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O partido Novo apresentou uma denúncia ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) contra os desembargadores Airton Vieira e Marco Antônio Martins Vargas, por supostamente agirem em cumprimento a ordens ilegais do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes.
O pedido do Novo tem relação com revelações feitas pela Folha de São Paulo, esta semana, que apontam que Moraes teria usado o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) como braço investigativo paralelo contra apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no STF.
Em 2022, Moraes era o presidente do TSE. Os relatórios produzidos na Corte eleitoral teriam sido utilizados para subsidiar o inquérito das fake news no STF em casos relacionados ou não às eleições presidenciais.
Na época, Tagliaferro comandava a Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação (AEED) do TSE.
A Folha teve acesso a mais de 6 gigabytes de mensagens e arquivos trocados via WhatsApp entre assessores do ministro que atuam ou atuavam tanto na equipe do Supremo quanto do TSE.
"Os abusos cometidos pelo ministro Alexandre de Moraes e seus assessores, conforme revelado pela ‘Vaza Toga’, representam uma grave ameaça ao Estado de Direito e um abuso inaceitável de poder”, disse o deputado Marcel van Hattem (Novo-RS) em nota enviada à Gazeta do Povo, nesta sexta-feira (16).
“Não podemos tolerar que a Justiça seja usada como instrumento de perseguição política. A atuação arbitrária e fora dos limites legais, como demonstram as mensagens expostas, é uma clara violação das garantias fundamentais que sustentam nossa democracia”, completou o parlamentar.
Na representação contra os desembargadores, o Novo pede a instauração de um processo administrativo disciplinar e a “punição severa dos envolvidos, conforme o Regulamento Geral da Corregedoria Nacional de Justiça”.
PGR arquiva pedido de investigação contra Moraes
Também na quinta-feira (15), o procurador-geral da República, Paulo Gonet, arquivou um pedido do partido Novo para que Moraes fosse investigado por falsidade ideológica e formação de quadrilha.
De acordo com Gonet, “não há fundamento” nas acusações do partido. O Novo também pedia que fossem investigados o juiz auxiliar da Corte, Airton Vieira, e o ex-assessor-chefe da AEED, Eduardo Tagliaferro.
"É lamentável que o Procurador-Geral não tenha se declarado impedido, uma vez que ele se pronunciou publicamente em defesa de Moraes antes de tomar a sua decisão nos autos. O Novo está trabalhando firmemente para que o caso seja investigado de forma isenta e com seriedade em todas as vias, inclusive no Congresso Nacional. Não podemos deixar de defender e lutar pela justiça e pelo respeito à Lei e à liberdade de expressão no nosso país", disse o presidente do Novo, Eduardo Ribeiro, ao comentar a decisão de Gonet.
Perseguição judicial
Trocas de mensagens entre servidores do STF e do TSE, obtidas pela Folha de S. Paulo, mostraram que o gabinete de Alexandre de Moraes teria ordenado informalmente à Justiça Eleitoral a produção de relatórios contra apoiadores de Bolsonaro e comentaristas de direita para embasar decisões do ministro em inquéritos em andamento na Suprema Corte.
A troca de mensagens sugere que houve supostamente adulteração de documentos, prática de pesca probatória, abuso de autoridade e possíveis fraudes de provas.
Os alvos escolhidos sofreram bloqueios de seus perfis nas redes sociais, apreensão de passaportes, intimações para depoimento à PF, entre outras medidas. Todos os pedidos para investigação e produção de relatórios eram feitos via WhatsApp, sem registros formais.
As conversas vazadas envolveram Airton Vieira, o juiz instrutor de Moraes no STF, Marco Antônio Vargas, seu juiz auxiliar na presidência no TSE, e Eduardo Tagliaferro, o chefe da AEED - o órgão era subordinado a Moraes na corte eleitoral.
As mensagens e áudios ocorreram entre agosto de 2022 e maio de 2023 e mostram perseguição aos jornalistas Rodrigo Constantino e Paulo Figueiredo, à Revista Oeste, ao deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), entre outros nomes de direita.
Em nota enviada à Gazeta do Povo, o gabinete do ministro Alexandre de Moraes negou qualquer irregularidade nas requisições dos relatórios. Moraes argumenta que o TSE, "no exercício do poder de polícia, tem competência para a realização de relatórios sobre atividades ilícitas".