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O presidente Jair Bolsonaro defendeu as políticas ambientais do Brasil em relação à Amazônia, falou sobre as tensões entre Rússia e Ucrânia e ressaltou os valores conservadores que tem em comum com o governo da Hungria durante seu encontro com os líderes do país, o primeiro-ministro Viktor Orbán e o presidente János Áder, nesta quinta-feira (17), em Budapeste.
Bolsonaro tem uma forte ligação com Orbán, a quem considera como um “irmão”, devido a agenda conservadora que compartilham: defesa da família, da vida, liberdade religiosa e contra a ideologia de gênero e causas LGBT. Ao lado do primeiro-ministro húngaro para uma declaração à imprensa, o presidente brasileiro disse que ambos comungam “na defesa da família com muita ênfase”. “Uma família bem estruturada faz com que sua sociedade seja sadia e não devemos perder esse foco”, disse Bolsonaro.
A passagem por Budapeste está sendo considerada por analistas brasileiros como um aceno do presidente Bolsonaro ao eleitorado mais conservador e uma forma de mostrar que ele não está isolado no cenário internacional. Mesmo a visita ao presidente russo Vladimir Putin foi vista dentro deste contexto. Na quarta-feira (16), em coletiva de imprensa ao lado do anfitrião russo, Bolsonaro disse que ambos possuem valores em comum: "a crença em Deus e a defesa da família".
"Guerra não interessa a ninguém", diz o presidente
Além da agenda conservadora, Bolsonaro e Orbán conversaram sobre a crise de segurança entre Rússia e Ucrânia, uma preocupação da Hungria por sua localização no leste europeu – o país faz fronteira com a Ucrânia e tem interesse em aumentar a importação de gás russo no intuito de evitar aumento dos custos de energia. “Trocamos informações sobre a possibilidade ou não de uma guerra entre a Rússia e a Ucrânia e passei para ele [Orbán] o sentimento que tive dessa viagem [a Moscou]”, afirmou o presidente brasileiro.
Bolsonaro voltou a salientar que parte das tropas russas na fronteira com a Ucrânia foram desmobilizadas quando a comitiva brasileira estava viajando para a capital russa, na terça-feira. “Entendo, sendo coincidência ou não, como um gesto de que a guerra não interessa a ninguém e não interessa ao mundo que dois países entrem em guerra porque perde todo o mundo”.
Bolsonaro fala de "desinformação" sobre Amazônia
A conversa com o presidente húngaro, porém, foi para outro lado. Bolsonaro foi questionado por János Áder sobre as políticas ambientais do Brasil de proteção da floresta amazônica.
“Muitas vezes as informações sobre essa região chegam fora do Brasil de forma bastante distorcida, como se fôssemos os grandes vilões no que se leva em conta a preservação da floresta e sua destruição, coisa que não existe”, reclamou o chefe de Estado brasileiro, afirmando que teve a oportunidade de esclarecer este ponto com Áder. “Essa desinformação é um ataque à nossa economia, que vem obviamente, em parte do agronegócio [europeu]”, disse.
Além das declarações, durante a visita oficial foram assinados memorandos de entendimento sobre cooperação no âmbito da defesa, ações humanitárias e gestão de recursos hídricos e saneamento das águas entre Brasil e Hungria.
“A passagem é rápida, mas deixa um grande legado para nossos povos”, conclui Bolsonaro, que se encontrará com o presidente da Assembleia Nacional húngara, László Köver, ainda nesta quinta (17), antes de voltar ao Brasil.
Relações do Brasil com a Hungria
Bolsonaro aproveitou a viagem à Rússia para fazer uma parada na Hungria, país do leste europeu comandado pelo primeiro-ministro Viktor Orbán, considerado por alguns analistas como um grande expoente conservador do velho continente, mas acusado por seus pares na União Europeia de ter conduzido uma deterioração da democracia no país.
Mas os interesses em comum vão além da pauta dos costumes. Recentemente, a Hungria assinou contrato de US$ 300 milhões para compra de duas aeronaves militares de transporte multimissão produzido pela Embraer, o KC-390, que devem ser entregues à força aérea húngara em 2024. A visita desta quinta buscou aprofundar essa cooperação em defesa, ciência e tecnologia entre os países.
"Nós compramos dois aviões da Embraer, cargueiros. E vamos incluir no nosso Exército. E vamos ampliar nosso Exército com ajuda do Brasil. Vamos considerar o Brasil como um país amigo e como um parceiro comercial", disse Orbán nesta quinta-feira (17).
Soma-se a isso o fato de que a Hungria, assim como o Brasil, é defensora da aprovação do acordo comercial entre Mercosul e União Europeia – que sofre resistências principalmente de França e Alemanha. A Hungria também apoia o ingresso do Brasil na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o clube dos países ricos.