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Balanço de 2019

Foco nas cidades e polêmicas do tamanho da Amazônia: o que Bolsonaro fez no meio ambiente

O que Bolsonaro fez no meio ambiente em 2019
As queimadas na região da Amazônia foram a grande questão do meio ambiente no primeiro ano da gestão de Jair Bolsonaro. (Foto: João Laet/AFP)

Não havia dúvidas de que as ações ambientais seriam diferentes no governo do presidente Jair Bolsonaro. Mas, em tempos em que a economia é a grande preocupação, poucos apostariam que o meio ambiente seria assunto por trás da instabilidade política enfrentada pelo presidente. O debate na área foi marcado por uma escalada da animosidade entre integrantes do próprio governo e organizações da sociedade civil. A situação de queimadas e desmatamento da Amazônia coroou uma crise que chegou até o exterior.

Antes mesmo de ser eleito presidente, Bolsonaro colecionava declarações polêmicas sobre a política ambiental. Durante a montagem de seu governo, antes da posse, até a existência do Ministério do Meio Ambiente ficou na berlinda – ele cogitou fundir a pasta com a da Agricultura, mas mudou de ideia devido a pressões.

O ministro escolhido para o cargo, Ricardo Salles, também ficou nos holofotes. Sua gestão começou com o discurso de priorizar o “meio ambiente urbano”, passou pela promessa de acabar com a "indústria das multas ambientais" e chegou a questionamentos sobre dados do próprio governo sobre queimadas e desmatamentos na Amazônia.

Veja como foi o primeiro ano do governo Bolsonaro no meio ambiente:

Queimadas: tendência era de alta, mas ação do governo conteve focos

O debate ambiental no país alcançou outro patamar em 2019 por causa do aumento no número de focos de queimadas na região da Amazônia Legal, principalmente os registrados em agosto. O episódio chamou a atenção do mundo todo para as escolhas que estavam sendo feitas pela equipe de Jair Bolsonaro, expondo efeitos do contingenciamento de verbas e respingando nas relações comerciais do país.

Em agosto, foram registrados 30.901 focos de calor no bioma Amazônia, um indicativo usado pelos órgãos ambientais para estimar o número de pontos de queimada de fato. Esse número não é o mais alto da série histórica para o mês – o pico ocorreu em 2005, durante o governo Lula, quando foram registradas 63.764 ocorrências. Mas o número veio na esteira de declarações do governo consideradas permissivas para a prática de crimes ambientais, por relativizar as punições.

Considerando os dados disponíveis até o dia 15 de dezembro, o bioma Amazônia registrou 88.256 focos de calor este ano. É um número superior ao registrado em todo o ano de 2018 (68.345), mas inferior ao de 2017 (107.439).

Apesar da tendência de alta, o governo conseguiu reverter o número de queimadas após uma força-tarefa (a Operação Verde Brasil), iniciada a partir da publicação de um decreto de Garantia de Lei e Ordem (GLO), em que órgãos ambientais atuaram em conjunto com forças policiais para reprimir crimes ambientais. Só no primeiro mês da operação, foram aplicados 112 termos de infração, com R$ 36,3 milhões em multas ambientais.

A Operação Verde Brasil veio após uma manifestação contundente do mercado financeiro: uma carta assinada por 230 fundos de investidores internacionais, que se diziam consternados com a situação da região amazônica no Brasil e na Bolívia. Juntos, esses fundos administram valores superiores ao PIB da China – estão sob sua gestão cerca de US$ 16,3 trilhões, enquanto a economia chinesa em 2018 alcançou um produto interno bruto de US$ 13,2 trilhões.

Governo questiona dados de desmatamento do próprio governo

O presidente Jair Bolsonaro atacou com regularidade os dados sobre desmatamento da Amazônia e sobrou até mesmo para órgãos ligados ao governo, como o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), vinculado ao Ministério da Ciência e Tecnologia.

A situação azedou mais após o Inpe divulgar medições do sistema Deter (Detecção de Desmatamento em Tempo Real), que apontaram um avanço fora da curva nos casos de desflorestamento em junho e julho, na comparação com os mesmos meses de 2018.

Bolsonaro e ministros da sua equipe, como o chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, e o ministro Ricardo Salles questionaram muito os dados e sua divulgação. O professor Alexandre Galvão Patriota, livre-docente do Departamento de Estatística do Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo (USP), afirmou que os questionamentos do governo aos dados sobre o desmatamento da Amazônia "faziam sentido".

A confusão culminou com a demissão do diretor do Inpe, Ricardo Galvão, que bateu de frente com Bolsonaro. A demissão causou forte reação no meio científico, no Brasil e no exterior. Por fim, Galvão apareceu na lista de cientistas do ano da revista Nature.

Fundo Amazônia sob risco de acabar

A existência do Fundo Amazônia foi alvo de muito questionamento ao longo de 2019. Criado em 2008 com objetivo de apoiar iniciativas que combatam o desmatamento na região amazônica, o fundo esteve na mira do ministro do Meio Ambiente, que desconfiava da atuação das ONGs que receberam verbas para desenvolver seus projetos.

O ministro questionou a governança do fundo, que é gerido pelo BNDES, e sugeriu outros usos para os recursos. O governo também chegou a extinguir o Conselho Orientador do Fundo Amazônia (Cofa), composto por integrantes dos governos federal e estaduais e da sociedade civil.

O clima de animosidade levou Noruega e Alemanha, as duas grandes doadoras do fundo, a suspenderem novos repasses de verba. O governo prometeu apresentar uma nova modelagem para o funcionamento do fundo – da seleção de projetos à gestão do dinheiro. Apesar de Salles ter repetido as principais diretrizes que norteiam a nova proposta, o governo não chegou a formalizar a reformulação deste fundo, que pode deixar de existir, inclusive, caso a tramitação da PEC dos Fundos avance no Congresso.

Legalização do garimpo e mineração em terras indígenas

Promessa de campanha, Jair Bolsonaro falou várias vezes ao longo de 2019 em legalizar o garimpo no Brasil e a mineração em terras indígenas.

Bolsonaro também declarou ser contrário às novas demarcações de reservas para índios e disse que não haverá nem um milímetro de novas áreas indígenas em seu governo.

A questão indígena ganhou força em julho, com a morte de um líder no território Wajãpi, no Amapá. Na época, duas propostas de emenda constitucionais que estavam esquecidas no Congresso começaram a tramitar – elas previam a possibilidade de liberação de atividades agropecuárias nas reservas. O governo chegou a anunciar que apresentaria proposta relacionada ao garimpo, mas não o fez.

Novo foco no meio ambiente: combate à indústria da multa ambiental

Ainda quando era deputado, Jair Bolsonaro recebeu uma multa ambiental por pescar em uma área de reserva, no litoral do Rio de Janeiro. O fiscal que aplicou a sanção foi exonerado do cargo em 2019, já durante o governo de Bolsonaro.

O caso se tornou um dos exemplos daquilo que Bolsonaro classifica de “indústria da multa ambiental”. O presidente chegou a falar em “fazer uma limpa no Ibama e no ICMBio” durante uma feira rural no interior de São Paulo.

Se isso não ocorreu, uma das ações dos cem primeiros dias de governo de Bolsonaro foi a assinatura de um decreto para acabar com a “farra das multas ambientais”, tornando a cobrança mais ágil e convertendo as multas em ações de recuperação e preservação do meio ambiente.

Foco no meio ambiente urbano

Um argumento muito repetido pelo ministro Ricardo Salles ao longo deste ano é o de que 80% da população do Brasil vive em cidades. Por isso, o foco da pasta tem de ser o “meio ambiente urbano”, já que a maioria da população enfrenta os desafios de conviver com lixo, falta de saneamento e problema de poluição.

Por isso, logo no início de sua gestão, ele lançou o programa Lixão Zero, que faz parte da segunda fase da Agenda Nacional de Qualidade Ambiental Urbana, classificada como prioridade do ministério. A primeira foi o lançamento do programa Lixo no Mar.

Na área do meio ambiente urbano, o governo também enviou ao Congresso um projeto de lei para mudar o marco legal do saneamento e para facilitar a entrada de empresas privadas no serviço de abastecimento de água e coleta e tratamento de lixo. O novo marco legal do saneamento já foi aprovado na Câmara e deve ser votado no Senado em 2020.

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