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Teich em entrevista: “Não fui ministro da Covid. Fui da Saúde”. Ele pede revisão da cloroquina

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Em entrevista à Globo News, Nelson Teich,, ex-ministro da Saúde, defendeu a revisão do protocolo da cloroquina. (Foto: Evaristo Sá/AFP)

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Ministro da Saúde até o dia 15 de maio, Nelson Teich comentou neste domingo (24) a crise gerada pelo coronavírus no Brasil. Em entrevista à Globo News, ele deixou claro que teve divergências com o presidente Jair Bolsonaro na gestão da saúde. “Isso era público. Mas eu sempre sentei e conversei por mais difíceis que fossem as conversas”, disse Nelson Teich, que pediu demissão em menos de um mês no posto.

Médico oncologista e empresário do Setor de Saúde, o ex-ministro buscou reforçar a ideia de que a “avaliação adequada” de mortes deve ser por milhão de habitantes. “O Brasil deve estar em 106 por milhão. O Reino Unido tem 500, 600 por milhão”, disse. “Eu duvido que a mortalidade seja igual em todas as UTIs”, completou, ao dizer que se trata de uma doença ainda desconhecida.

Segundo Teich, como ministro da Saúde, ele precisou “olhar para o todo” e que não é possível mensurar o impacto que o coronavírus trará em longo prazo para outras doenças.

“São 23 mil mortes [por coronavírus no Brasil]. Isso é horrível, um sofrimento. Mas eu não fui ministro da Covid. Fui ministro da Saúde. No Brasil devem ter morrido 500 mil pessoas [de todas as causas no ano]. Então tenho que chorar por isso. Eu não posso deixar de ver as outras coisas. A redução de cirurgia oncológica foi de 70%. A quantidade de não encaminhados à radioterapia foi de 40%”, afirmou.

Cloroquina: a resposta em duas semanas

Nelson Teich afirmou que a insistência do presidente em mudar o protocolo da cloroquina “teve peso” em sua saída. Tanto que um dia após a saída do ministro, o Ministério da Saúde mudou o protocolo da cloroquina. Mas garante que não foi pressionado para assinar a mudança.

“Por mais problema que eu tivesse com ele (o presidente), não teria como me pressionar. Até porque eu não iria aceitar. E a opção por antecipar o uso [da cloroquina para pacientes com sintomas leves e moderados] é uma escolha. O presidente achava melhor antecipar. E eu achava que não, porque não há dado efetivo [sobre o medicamento]”, afirmou.

E foi além: “Não dá para deixar essa decisão na mão do médico”, disse.  Para Nelson Teich, a partir do momento em que a cloroquina foi “autorizada” por conselhos de Medicina para uso médico em casos de Covid, seria a “mesma coisa que recomendar”.

Pelo fato de não haver uma pesquisa que comprove a eficácia da cloroquina e hidroxicloroquina, o atual momento é para que o Ministério e conselhos de medicina revejam suas políticas, na avaliação de Teich. Ele defende que a revisão é necessária devido a um estudo publicado na sexta-feira (22) com 96 mil pacientes hospitalizados, que aponta maior risco de mortalidade nesse público, e de arritmias cardíacas, em comparação às pessoas que não receberam as substâncias.

“Tem vários estudos acontecendo. Eu acompanhava semanalmente. No Brasil devemos ter uma resposta em duas semanas e da OMS (Organização Mundial da Saúde) teremos em meados de junho”, defendeu.

Polarização do isolamento social

O ex-ministro lembrou que assumiu a pasta em um período em que a maior polêmica não era sobre a cloroquina – um dos motivos que o levou a deixar a pasta. “Era sobre isolamento social. E eu sempre falei pouco para evitar mais polarização. O silêncio veio para não piorar a polarização”, disse.

Durante a entrevista, Nelson Teich evitou criticar diretamente o presidente Jair Bolsonaro e dizer se é a favor do isolamento horizontal ou vertical. “Eu sou é a favor de um isolamento mais seletivo”, afirmou. Para ele, é preciso medir temperatura, verificar sintomas e encaminhar trabalhadores para não contaminarem o ambiente de trabalho. Nesse sentido, deixou claro que não há critérios claros do que são ou não serviços essenciais.

“Tem que ter um critério mapeado, inclusive sobre o que é um hospital de campanha. Estética é essencial? Não sei. Mas hoje não tem diagnóstico de câncer. Isso é essencial. É preciso critério. Planejamento”, criticou.

Ele relembrou que as decisões do isolamento social, atualmente, são dos governos estaduais são das prefeituras – algo decidido pelo Supremo Tribunal Federal. E chegou a ficar irritado ao dizer que estava tomando cuidado para que não “se coloque a culpa no presidente”. “Ele está preocupado com as pessoas. Mas a forma de comunicar é ruim”, avaliou.

Nelson Teich: Economia como vida e não como dinheiro

Segundo o ex-ministro, inicialmente havia o alinhamento com o presidente sobre a discussão da continuidade econômica. “A área da saúde cuida da economia também. Um erro é que se tratou economia como dinheiro, e não como vida”, afirmou.

Nesse sentido, Teich tentou lembrar uma “lição de administração comum”: o custo de oportunidade. “E quando eu digo que estou alinhado, é porque trato economia como gente, e não como dinheiro. O problema da economia é que, quando se toma uma decisão, somente se olha a o lado bom, e não olham para as perdas”, avaliou.

Em vários momentos da entrevista na Globo News, Teich se irritou com as perguntas. Falou que sua gestão foi sempre com base na “compaixão”. “Eu estive na linha de frente nos hospitais. Quando chega na sala dos pacientes mais graves, o ar é diferente. Você ver aquilo é algo muito diferente”, comentou, lembrando suas visitas a Manaus e ao Rio de Janeiro, duas das cidades mais atingidas.

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