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O presidente Jair Bolsonaro promoveu um concorrido almoço com senadores na última quarta-feira (7). Participaram do convescote parlamentares "neobolsonaristas" de partidos como PP, MDB, PSDB e DEM. O encontro não teve a presença dos senadores Major Olímpio (SP) e Soraya Thronicke (MS), ambos filiados ao PSL e eleitos com discurso bolsonarista em 2018.
A relação dos presentes (e a ausência de alguns) é uma demonstração de um processo que já está em curso há alguns meses e que tem se intensificado nas últimas semanas: a aproximação de Bolsonaro com forças "neobolsonaristas" que compõem o centro no Congresso Nacional. O governo tem ampliado o diálogo com grupos que até pouco tempo não compunham o chamado bolsonarismo e, por extensão, deixado de lado apoiadores "de primeira hora" do presidente da República.
Um processo que determinou com precisão o quadro foi a decisão de Bolsonaro de trocar seu líder e os vice-líderes do governo na Câmara. Em agosto, Vitor Hugo (PSL-GO) deu lugar a Ricardo Barros (PP-PR) — Hugo é um deputado de primeiro mandato, enquanto Barros figura entre os parlamentares mais experientes do Congresso.
Nas vice-lideranças, foram removidos em setembro nomes "ideológicos" como Carla Zambelli (PSL-SP), Carlos Jordy (PSL-RJ) e Caroline de Toni (PSL-SC) para dar lugar a deputados "neobolsonaristas" de nove partidos distintos, de forma a consolidar o novo cinturão de forças no entorno de Bolsonaro. No Senado e no Congresso, as lideranças já eram ocupadas por veteranos: respectivamente, os senadores Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE) e Eduardo Gomes (MDB-TO).
O fato de Bolsonaro estar próximo do Centrão que tanto atacou durante o período eleitoral desagrada a base mais fiel do presidente. Às críticas, Bolsonaro responde que precisa de apoio para governar o país e que é criticado por tudo o que faz — segundo ele, quando não dialogava com o Congresso era contestado, assim como recebe ataques agora que se aproxima de parlamentares de diferentes partidos, os "neobolsonaristas".
"Hoje, nós temos uma relação de absoluta reciprocidade entre governo e Parlamento. É um processo extremamente saudável", destacou o senador Chico Rodrigues (DEM-RR), vice-líder do governo no Congresso. Ele menciona a atuação do ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, como um elemento-chave para o alcance do novo status. Em julho, Ramos foi criticado nas redes sociais por um "bolsonarista raiz", o deputado Daniel Silveira (PSL-RJ), que acusou o ministro de realizar manobras para privilegiar o Centrão.
Um dos vice-líderes do governo na Câmara que chegou ao cargo em setembro, o deputado Giovani Cherini (PL-RS) define que o quadro se modificou "quando o presidente passou a valorizar o processo político, que depende de acordos, de diálogos".
"O Brasil é um país semiparlamentarista. Sem o Congresso, ninguém consegue governar. E agora o perfil do líder e dos vice-líderes na Câmara mudou completamente. Antes, a maioria deles era de primeiro mandato. Deputados bons, cheios de boas intenções, mas que não têm a experiência de quem tem mais mandatos", disse. "O governo como um todo percebeu a importância de diminuir a força nas extremidades", resumiu.
Cherini é um dos parlamentares "neobolsonaristas" que representa os novos pontos de apoio de Bolsonaro dentro do Congresso Nacional. Confira abaixo o perfil de outros integrantes do grupo:
Ricardo Barros (PP-PR)
No último dia 29, ao falar sobre propostas do governo Bolsonaro para a área econômica, o ministro da Economia, Paulo Guedes, declarou: "a economia está voltando aos trilhos. Com uma novidade, é que tem eixo político rodando".
O "eixo político" a que o ministro se referia poderia ser resumido na atuação do deputado Ricardo Barros como líder do governo na Câmara. O parlamentar assumiu a função em agosto e, desde então, tem dado outra dinâmica ao relacionamento entre governo e Parlamento. O modo de escolha dos vice-líderes, com as vagas distribuídas pelos diferentes partidos, é uma criação do paranaense.
O prestígio de Barros com Bolsonaro é tamanho que sua reputação com o governo não sofreu qualquer abalo após ser alvo de uma operação do Ministério Público do Paraná, em 16 de setembro.
Arthur Lira (PP-AL)
Se a declaração de Paulo Guedes simbolizou o ápice da parceria entre Bolsonaro e o Centrão, o momento que caracterizou o pontapé inicial do acordo teve outro deputado como protagonista: Arthur Lira. Em abril, Lira visitou o presidente no Palácio do Planalto e gravou um vídeo para as suas redes sociais. As imagens indicavam um novo tempo na relação entre as forças.
De lá até os dias atuais, Lira ganhou mais reputação com o governo — a ponto de ser considerado como um dos nomes que Bolsonaro gostaria de ver vencendo a eleição para a presidência da Câmara, agendada para fevereiro. O alagoano lidera uma bancada que reúne sete partidos e 155 deputados.
Márcio Bittar (MDB-AC)
O senador apoia Bolsonaro desde a corrida eleitoral de 2018. Mas sua influência no Congresso e sua importância para o governo têm crescido de forma significativa nos últimos tempos.
Márcio Bittar é o relator do Orçamento de 2021 e também relata duas propostas de emenda à Constituição (PECs) importantes para o governo, mais especificamente para o ministro Paulo Guedes: as do pacto federativo e a emergencial. É com Bittar que está o desafio de encontrar receita para a implantação do Renda Brasil, o programa social da gestão Bolsonaro.
Roberto Rocha (PSDB-MA)
O líder do PSDB no Senado esteve entre os presentes no almoço do último dia 7 e registrou o encontro em suas redes sociais. Mais do que isso: divulgou que está planejando uma ida de Bolsonaro a seu estado, o Maranhão.
Roberto Rocha tem sido importante para evitar o processo de rompimento entre o PSDB e o governo, ensaiado desde o início da gestão Bolsonaro, mas jamais concretizado — o partido tem ainda um vice-líder do governo no Senado, Izalci Lucas (DF). Além disso, Rocha é do mesmo estado do governador Flávio Dino (PCdoB), potencial adversário de Bolsonaro na disputa presidencial de 2022.
Marcos Pereira (Republicanos-SP)
Ele é deputado federal em primeiro mandato, mas tem relevância de veterano no Congresso. É o vice-presidente da Câmara e presidente nacional do Republicanos. Também não é exatamente um novo aliado de Bolsonaro, já que simpatiza com o governo desde o início, mas sua atuação tem ganhado mais peso para o chefe do Executivo, até pelo fato de seu partido abrigar dois filhos do presidente: o senador Flávio e o vereador Carlos.
Marcos Pereira, que é deputado por São Paulo, declarou na quinta-feira (9) que foi "sondado" por integrantes do governo para ser o titular de um possível Ministério do Desenvolvimento, que seria recriado após desmembramento do Ministério da Economia. Ele negou a oferta e disse que é pré-candidato à Presidência da Câmara.
Ciro Nogueira (PP-PI)
Presidente nacional do PP e um dos maiores expoentes do Centrão no Congresso. Na eleição de 2018 militou pela vitória de Fernando Haddad (PT) e do governador Wellington Dias (PT-PI). O passado, porém, não importa, e hoje Ciro Nogueira é forte apoiador de Bolsonaro. Somando Câmara e Senado, o PP tem 47 representantes no Congresso. É um contingente do qual Bolsonaro não quer abrir mão.
Além disso, Nogueira contribui para que Bolsonaro adquira popularidade no Nordeste, região em que o presidente teve seu pior desempenho eleitoral em 2018.
Quem ainda pode entrar no grupo dos "neobolsonaristas"
A entrevista do senador Renan Calheiros (MDB-AL) à CNN Brasil — em que ele elogiou Bolsonaro por ter "desmontado o estado policialesco" — abriu especulações sobre a possibilidade de o emedebista aderir ao movimento de "neobolsonaristas" recém-alinhados ao governo. Calheiros disputou a presidência do Senado em 2019 e foi derrotado em uma votação marcada por polêmicas. Anunciou oposição a Bolsonaro, mas teve atuação discreta ao longo dos últimos meses.
Agora, pode voltar aos holofotes. Ele tem promovido encontro de senadores com o desembargador Kassio Nunes Marques, indicado por Bolsonaro ao Supremo Tribunal Federal.
Quem também tem participado da organização de encontros é a senadora Kátia Abreu (PP-TO). A parlamentar foi ministra do governo de Dilma Rousseff (PT) e lutou contra o impeachment da petista, mas sua trajetória em Brasília, no início, era mais vinculada com a direita. Abreu é também representante do agronegócio, segmento próximo de Bolsonaro.