas sim uma minoria.
Mourão explicou que se encontrou com brasileiros que vivem legalmente nos Estados Unidos. Lembrou que Jair Bolsonaro recebeu quase 70% dos votos no exterior e elogiou os imigrantes brasileiros. “São pessoas que vieram na busca de melhores oportunidades. A gente sabe que fazem isso porque infelizmente lá no nosso país as oportunidades não se apresentam. São pessoas batalhadoras. A gente sabe que, pra ganhar a vida aqui, não é fácil. Nós todos temos profundo respeito e admiração por eles."
Venezuela: "Não estamos pensando na opção militar"
Em março, no encontro entre Trump e Bolsonaro, a Venezuela se tornou o principal assunto entre os presidentes. O presidente americano chegou a dizer que “todas as opções estão na mesa” quando foi questionado sobre uma intervenção militar no país sul-americano. Hamilton Mourão voltou a negar a intenção do Brasil em ceder tropas para combater o governo de Nicolás Maduro. “Nós temos deixado claro, e ficou claro no Grupo de Lima, que é o foro responsável em discutir essa situação, que nós não estamos pensando na opção militar.
Mourão disse não acreditar nem numa ação militar por parte dos Estados Unidos. “Eu vejo como muito pouco provável – mesmo com todo o poderio bélico que os Estados Unidos têm, pela própria situação que se vive dentro daquele país, pelas características topográficas e físicas da Venezuela. Então eu julgo que o processo na Venezuela vai prolongar essa agonia por um tempo, até que as forças resistentes lá dentro consigam controlar os elementos adversos.”
China: Brasil tem de saber se posicionar
Outro assunto que esteve na pauta de Jair Bolsonaro em sua visita aos Estados Unidos, foi o comércio entre Brasil e China. O ministro da Economia, Paulo Guedes, falou que gostaria de ver os americanos ocupando o lugar dos chineses como os principais parceiros comerciais do Brasil.
Mourão destacou que os Estados Unidos sempre foram um aliado tradicional, mas que o governo tem que saber se posicionar em relação a China. “Eles importam 32%, 33% de tudo aquilo que exportamos. Temos que melhorar a qualidade do que exportamos pra lá, colocando valor agregado e não simplesmente commodities e utilizar em proveito de ambos o capital chinês que está aí aberto para investir. Então o Estado brasileiro precisa saber se posicionar”.
Agenda extensa em Boston
Hamilton Mourão, que está desde sexta-feira em Boston, cumpriu uma agenda extensa neste sábado. Pela manhã se reuniu com o filósofo e ex-ministro do governo Lula, Mangabeira Unger; também esteve com o empresário brasileiro Jorge Paulo Lemann, conversou com estudantes de Harvard e representantes da comunidade brasileira em Massachusetts.
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