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Médica diz ter sido suspensa do Einstein por defesa de hidroxicloroquina e fala sobre judeus

A médica Nise Yamaguchi, em entrevista ao SBT na noite de sexta-feira (10). (Foto: Reprodução/SBT)

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A imunologista e oncologista Nise Yamaguchi disse que foi suspensa do Hospital Israelita Albert Einstein, de São Paulo, por defender o uso de hidroxicloroquina em pacientes com coronavírus e por uma fala sobre os judeus na época do Holocausto.

Defensora do uso precoce da hidroxicloroquina, já nos primeiros dias de sintomas de Covid-19, a médica fez parte de um gabinete de crise do governo federal para o combate ao coronavírus e chegou a ser cotada para assumir o Ministério da Saúde na época da demissão de Luiz Henrique Mandetta.

Em resposta às declarações da médica, o hospital disse admitir que ela adote entendimento próprio sobre o atendimento a pacientes ou à postura diante da pandemia, "desde que observe as regras relacionadas ao uso da sua condição de integrante do Corpo Clínico em sua comunicação".

Mas, de acordo com o hospital, a imunologista "estabeleceu analogia infeliz e infundada entre o pânico provocado pela pandemia e a postura de vítimas do Holocausto", manifestação que segundo o Albert Einstein ainda passa por uma averiguação "que deve ser breve" (leia a nota completa do hospital ao fim do texto).

A defesa da hidroxicloroquina

Em entrevista ao SBT na noite de sexta-feira (10), Nise Yamaguchi disse que está impedida de prescrever aos pacientes e atender os internados no hospital. "Recebi uma ligação hoje do diretor clínico me informando de que não poderia exercer minhas funções no hospital, prescrevendo nem atendendo pacientes já internados", disse ela ao jornalista Roberto Cabrini.

"Eles acreditam que a minha fala sempre em prol da hidroxicloroquina, que eles consideram que não tenha fundo científico, denigre o hospital", prosseguiu. "Insistindo que esse remédio pode curar pessoas, eu estaria indo na contramão daquilo que o hospital, com seus médicos, com seu corpo científico, decidiu."

No fim de junho, o Albert Einstein comunicou que estava recomendando aos seus médicos que não prescrevessem medicamentos à base de cloroquina para o tratamento da Covid-19, diante da falta de evidência científica da eficácia da substância.

Dias antes, a Food and Drug Administration (FDA) – agência norte-americana que regula alimentos e medicamentos – revogou autorização emergencial para o uso de cloroquina e hidroxicloroquina no tratamento de pacientes com coronavírus, por considerar improvável que elas fossem eficazes contra a doença.

A declaração sobre judeus no Holocausto

Após falar ao SBT, Nise Yamaguchi acrescentou outra razão para a suspensão de suas atividades no Einstein. Em videoconferência com outros médicos, cujo vídeo tem sido compartilhado por redes sociais, ela disse ter sido suspensa também por uma declaração que deu em uma transmissão ao vivo pela internet.

"Eu falei numa live que estava muito preocupada com o sofrimento das pessoas que estão em casa, privadas da sua liberdade, e que os pacientes estão morrendo de doenças outras. E que, durante a época do Holocausto, os judeus eram enganados por propagandas de que iam ter empregos e iam alegremente de trem até os centros de dizimação. Situações horríveis", disse na videoconferência.

"A comunidade judaica e o Einstein estavam usando isso para dizer que eu fui superficial com um sofrimento que foi tão grande. Falei: 'De jeito nenhum, tenho maior respeito pela comunidade judaica e me parece isso uma coisa que não procede. E acho muito estranho que vocês tomam uma atitude unilateral sem me consultar, sem saber minha opinião'", afirmou a médica na conversa com colegas.

A resposta do Hospital Albert Einstein

Procurado pela Gazeta do Povo, o Hospital Israelita Albert Einstein encaminhou a seguinte nota:

"Com relação a declarações prestadas pela Dra. Nise Yamagushi, o Hospital Israelita Albert Einstein tem a esclarecer o seguinte:

1. O hospital respeita a autonomia inerente ao exercício profissional de todos os médicos, jamais permitindo restrições ou imposições que possam impedir a sua liberdade ou possam prejudicar a eficiência e a correção de seu trabalho.

2. A Dra. Nise Yamagushi faz parte do corpo clínico do Hospital, sendo admissível que perfilhe entendimento próprio com relação ao atendimento de seus pacientes ou à sua postura em face da pandemia ora combatida, desde que observe as regras relacionadas ao uso da sua condição de integrante do Corpo Clínico em sua comunicação.

3. Trata-se, contudo, de hospital israelita e a Dra. Nise Yamagushi, em entrevista recente, estabeleceu analogia infeliz e infundada entre o pânico provocado pela pandemia e a postura de vítimas do holocausto ao declarar que “você acha que alguns poucos militares nazistas conseguiriam controlar aquela MASSA DE REBANHO de judeus famintos se não os submetessem diariamente a humilhações, humilhações, humilhações…”.

4. Como se trata de manifestação insólita, o hospital houve por bem averiguar se houve mero despropósito destituído de intuito ofensivo ou manifestação de desapreço motivada por algum conflito. Durante essa averiguação, que deve ser breve, o hospital não esperava que o fato viesse a público.

A expectativa do hospital é a de que o incidente tenha a melhor e mais célere resolução, de modo a arredar dúvidas e remover desconfortos."

Atualização

Este conteúdo foi atualizado para incluir o posicionamento do Hospital Israelita Albert Einstein a respeito das declarações da médica Nise Yamaguchi. No momento da publicação do texto, o hospital ainda não havia se manifestado.

Atualizado em 11/07/2020 às 16:17

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