Navio grego Boubalina é acusado pelo derrame do óleo que atingiu a costa nordestina.| Foto: Reprodução/TV Globo

Um mês depois do aparecimento de manchas de óleo cru na costa Nordeste do Brasil, as autoridades divulgaram nesta sexta-feira (1º) as primeiras informações concretas de autoria do maior desastre ambiental da história no litoral do país. Segundo a Polícia Federal, um navio grego foi identificado como suspeito a partir de técnicas de geointeligência e cálculos oceanográficos regressivos. Veja tudo que se sabe até o momento sobre a embarcação:

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Como as autoridades brasileiras chegaram ao navio?

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Com dados de geointeligência, a Polícia Federal identificou uma imagem satélite do dia 29 de julho relacionada a uma mancha de óleo a 733,2 km (cerca de 395 milhas náuticas) a leste do estado da Paraíba. Essa imagem foi comparada com imagens de datas anteriores, em que não foram identificadas manchas.

Considerando que análises de laboratório haviam indicado que o óleo coletado nas praias do Nordeste tinha como origem a Venezuela, as investigações trabalharam com dados de carga, portos de origem, rota de viagem e informações de armadores.

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Dos 30 navios suspeitos, um navio grego encontrava-se navegando na área de surgimento da mancha, na data considerada. Transportava 1 milhão de barris de óleo cru proveniente do terminal de carregamento de petróleo San José, na Venezuela, com destino à África do Sul. O cruzamento das imagens de satélite com os outros dados apontaram esse navio como principal suspeito.

A quem pertence o navio?

O navio do tipo Suezmax, com capacidade de transportar 1,1 milhão de barris, pertence à empresa grega Delta Tanker, fundada em 2006. O petroleiro se chama Boubalina e opera há 13 anos. Segundo o G1, o nome é uma homenagem a Laskarina "Bouboulina" Pinotsis, marinheira grega considerada uma heroína de guerra pela participação no movimento de independência da Grécia, no século 19.

A Marinha apurou que o Bouboulina ficou detido nos Estados Unidos por quatro dias, devido a "incorreções de procedimentos operacionais no sistema de separação de água e óleo para descarga no mar".

O jornal O Globo informou que o Bouboulina já prestou serviços a Petrobras, em 2011. Segundo a estatal, a Delta Tankers operou outros quatro navios para a Petrobras entre 2011 e 2013. No total, a empresa brasileira pagou US$ 9,4 milhões (R$ 37 milhões na cotação atual) nos contratos envolvendo a companhia grega.

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Qual foi o caminho da embarcação antes e depois do vazamento de óleo?

De acordo com a Polícia Federal, a embarcação da Delta Tankers atracou na Venezuela, no porto de José, em 15 de julho. O navio grego carregou 1 milhão de barris de petróleo cru tipo Merey 16 (uma mistura de óleo extra-pesado com vários diluentes). Três dias depois, seguiu rumo a Cingapura, pelo Oceano Atlântico, tendo passado próximo da costa da Paraíba no dia 28 de julho, quando o derramamento de óleo provavelmente aconteceu.

O Bouboulina aportou na Cidade do Cabo, na África do Sul, em 9 de agosto,depois continuou a jornada em direção ao estreito de Malaca, na Malásia. Em 3 de setembro, chegou à costa da Malásia.

Segundo o G1, durante todo este trajeto, o petroleiro estava com o AIS – o sistema de localização automático – ligado. Entre 3 e 13 de setembro, o navio transferiu a carga para outra embarcação, no sistema "ship-to-ship", com o AIS desligado. A Kpler informou que a embarcação que recebeu a carga é desconhecida.

Depois, o Bouboulina partiu rumo à Nigéria, para atracar no terminal Qua Iboe, e carregou novamente no dia 20 de outubro, e agora navega rumo à Balikpapan, na Indonésia.

Vazamento do navio grego foi acidente ou houve dolo?

De acordo com os investigadores, 2,5 mil toneladas de óleo foram derramadas no oceano. A Procuradoria do Rio Grande do Norte destacou que são fortes os indícios de que o Bouboulina tenha sido o navio envolvido com o vazamento de petróleo que gerou uma poluição marinha sem precedentes na história do Brasil. Também são grandes as suspeitas de que a Delta Tankers, o comandante do navio mercante e a tripulação deixaram de comunicar às autoridades acerca do derramamento de "petróleo cru" no Oceano Atlântico.

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A empresa responsável pelo petróleo poderá ser enquadrada em dois crimes ambientais, segundo o delegado da Polícia Federal Agostinho Cascardo. “São dois crimes: o crime que é de poluição, previsto no artigo 54, e que falta definir se é culposo ou doloso. Uma hipótese prevê pena de seis meses a um ano; a outra, de um a cinco anos.” O segundo crime seria o de deixar de cumprir algo que a lei ambiental determina. “No caso, foi deixar de informar o derramamento ou descarte de petróleo no mar.”

Na manhã desta sexta-feira (1º), a PF realizou buscas em dois endereços do Rio de Janeiro: da Lachmann Agência Marítima e da empresa Witt O Brien's. A Operação Mácula foi autorizada pelo juiz Francisco Eduardo Guimarães, da 14ª Vara Federal de Natal. As companhias poderiam fornecer informações sobre o petroleiro de bandeira grega, mas não são consideradas suspeitas.