O diplomata Nestor Forster foi aprovado nesta quinta-feira (13) pela Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) do Senado como novo embaixador do Brasil nos Estados Unidos. Agora, a indicação segue para o plenário do Senado. Forster estava exercendo o cargo de encarregado de negócios da embaixada do Brasil em Washington – espécie de embaixador interino – desde junho de 2019, depois que o embaixador Sérgio Amaral foi removido do cargo.
Ele era cotado para a embaixada nos EUA desde o começo do mandato de Bolsonaro. Quando a vaga surgiu, cogitou-se imediatamente que Forster seria o substituto de Amaral.
Em julho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro começou a ser cogitado para o cargo, e Forster passou a ser visto como uma alternativa menos provável. Com a desistência formal do filho do presidente, em outubro, ele voltou a ser o favorito.
Eduardo foi mencionado logo no começo da sessão de intervenções dos senadores. O senador Espiridião Amin (PP-SC) iniciou sua fala fazendo uma referência ao filho do presidente: “Como é que estaria esta sala, o grau de estresse em que ela estaria, se o senhor estivesse fazendo o relato do primeiro inicialmente cogitado para esta indicação? Eu imaginei que a situação seria bem mais estressante”.
Na mesma sessão de Forster, o diplomata Hermano Telles Ribeiro, indicado para a embaixada do Brasil no Líbano, também foi sabatinado e teve seu nome aprovado pela CRE. O senador Nelsinho Trad (PSD-MS) foi o relator da sabatina dupla.
Forster quer “dar forma concreta” à “imensa energia” atual da relação Brasil-EUA
No ano passado, Nestor Forster foi quem ajudou a negociar a visita de Jair Bolsonaro ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em março. O embaixador enumerou as conquistas do governo brasileiro durante a visita, entre elas o apoio dos Estados Unidos ao ingresso do Brasil na OCDE, a designação do país como aliado extra-OTAN dos EUA, a assinatura do acordo de salvaguardas tecnológicas que permite a utilização pelos americanos da base de Alcântara, no Maranhão, para o lançamento de satélites, além do anúncio da inclusão do Brasil no Global Entry, um programa de simplificação da chegada de estrangeiros aos Estados Unidos.
“Nós do Itamaraty temos o hábito de exagerar um pouco as visitas presidenciais e dizer que houve uma mudança cósmica quando o presidente foi ao país. No caso da visita do presidente Bolsonaro em março do ano passado, eu queria dizer que não há exagero algum em dizer que foi, de fato, uma visita histórica.”
Forster celebrou a sintonia dos presidentes Trump e Bolsonaro, mas disse que é preciso “dar forma concreta a essa imensa energia que se verifica neste momento na relação bilateral”.
Para ele, não há subserviência na relação do Brasil com os Estados Unidos. “É uma relação de dois grandes países soberanos. É claro que os Estados Unidos são uma potência econômica, militar, e há um desnível de projeção poder. Isso é, até certo ponto, natural.”
Forster também criticou a ideia de que haja um “alinhamento automático” do Brasil com os Estados Unidos por conta da afinidade com Trump. “Tenho implicância com essa expressão”, disse. “O que existe é uma busca de aproximação com os Estados Unidos, sempre no interesse do Brasil.” Segundo Forster, “todos os grande países que deram saltos de desenvolvimento econômico e social nos últimos 50 anos, todos eles, sem exceção, tiveram uma relação especial com os Estados Unidos”.
Embaixador lista desafios na relação
Para o diplomata, há alguns desafios importantes na relação entre os dois países. Segundo ele, uma das prioridades imediatas é um acordo para evitar a bitributação (isto é, a tributação do comércio entre os dois países tanto nos EUA como no Brasil), que, segundo ele, é “uma demanda do setor privado que se arrasta há muito tempo”. “Isso teria grande alcance na facilitação do comércio entre os dois países”, afirmou. O embaixador também mencionou o desejo do Brasil de estabelecer um acordo de livre comércio com os Estados Unidos.
Há ainda, segundo Forster, algumas possibilidades de intensificação do comércio em diversas áreas, como a agricultura. “O Brasil ainda participa de forma muito tímida do mercado agrícola americano. Temos que vender mais para os americanos, temos oportunidades grandes. Na área de frutas, por exemplo, há uma vocação natural do Nordeste e do Norte do Brasil. A demanda é grande por frutas diferentes, frutas exóticas”, afirmou.
Outro tema abordado como uma preocupação pelo novo embaixador foi o aumento do número de brasileiros deportados nos Estados Unidos. Em 2019, cerca de 18 mil brasileiros foram encontrados sem documento pelo governo norte-americano, aproximadamente dez vezes mais do que no ano anterior.
Aproveitando a sua presença no Congresso, Forster destacou ainda a importância da diplomacia parlamentar, isto é, do contato entre parlamentares do Brasil e dos Estados Unidos. "Não é uma questão somente simbólica. Isso permite o intercâmbio de informações sobre questões substantivas de projetos de lei, às vezes mais complexos, nos quais a troca de experiência entre parlamentares pode ser muito frutífera para os dois lados.”
Quem é Nestor Forster
Nestor Forster é diplomata do Itamaraty desde 1985, mas só em junho de 2019 foi promovido a ministro de primeira classe. Desde 1992, ocupou vários cargos diferentes nos EUA. Em Washigton, foi chefe do setor de política comercial entre 1992 e 1995 e chefe do setor financeiro entre 2003 e 2006. Comandou os consulados de Nova York (2016 a 2017) e de Hartford (2009 a 2013), ambos nos Estados Unidos. Entre janeiro de 2017 e junho de 2019, ocupou a embaixada do Brasil em Washington como ministro conselheiro.
No fim do ano passado, ele foi o responsável por prestar esclarecimentos nos EUA sobre a recente polêmica das queimadas na Amazônia. Nas vésperas do discurso de Bolsonaro na Assembleia Geral da ONU, em Nova York, deu entrevistas a meios estrangeiros para tirar dúvidas sobre a questão.
Forster trabalhou como oficial de gabinete da Subsecretaria-Geral da Presidência da República no governo do ex-presidente Fernando Collor, que hoje é senador (PROS-AL) e estava presente na sabatina. Também já foi chefe de gabinete de Gilmar Mendes, entre março de 2001 e junho de 2002, quando o atual ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) era o advogado-geral da União, durante o governo FHC.
Gilmar e Forster são coautores do Manual de Redação da Presidência da República, um guia com recomendações sobre o uso da linguagem no poder público brasileiro. O livro foi publicado pela primeira vez em 1991 e está em sua terceira edição.
O novo embaixador do Brasil nos EUA é amigo pessoal de Olavo de Carvalho há muitos anos. Em agosto, quando Olavo recebeu a Grã-Cruz da Ordem de Rio Branco, Forster discursou na cerimônia de entrega da honraria, em Washington. Chamou o filósofo de “querido amigo” e disse que ele “preenche com sobra os critérios fixados no regulamento da Ordem de Rio Branco, de ‘serviços ou méritos excepcionais’ ao Brasil”.
Destacou a contribuição de Olavo de Carvalho à filosofia e à cultura brasileira e sua “generosidade de caráter” e “bondade absolutamente extraordinárias”, afirmando que Olavo está “sempre pronto a ajudar o próximo, mesmo com sacrifício pessoal”. Para ele, o professor “venceu a ditadura esquerdista que dominava a vida intelectual brasileira até poucos anos atrás, fingindo possuir o monopólio do que poderia ser pensado”.
Forster é católico e parece ter interesse especial por tradições da Igreja que se tornaram menos correntes entre os fiéis depois dos anos 1960. Ele pratica canto gregoriano e traduziu para o português o livro "Tesouro da Tradição: Guia da Missa Tridentina", de Lisa Bergman.
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