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Cenário eleitoral

O que as pesquisas mostravam um ano antes da eleição de 2018; e o que isso diz sobre 2022

Bolsonaro e Lula, os dois principais pré-candidatos para 2022. (Foto: Alan Santos/Palácio do Planalto e Ricardo Stuckert/PT)

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Faltando um ano para as eleições de 2 outubro de 2022, pesquisas de diversos institutos mostram o mesmo cenário: o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lidera a corrida presidencial, seguido pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) – e ambos têm grande vantagem em relação aos demais pré-candidatos. Mas como as pesquisas são "retratos do momento", é possível que haja alterações significativas até as vésperas da eleição de 2022. Há exatos quatro anos, por exemplo, levantamentos de intenção de voto em que Lula não era colocado como candidato – ele acabou não concorrendo em 2018 – davam a liderança para a ex-senadora e ex-ministra Marina Silva (Rede). Ela terminou a disputa de 2018 em 8.º lugar.

Um ano antes da eleição de 2018, o cenário era de grande incerteza. Lula era o favorito, segundo as pesquisas. Mas havia sido condenado pelo então juiz da Lava Jato Sérgio Moro, em julho de 2017, no processo do triplex do Guarujá. E já havia a possibilidade de que viesse a ser condenado em segunda instância e, assim, se tornar inelegível – a condenação acabou ocorrendo em janeiro de 2018.

Por causa dessa incerteza sobra a candidatura de Lula, as pesquisas simulavam cenários com e sem o petista. Bolsonaro já mostrava que seria um candidato forte, ficando em geral na segunda posição, nessas duas circunstâncias, com intenções de voto que variavam entre 16% e 19% – ele viria a vencer o primeiro turno com 46%.

Mas, nos levantamentos sem Lula, quem mais se beneficiava um ano antes da eleição era Marina Silva. Embora filiada à Rede, ele se tornou uma política com expressão nacional no PT. E, por isso, "herdava" grande parte dos votos que seriam de Lula. Além disso, Marina era a pré-candidata para 2018 mais bem colocada na eleição de 2014 (ficou em terceiro, atrás apenas de Dilma Rousseff e Aécio Neves – que não iriam concorrer a presidente). Por isso, ela tinha o que se chama de "recall" (lembrança) do eleitor.

Especialistas afirmam que, um ano antes de uma eleição, candidatos conhecidos costumam ter mais intenção de voto do que aqueles que não tem esse recall. Ou seja, nomes menos conhecidos não pontuam bem em pesquisas feitas tanto tempo antes da eleição, mas podem ter potencial de crescer quando a campanha efetivamente começa. Foi o que ocorreu com Fernando Haddad (PT), que viria a disputar o segundo turno de 2018. Um ano antes, ele tinha apenas entre 2% e 3% das intenções de voto.

Números do Datafolha de um ano antes da eleição; e o resultado do 1.º turno

Levantamento do Datafolha divulgado em 29 de setembro de 2017, por exemplo, mostrava várias simulações com e sem Lula na disputa. Veja dois desses cenários (que incluem Chico Alencar como candidato do Psol; quem acabou concorrente pelo partido foi Guilherme Boulos). E, na sequência, confira como foi o resultado do primeiro turno de 2018:

Cenário com Lula para 2018

  1. Lula (PT) 35%
  2. Jair Bolsonaro (PSL) 17%
  3. Marina Silva (Rede): 13%
  4. Geraldo Alckmin (PSDB): 8%
  5. Ciro Gomes (PDT): 4%
  6. Alvaro Dias (Podemos): 4%
  7. Henrique Meirelles (MDB): 2%
  8. Chico Alencar (Psol): 1%

Cenário sem Lula para 2018

  1. Marina Silva (Rede): 22%
  2. Jair Bolsonaro (PSL): 19%
  3. Geraldo Alckmin (PSDB): 9%
  4. Ciro Gomes (PDT): 9%
  5. Alvaro Dias (Podemos): 5%
  6. Fernando Haddad (PT): 3%
  7. Henrique Meirelles (MDB): 2%
  8. Chico Alencar (Psol): 2%
  9. João Amoêdo (Novo): 1%

Resultado do primeiro turno de 2018

  1. Jair Bolsonaro (PSL): 46,03 %
  2. Fernando Haddad (PT): 29,28 %
  3. Ciro Gomes (PDT): 12,47
  4. Geraldo Alckmin (PSDB): 4,76%
  5. João Amoêdo (Novo): 2,50%
  6. Cabo Daciolo (Patriota): 1,26%
  7. Henrique Meirelles (MDB): 1,20%
  8. Marina Silva (Rede) 1%

O que as pesquisas de 2018 dizem sobre a eleição de 2022

Diretor do Instituto Paraná Pesquisas, Murilo Hidalgo diz que o cenário para 2022 pode mudar até que as campanhas sejam oficialmente lançadas, em meados do ano que vem.

"As eleições estão muito longe e as pesquisas de agora refletem o momento atual. As pesquisas das eleições em que o Lula perdeu para o FHC [o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em 1994 e 1998], neste momento, a um ano das eleições, indicavam que o Lula estava à frente. Há quatro anos o Lula também estava à frente; e no final ele nem foi candidato”, diz Hidalgo.

De acordo com o diretor do Paraná Pesquisas, os levantamentos prévios tentam mensurar o momento político do país. “As pesquisas servem para aquecer as eleições. Há um ano, quando tinha o auxílio emergencial, Bolsonaro liderava. Agora já mostra uma tendência de queda. Então o levantamento serve como um medidor de momento”, completa Hidalgo.

Contudo, o cientista Paulo Loiola, analista da consultoria política Baselab, vê dificuldade para o cenário de polarização entre Bolsonaro e Lula ser rompido para a eleição de 2022. De acordo com ele, enquanto Lula consegue se consolidar como candidato, o atual presidente mantém base eleitoral suficiente para levá-lo ao segundo turno.

“Neste momento, o que se reforça é polarização. O que o cenário vem mostrando é um espaço menor para a terceira via e que esse espaço é muito heterogêneo. Apesar de ter um grupo que não quer nem Lula nem Bolsonaro, a gente tem um problema entre esse grupo, que é a divisão. Existe um sentimento pró-Moro, Pró-Ciro, um grupo que defende alguém fora do sistema e tudo mais. Esses movimentos não conversam entre si, não dialogam. A própria posição do Ciro, se consolidando no terceiro lugar, dificulta o surgimento de um novo ator, pois ficam naquela expectativa se o Ciro vai crescer ou não”, afirma Loiola.

Ainda de acordo com o cientista político, as manifestações do dia 12 de setembro, convocadas por movimentos de centro-direita e com participação de pré-candidatos da terceira vi,a só fortaleceram Bolsonaro e Lula. Com as manifestações do 12 de setembro o que aconteceu foi que a direita não bolsonarista – ligada ao MBL, Livres, Vem Pra Rua – demonstrou que não tem capacidade de liderar a oposição. Quem sai fortalecido dessa ultimas manifestações é justamente Lula e Bolsonaro”, afirma.

Para Loiola, enquanto Lula e o PT lideram a oposição, Bolsonaro conseguiu fortalecer a sua base de apoiadores. “Lula vem se consolidando no primeiro lugar e com o fracasso das manifestações do dia 12, ficou nítido que quem tem capacidade de liderar a oposição é cada vez mais o PT e a esquerda. Ao mesmo tempo, Bolsonaro, com as manifestações do 7 de Setembro e com o fracasso das do dia 12, conseguiu inflamar a sua própria base.”

Metodologia da pesquisa citada na reportagem

Em setembro de 2017, o Datafolha realizou 2.772 entrevistas presenciais em 194 municípios brasileiros, com margem de erro de 2 pontos percentuais.

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