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Um dia após a polêmica sobre uma nova Constituição para o Brasil, o Palácio do Planalto procurou se desassociar da ideia defendida por seu líder na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), e colocou na conta do deputado o desgaste com tal proposta. Na segunda-feira (26), Barros disse em um evento organizado pela Academia Brasileira de Direito Constitucional (ABDConst) que o país deveria convocar uma Assembleia Nacional Constituinte para escrever uma nova Constituição. Interlocutores do governo afirmam que o Planalto foi surpreendido com a declaração e que o deputado "viajou na maionese".
O governo Jair Bolsonaro quer distância do assunto para evitar envolvimento em mais uma polêmica desnecessária. Enquanto Barros considerou que a “repercussão da proposta foi boa”, o Planalto foi na contramão. “Repercussão zero”, disse um interlocutor da articulação política, área encabeçada pela Secretaria de Governo da Presidência da República.
A sugestão de Barros caiu como uma ingrata surpresa no Planalto. Afinal, após a enxurrada de críticas, o Executivo sabe o quão sensível é ter um líder do governo defendendo uma mudança tão radical na Carta Magna. Sabe também ser difícil convencer os meios político, jurídico e empresarial a separar o que pensa a Presidência da República da opinião de seu representante na Câmara. Principalmente a oposição no Congresso, além de parlamentares e parte da sociedade civil menos afeita à figura do presidente Jair Bolsonaro.
Os auxiliares envoltos com a articulação política no Planalto reconhecem, portanto, um certo constrangimento, a ponto de deixarem claro que a fala de Barros nada tem a ver com a Presidência. “Ninguém entendeu nada, ele [Ricardo Barros] não conversou com ninguém”, afirma um técnico. “Tirou da cabeça dele, isso não tem nada a ver com o governo, com o ministro Ramos, com a Secretaria de Governo, com presidente, com nada”, diz outro. A Secretaria Especial de Comunicação Social (Secom) informou que o Planalto não vai se manifestar sobre a proposta de uma nova Constituição.
Barros considera que repercussão sobre nova Constituição "foi boa"
A linha adotada no Planalto entre assessores é que Barros “viajou na maionese”. E, para eles, piora quando o próprio líder do governo mantém firme o posicionamento de sua fala. À coluna do jornalista Chico Alves, do UOL, Barros nesta terça-feira (27) disse que a “repercussão foi boa” e garante ter recebido “vários apoios de quem não seria atingido com o fim dos privilégios”.
Ele, no entanto, defendeu a si e ao Planalto. “Falei ‘eu pessoalmente defendo um plebiscito’, não falei em nome do governo e deixei para a decisão popular. Qual o motivo dessa reação?”, ponderou ao colunista.