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O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou na tarde deste sábado (4), durante a sua concorrida palestra na Conferência Anual de Ação Política Conservadora (CPAC, na sigla em inglês), nos arredores de Washington, que a sua missão “não acabou” e que a esquerda, temerosa da sua ascensão, sempre o viu como um “alvo a ser abatido”. “Apesar de tudo, ainda sou o ex(-presidente) mais amado do Brasil”, brincou.
Num discurso sintonizado com o público do evento, formado por filiados do Partido Republicano e simpatizantes do ex-presidente Donald Trump, ele enalteceu valores da América, narrou a sua trajetória vitoriosa nas urnas de 2018, listou feitos que impulsionaram a sua popularidade, questionou a obrigatoriedade da vacinação contra a Covid-19, lançou dúvidas sobre os resultados das últimas eleições presidenciais, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, e criticou a agenda de governos de esquerda.
“Não é fácil ser político, ainda mais quando se quer honrar a palavra e ajudar o povo. Agradeço a Deus pela minha segunda vida, pela missão de ser presidente do Brasil por um mandato. Mas sinto que essa missão ainda não acabou”, afirmou Bolsonaro no palco ilustrado com telões que exibiam imagens dele cercado de multidões em vídeos de comícios e motociatas.
Para ele, os políticos conservadores de todo o mundo defendem algo básico: a família, lutando contra a ideologia de gênero, para que as filhas cresçam à semelhança das mães e os filhos, dos pais. E completou esse ideário com a defesa da vida desde a concepção, contra o aborto. Em referência às primeiras invasões do MST sob gestão do PT, o ex-presidente afirmou que “a propriedade privada, pilar da democracia, está ameaçada no Brasil”.
Quanto ao “novo velho governo” de Lula, lamentou que a primeira medida tomada por ele foi justamente acabar com suas iniciativas, a exemplo da flexibilização do porte de armas. “No meu governo, liberei ao máximo dentro dos limites da lei, as regulações de porte de armas. Em quatro anos, o número de mortes por armas de fogo diminuiu em um terço”, discursou. “Povo armado jamais será escravizado e país armado nunca será subjugado”, concluiu, sob aplausos da plateia.
Ao defender a liberdade de expressão como essencial à democracia, Bolsonaro expôs diferenças com o governo Lula. “Com toda a certeza fui o político mais atacado na grande mídia, mas, mesmo assim, nunca tomei uma medida contra ela. É melhor ter uma imprensa que erra, do que uma calada”, disse. Em contraponto, condenou “a sanha no mundo inteiro” por se controlar as mídias sociais. “Para mim, o melhor controle é dar ainda mais liberdade”, sublinhou.
Ele aproveitou ainda para criticar um tema que opôs recentemente os governos do Brasil e dos Estados Unidos, com a autorização de Lula para a atracagem de navios de guerra iranianos. “Se fosse eu o presidente, não teria esse problema”, provocou.
Aceno à parceria com os EUA
Em busca de parceria estratégica de seu PL com o Partido Republicano, o ex-presidente fez questão de declarar admiração e pelos EUA e seu povo (“a terra dos bravos, da liberdade, do progresso e da ordem”) e de classificar como “excepcional” o seu relacionamento pessoal com o colega Donald Trump, principal estrela do CPAC e que falará no seu encerramento. “Sempre defendi a liberdade, não obriguei ninguém a tomar vacina no Brasil”, declarou.
Bolsonaro afirmou que o fenômeno da migração de cidadãos de estados americanos governados por democratas para outros governados por republicanos se repete no Brasil, com gente saindo de lugares dominados pela esquerda para outros sob gestão do centro ou da direita. “É natural que as pessoas busquem melhores condições de vida. Com isso podemos dizer quem está certo? Nós [direita] ou eles [esquerda]?”
Contou que veio de família pobre e jamais esperava ser presidente, mas decidiu “encarar o desafio” de buscar a Presidência, após duas décadas de Exército e quase três de parlamento, quando viu “uma comunista ser reeleita” [Dilma Rousseff]. Sob o lema bíblico de “conhecerei a verdade e a verdade vos libertará”, disse ter vencido o pleito quando ninguém acreditava.
Em um breve balanço de seu governo, Bolsonaro disse que, juntamente com um ministério formado por pessoas capacitadas, fez a sua parte ao longo de quatro anos que foram marcados pela pandemia e por um conflito militar de Rússia e Ucrânia com reflexos negativos de todo o mundo. “Os números da economia mostraram que fomos expoentes”, disse. Lamentou que o Brasil seja “nação muito rica, mas que não se desenvolvia” porque “populismo, corrupção e comunismo sempre dominaram a política”.
Usando as imagens refletidas nos telões, Bolsonaro disse que ali estava a prova de que teve muito mais apoio em 2022 do que em 2018. “Por isso não sei porque os números [das urnas] mostraram o contrário”, disse, lançando dúvidas sobre os resultados. Indiretamente, justificou o fato por não ter aceitado ir “para o outro lado da Esplanada, onde minha vida seria mais facilitada”, numa referência indireta a acordos com o Judiciário.
“Preferi ficar do lado dos meus princípios, de Deus e do povo brasileiro. A coerência é que marca as nossas vidas”, pontuou. Nesse ponto, fez questão de lembrar que foi o último presidente do mundo a reconhecer a eleição de Joe Biden.
Apesar de sua derrota na eleição, Bolsonaro afirmou ter “plantado muitas sementes”, a começar do maior interesse da população pelas questões políticas e um aumento do patriotismo. “Elegemos deputados, senadores e governadores que eram desconhecidos, mas de grande potencial”, disse. “O poder emana do povo, mas o povo precisa de lideranças fiéis a ele”.
Por fim, reforçou a importância do Brasil para o mundo, como garantidor da segurança alimentar de um bilhão de pessoas e dono de incomparáveis riquezas minerais, além de abundância de recursos hídricos e da Amazônia, “que é nossa”.