O ex-secretário de Saúde do Amazonas, Marcellus Campêlo, que presta depoimento nesta terça-feira (15) à CPI da Covid do Senado, afirmou que comunicou o governo federal sobre a falta de oxigênio no estado no dia 7 de janeiro. A data é diferente da relatada à comissão pelo ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, que informou ter tomado conhecimento do problema no dia 10 do mesmo mês. Campello disse que ligou para Pazuello e também que encaminhou ofícios ao Ministério da Saúde pedindo auxílio.
A crise do desabastecimento de oxigênio no Amazonas atingiu seu auge em janeiro e levou à morte de centenas de pessoas no estado. A investigação do problema é um dos fatores que levou à criação da CPI.
Campêlo também relatou que, ainda antes do pico da crise do desabastecimento, já havia informado o Ministério da Saúde da elevação do número de casos de Covid-19 no Amazonas e também solicitado ajuda do governo federal. Ele relatou que enviou um ofício em 31 de dezembro do ano passado. Um dos retornos que recebeu do Executivo, segundo ele, foi a visita da secretária de Gestão do Trabalho e da Educação do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, que chegou ao estado em 4 de janeiro. Campêlo disse que a secretária mostrou "ênfase" em defender como estratégia para combater o problema na cidade o chamado "tratamento precoce" e o aplicativo TrateCov. A plataforma teria como objetivo auxiliar os médicos no diagnóstico e tratamento de pacientes com suspeitas de Covid-19, mas foi retirada do ar após a constatação de que a conclusão de seu uso era sempre a recomendação de cloroquina, seja qual fosse o perfil do paciente mencionado. Pinheiro alegou que o TrateCov foi "hackeado" e que a versão tornada pública não era a definitiva.
O ex-secretário declarou também que a tese de "imunidade de rebanho" não foi implantada no estado, e não chegou sequer a ser sugerida nem por membros do governo federal e do estadual. A tese prevê o incentivo à contaminação de parte da população sob a expectativa de que isso poderia gerar a imunização do restante da coletividade. Embora seja válida para algumas infecções, a proposta é, segundo a maior parte da comunidade científica, imprópria para o coronavírus. A "imunidade de rebanho" tem entre seus defensores o médico e deputado federal Osmar Terra (MDB-RS).
Campêlo declarou também não ter tomado conhecimento da reunião em que o governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), e membros do Ministério da Saúde descartaram a realização de uma intervenção federal no estado.
Corrupção no Amazonas
Parte do depoimento de Campêlo, que ainda está em curso, é voltado a questionar o ex-secretário sobre denúncias de corrupção no estado. O próprio Campêlo foi alvo recentemente da Operação Sangria da Polícia Federal, e teve sua prisão preventiva decretada.
Campêlo foi questionado sobre a instalação de um hospital de campanha no hospital Nilton Lins. O estabelecimento foi alugado pelo governo do Amazonas em abril do ano passado e operou como hospital de campanha até junho do mesmo ano. A contratação, segundo o Ministério Público, foi feita com sobrepreço. Campêlo, à CPI da Covid, afirmou que parte dos serviços contestados pelas autoridades policiais não chegaram a ser efetivamente contratados, e que por isso não houve prejuízo aos cofres públicos.
Os dois membros da CPI que são do Amazonas - o presidente do colegiado, Omar Aziz (PSD), e o senador Eduardo Braga (MDB) - questionaram Campêlo também sobre o fato de outros hospitais da rede pública amazonense terem permanecido inativos ou com atuação restrita enquanto o estado contratava serviços extras.
Aziz chegou a ironizar Campêlo ao dizer que "as pessoas mudam quando sentam na cadeira da CPI".
A investigação sobre casos de corrupção nos estados é um dos campos de investigação mais procurados pelos senadores alinhados ao governo do presidente Jair Bolsonaro. Para eles, os principais problemas que o Brasil vive em decorrência da pandemia de Covid-19 se dão por conta de desvios de recursos enviados pelo governo federal aos estados e municípios.
Outras definições da CPI da Covid
A CPI deve votar ainda hoje o pedido de convocação do secretário-executivo do Consórcio Nordeste, Carlos Gabas. A requisição foi apresentada pelo senador Eduardo Girão (Podemos-CE). Gabas é outra personalidade que os bolsonaristas desejam ver presentes na comissão. O Consórcio Nordeste foi responsável pela aquisição, no ano passado, de respiradores que não chegaram a ser entregues.
E na abertura dos trabalhos da comissão, Aziz informou que a CPI "tomará providências" para garantir o depoimento na quinta-feira (17) do empresário Carlos Wizard Martins. Ele é citado como um dos membros do "gabinete paralelo" que desenvolveria estratégias para o combate à pandemia de modo alternativo ao definido pelo Ministério da Saúde. Os advogados de Wizard pediram que o depoimento fosse colhido de modo remoto, o que foi descartado pela CPI.
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