O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chegou à Inglaterra nesta sexta-feira (5) para a coroação do rei Charles III, atual monarca inglês, marcada para sábado (6). Mais uma vez, a pauta ambientalista está na agenda do petista, que repete em solo britânico o discurso sobre a proteção da Amazônia e a necessidade de auxílio dos países desenvolvidos para a causa. Além disso, após as críticas devido às declarações dadas anteriormente sobre a Ucrânia, Lula novamente reafirmou que é preciso discutir a "paz no mundo".
O primeiro compromisso em solo europeu foi um encontro com o primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak. A reunião, que teve início às 16h (horário local), ocorreu na 10 Downing Street, residência e local de trabalho do premier britânico e, de acordo com o petista, tratou de assuntos como as relações comerciais entre os dois países, “proteção do meio ambiente e a paz no mundo”.
No mesmo encontro, Sunak informou que o Reino Unido doaria a quantia de 80 milhões de libras – cerca de R$ 499 milhões, na cotação atual – ao Fundo Amazônia. “O Reino Unido vai contribuir com cerca de meio bilhão de reais para o Fundo Amazônia para ajudar a combater o desmatamento e salvar a rica biodiversidade da região”, informou o governo britânico por meio de um comunicado. O país europeu se junta à Alemanha, Noruega e Estados Unidos, os quais também doaram para o Fundo neste ano.
As razões para doar dinheiro ao Fundo, porém, são mais profundas do que apenas a pauta ambientalista e a preocupação com a Amazônia. “As maiores economias do mundo integram o G7 – grupo que tem compromisso em reduzir a emissão de CO2 no Planeta –, mas são eles os responsáveis por grande parte do desmatamento que tanto procuram reverter”, pontua o especialista em gestão de riscos e em geopolítica Nelson Ricardo Fernandes, socio-fundador da Arp Digital Consulting.
O especialista afirma que os países desenvolvidos têm sua economia baseada no fomento à indústria que, em crescimento acelerado, é apontada como uma das maiores vilãs do meio ambiente. Na intenção de buscarem uma “compensação” pelo dano causado, essas potências investem em países ainda em desenvolvimento ou subdesenvolvidos para evitar o desmatamento nessas regiões.
Além disso, o Reino Unido também busca se manter “bem na fita” por causa do chamado Brexit, de acordo com a avaliação de Fernandes. “A Inglaterra não deixou a União Europeia pela porta da frente, por isso busca manter uma boa imagem econômica para outras nações "comprando" a pauta ambientalista. Para tal, nada melhor do que doar dinheiro para a Amazônia”, analisa.
No encontro desta sexta com o primeiro-ministro, Lula também reforçou o compromisso de zerar o desmatamento no Brasil até 2030. Essa não é a primeira vez que o petista adota tal discurso desde que tomou posse para o seu terceiro mandato. A máxima já foi repetida nos outros oito países que o mandatário brasileiro visitou nos últimos 125 dias desde que tomou posse. Além disso, o presidente brasileiro pediu mais financiamento climático aos países desenvolvidos e também responsáveis pelas emissões de gases-estufa.
“Os países ricos precisam cumprir os compromissos definidos nas COPs (conferência climática da ONU). Os países mais pobres precisam de ajuda para manter suas florestas em pé. Estou muito otimista e agradecido de estar aqui. Essa [agenda] bilateral [com a Inglaterra] é muito importante para nós”, disse o petista.
Lula volta a falar em discutir a “paz no mundo”
De acordo com Lula, ele e o premier inglês também discutiram a “paz no mundo”. Anteriormente, o petista foi alvo de críticas ao afirmar que a Ucrânia era corresponsável pela guerra que foi provocada pela Rússia há mais de um ano. Durante visita a Portugal no final do último mês, Lula tentou voltar atrás da alegação e negou ter “igualado” responsabilidades quanto ao conflito, mas voltou a fazer críticas à Ucrânia. “A Rússia não quer parar, a Ucrânia não quer parar”, afirmou o presidente recentemente.
No mesmo discurso feito em Portugal, Lula afirmou que o Brasil se manteria neutro e não pretendia apoiar nenhum dos dois países. Ainda que tenha falado sobre o desejo da “neutralidade”, as alegações de Lula o colocaram em uma posição favorável à Rússia na guerra.
Em um comunicado enviado à imprensa após o encontro de Lula e Sunak, o governo inglês afirmou que os dois “concordaram que a invasão da Rússia [à Ucrânia] foi inaceitável, assim como o assassinato de civis inocentes". A nota brasileira divulgada pelo Palácio do Planalto, no entanto, não faz menção à Ucrânia, segundo informações publicadas pelo jornal O Globo.
Para Fernandes, isso pode deixar o Brasil em cheque no que diz respeito às relações econômicas com outros países.“É interessante para o Brasil não ter restrições econômicas com outras nações e evitar se posicionar ideologicamente com algum bloco econômico, já que isso, consequentemente, influencia e [pode causar] dificuldade de negociações”, afirma.
Ele explica ainda que a Inglaterra tenta adotar uma postura parecida quando se apoia na agenda ambientalista.
Lula na coroação do rei Charles III
A cerimônia de coroação do rei Charles III acontece neste sábado (6). A agenda oficial para o evento, porém, teve início já nesta sexta com movimentações reais para encontrar líderes mundiais e receber chefes de Estado que vão assistir à solenidade – inclusive o mandatário brasileiro. Lula é um dos mais de dois mil convidados para a coroação.
Lula chegou a Londres na manhã desta sexta e se hospedou na suíte real do JW Marriot Hotel, no bairro de Mayfair, considerada uma área nobre da capital inglesa. O local escolhido pela delegação brasileira causou críticas pela “extravagância” adotada. De acordo com informações reveladas pela Band, a diária no hotel pode chegar a custar até 15 mil libras – cerca de R$ 95 mil. Um andar inteiro foi reservado para acomodar a delegação brasileira. O governo federal, no entanto, ainda não informou quem será responsável pelo pagamento da hospedagem.
Ainda que criticada, a presença de Lula na coroação é justificável na concepção do especialista em gestão de riscos e em geopolítica Nelson Ricardo Fernandes. Para ele, “é importante Lula estar lá [na Inglaterra] para manter a agenda e negociações com outros países, independentemente do que ele tenha dito sobre Rússia ou China anteriormente”, pontua.
Após o encontro com o premier inglês nesta sexta, Lula, na companhia da primeira-dama, Rosângela Silva, a Janja, participou de um jantar com o monarca britânico e outros chefes de Estado no Palácio de Buckingham, às 17h (horário local). Conforme revelou a assessoria do presidente, o encontro durou cerca de três horas. Pelo menos outros dez líderes participaram do evento.
A expectativa, conforme informa agenda oficial do presidente, é de que ele retorno ao Brasil no fim da noite de sábado, por volta das 19h, após participar da recepção do Ministro dos Negócios Estrangeiros, da Commonwealth e do Desenvolvimento do Reino Unido, James Cleverly, e da coroação do rei Charles III (às 11h, horário local). A agenda de Lula também prevê um comunicado à imprensa marcado para as 15h.
Triângulo Mineiro investe na prospecção de talentos para impulsionar polo de inovação
Investimentos no Vale do Lítio estimulam economia da região mais pobre de Minas Gerais
Conheça o município paranaense que impulsiona a produção de mel no Brasil
Decisões de Toffoli sobre Odebrecht duram meses sem previsão de julgamento no STF
Deixe sua opinião