O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, que presta nesta terça-feira (8) novo depoimento à CPI da Covid do Senado, voltou a defender a vacinação e medidas de prevenção como o isolamento social e o uso de máscaras. Ele também falou que medicações como a cloroquina "não têm eficácia comprovada" contra a Covid-19.
Queiroga foi questionado pelo relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL), sobre a conduta do presidente Jair Bolsonaro em relação ao tema - o chefe do Executivo tem adotado posturas públicas que estão em desacordo ao defendido pelo ministro. Em resposta, Queiroga disse que as orientações que ele e o Ministério passa valem para "todos os brasileiros" de que "não é censor" do presidente. Também declarou que, em seus encontros com o presidente, Bolsonaro estava usando máscaras "na maior parte das vezes".
Calheiros perguntou a Queiroga também sobre a influência do suposto "gabinete paralelo", grupo que exerceria influência sobre o presidente Bolsonaro e prestaria informações sobre a pandemia diferentes das concedidas pelas autoridades de saúde. O ministro disse não identificar a força do grupo, e declarou que teve reuniões pontuais com alguns dos supostos líderes do "gabinete paralelo", como a médica Nise Yamaguchi e o deputado federal Osmar Terra (MDB-RS). Mas, segundo Queiroga, o grupo não dita políticas públicas no âmbito do Ministério.
O ministro voltou à CPI porque, na opinião de senadores que fazem oposição ao governo Bolsonaro, ele omitiu informações ou deu respostas incoerentes em sua primeira fala, que ocorreu no dia 6 de maio. Queiroga assumiu o Ministério da Saúde em 23 de março. Ele é a quarta pessoa a comandar a pasta durante a gestão Bolsonaro, e ao longo da pandemia de coronavírus: os antecessores foram Luiz Henrique Mandetta, Nelson Teich e Eduardo Pazuello. O ministro falou ainda que espera concluir a vacinação da população brasileira até o fim do ano.
Desligamento de Luana Araújo
Em um dos momentos mais controversos do depoimento, o ministro foi questionado sobre a não-efetivação da médica Luana Araújo no cargo de secretária de Enfrentamento à Covid-19 da pasta. Ele disse que a decisão de não confirmar Araújo na função foi dele, por entender que a medida "não traria harmonia" ao Ministério. A médica é contrária ao chamado "tratamento precoce" contra a Covid-19, proposta que tem a simpatia de alinhados ao governo Bolsonaro.
A declaração de Queiroga de que o desligamento de Araújo foi uma decisão sua contrariou o dito pela médica no depoimento dela à CPI, no último dia 2. Na ocasião, Araújo disse que não havia entendido a razão da não-efetivação do seu nome. Ela contou que a decisão foi avisada a ela pelo próprio Queiroga, que havia relatado a medida "com pesar" e justificado o ato pelo fato de que o nome da médica "não seria aprovado pela Casa Civil".
Questionado pelos senadores, Queiroga disse que não houve veto superior ao nome de Araújo, e que ele tomou a medida de não confirmar a indicação da médica efetivamente por uma questão política - não político-partidária, mas política dentro do universo médico.
O ministro tratou as discussões sobre a cloroquina e outros medicamentos vinculados ao "tratamento precoce" como uma "questão lateral" e reforçou que o foco da pasta hoje é a vacinação.
Copa América no Brasil
O relator da CPI perguntou a Queiroga sobre "estudos" que justificariam a decisão do governo federal em receber a Copa América de futebol. O torneio, que se inicia no domingo (13), terá o Brasil como sede após Argentina e Colômbia, os palcos originais, desistirem da competição em virtude da pandemia de coronavírus. O posicionamento brasileiro de sediar a Copa motivou críticas até mesmo de jogadores da seleção brasileira.
Queiroga disse não existirem pesquisas específicas sobre a segurança em receber a Copa América, mas disse que protocolos aplicados a outros eventos esportivos internacionais que têm ocorrido no Brasil - Libertadores da América, Copa Sulamericana, Eliminatórias - dão a confiabilidade para a realização do torneio.
CPI decide amanhã sobre Osmar Terra
O presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), determinou que a comissão decidirá na quarta-feira (9) sobre a presença de Osmar Terra. O depoimento do deputado foi requisitado pelos senadores Alessandro Vieira (Cidadania-SE), Rogério Carvalho (PT-SE) e Randolfe Rodrigues (Rede-AP).
Também nesta quarta, a CPI ouvirá Elcio Franco, que foi secretário-executivo do Ministério da Saúde durante a gestão de Eduardo Pazuello.
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