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Perfil conciliador

Múcio vai assumir o Ministério da Defesa para pacificar a relação de Lula com militares

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José Múcio Monteiro foi indicado por Lula para assumir o Ministério da Defesa a partir de 2023 (Foto: TCU/Divulgacão)

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O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) confirmou nesta sexta-feira (9) a escolha de José Múcio Monteiro para comandar o Ministério da Defesa no futuro governo. Essa será a segunda participação de Múcio em governos petistas. Entre 2007 e 2009, ele foi ministro da Secretaria de Relações Institucionais de Lula. Além disso, Múcio também foi deputado federal e ministro do Tribunal de Contas da União (TCU).

Apontado nos bastidores como um articulador político, Múcio tem bom trânsito entre os militares e é visto por integrantes do próximo governo como alguém que pode pacificar a relação de Lula com os integrantes das Forças Armadas – que demonstram reservas em relação ao petista. Exército, Marinha e Aeronáuticas são vinculadas à pasta que será ocupada por Múcio.

Além de a maioria dos militares não terem simpatia pela esquerda, durante o período eleitoral Lula deu declarações que causaram mal-estar nas tropas. Ele chegou a indicar, por exemplo, que pretender demitir os militares que atualmente ocupam cargos no Executivo. "Nós vamos ter que começar o governo sabendo que vamos ter que tirar quase 8 mil militares que estão em cargos de pessoas que não prestaram concurso. Vamos ter que tirar", disse, em junho, o então candidato Lula.

Ao indicar Múcio para a Defesa antes de decidir sobre os demais ministros, Lula não vai criar uma comissão específica para fazer a transição na área da Defesa. Caberá a Múcio, a partir de agora, discutir os programas para o setor – inclusive com o comando das Forças Armadas.

A confirmação de Múcio também marca a volta de um civil para o comando do Ministério da Defesa, depois de cinco anos com militares no posto. Ao longo da campanha eleitoral, Lula já havia indicado a pretensão de ter um civil no comando da pasta da Defesa. Seria uma sinalização de que as Forças Armadas têm de se submeter ao comando civil. A avaliação de integrantes do PT é de que o futuro ministro terá a missão de "restabelecer" o papel constitucional das Forças Armadas. Além disso, um civil na Defesa também evitaria possíveis atritos entre Exército, Marinha e Aeronáutica – já que a escolha de um ministro de uma das três Forças poderia desagradar às outras duas.

O presidente Jair Bolsonaro (PL) só teve ministros da Defesa militares. O ex-presidente Michel Temer (MDB) também teve um militar no cargo, o general Joaquim Silva e Luna, em 2018. O Ministério da Defesa existe desde 1999 e, antes de Temer, só civis tinham comandado a pasta.

Indicação de Múcio não foi consensual na equipe de Lula

Apesar da proximidade de Múcio com os integrantes das Forças Armadas, a indicação dele para o comando da Defesa não foi consenso entre os aliados de Lula. Integrantes do futuro governo defendiam que o ex-ministro da Defesa Nelson Jobim voltasse ao comando da pasta a partir do ano que vem. Mas venceu a ala que defendia o nome de Múcio.

Antes da confirmação de Múcio, outros aliados chegaram a ser sondados para o cargo – entre eles o vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (PSB), o ex-ministro Aldo Rebelo e até o ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Qual é a trajetória política do novo ministro da Defesa

José Múcio Monteiro começou sua carreira política começou no Arena, partido de sustentação política da ditadura militar (1964-1985). Múcio foi filiado à Arena e 1966 a 1979. No ano seguinte, com a extinção da Arena, migrou para o PDS – a sigla herdeira do antigo partido do regime militar. Permaneceu no PDS até 1991. Depois, por dez anos, integrou o PFL (que mudou de nome para DEM e hoje é o União Brasil). Em 2001, migrou para o PSDB. E, em 2003, filiou-se ao PTB.

Múcio foi deputado federal por Pernambuco entre os anos de 1991 e 2007, além de vice-prefeito e prefeito de Rio Formoso (PE) e titular de secretarias do governo pernambucano.

Entre 2007 e 2009, comandou a Secretaria de Relações Institucionais do segundo governo de Lula. Isso lhe garantiu a indicação para uma vaga de ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), em novembro de 2009.  Múcio deixou o TCU em janeiro de 2021, dois anos antes de completar 75 anos, idade para aposentadoria obrigatória.

“Busquei, incessantemente, ao longo desses anos e durante toda minha vida, construir pontes, pois considero que as melhores soluções são resultantes da soma dos diversos pontos de vista”, disse Múcio em seu discurso de despedida do TCU, em dezembro de 2020.

Múcio já foi cortejado por Bolsonaro 

Além da proximidade com Lula, o futuro ministro da Defesa também já foi cortejado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL). Em 2020, o presidente chegou a convidar Múcio para entrar no governo e escolher o cargo que quisesse. "Eu sou apaixonado por você, José Múcio. Gosto muito de Vossa Excelência", disse Bolsonaro, em dezembro daquele ano.

No discurso, o presidente comparou Múcio com um bom vinho, que fica "cada vez melhor" à medida que envelhece. E afirmou que o então ministro do TCU "ainda tem algumas décadas para ajudar nossa população". "Vossa excelência tem comportamento conciliador, amigo", disse Bolsonaro.

Apesar dos elogios do presidente, Múcio demonstrou independência em relação à atual gestão. Antes da solenidade de 2020, o então ministro do TCU havia criticado o governo Bolsonaro por causa da condução do enfrentamento da pandemia da Covid-19. Em entrevista ao site Poder360, Múcio havia afirmado que o presidente, durante a crise sanitária, perdeu a oportunidade de fazer “um grande pacto de governabilidade”. “Não é nem pelos que pensam igual ao governo. O vírus não tinha filiação partidária. Não era ideia de nenhum partido. Era o inimigo coletivo do Brasil, do mundo inteiro. Poderíamos nos juntar”, disse.

Recentemente, o vice-presidente Hamilton Mourão (Republicanos), que é general, também elogiou a indicação de Múcio para o Ministério da Defesa. “Tenho muito apreço e respeito pelo ministro Múcio, com quem tive excelente relação quando ele estava no TCU. Julgo que será um nome positivo para o cargo”, afirmou o vice-presidente ao jornal O Estado de S. Paulo.

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