A executiva nacional do PTB pretende entregar ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na próxima semana uma carta de incentivo de filiação ao partido. A movimentação ocorre após o aval do presidente afastado da sigla, Roberto Jefferson, que está preso preventivamente por conta do inquérito da milícia digital, que é uma continuidade do inquérito dos atos antidemocráticos do Supremo Tribunal Federal (STF).
Interinamente na presidência do PTB, Graciela Gienov assumiu as negociações para filiação de Bolsonaro junto ao filho do presidente, o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ). Segundo Gienov, o assunto já está pacificado dentro da sigla e conta com a chancela de todos os presidentes estaduais do partido.
“O PTB quer muito que ele [Bolsonaro] venha. Foi unanimidade entre o partido. Cem por cento fechado com ele. Nosso estatuto condiz com o que Bolsonaro representa e nós alinhamos o nosso partido com as pautas conservadoras de direita e fizemos várias trocas durante esses dois anos e preparamos o partido para receber o nosso Jair Messias Bolsonaro”, afirmou Graciela Gienov à Gazeta do Povo.
Apesar disso, o avanço das negociações chegou a incomodar alguns correligionários do PTB que começaram a se movimentar internamente de forma contrária à filiação de Bolsonaro. No entanto, Roberto Jefferson, que apesar de preso e de estar internado em um hospital do Rio de Janeiro, determinou que um conselho fosse criado para analisar os casos dos “murmuradores”.
Além da presidente em exercício, a comissão para organizar a filiação será composta pelos deputados federais Marcelo Moraes (RS), Paulo Bengtson (PA), Emanuel Pinheiro (MT), pelo presidente do PTB de Sergipe, Rodrigo Valadares, e pelos deputados estaduais Marcos Vinicius (RJ) e Mical Damasceno (MA). “Eu estou fazendo essas conversas porque me comunico com o Roberto Jefferson. Nós nos comunicamos por carta. Então todos os passos que estou dando são em comunicação com o nosso presidente Roberto. Então estamos alinhadíssimos”, completou Gienov .
O que Bolsonaro quer para se filiar ao PTB
Desde que deixou o PSL, em 2019, Bolsonaro tem imposto como condicionante para sua filiação o controle dos diretórios partidários. Desde então, apenas o agora ex-presidente do Patriota Adilson Barroso havia cedido todo o espaço na sigla para o chefe do Palácio do Planalto. A manobra, no entanto, acabou provocando uma mobilização de outros integrantes do partido, e recentemente Adilson Barroso acabou perdendo todos os cargos que ocupava na executiva.
Para se filiar ao PTB, Bolsonaro pretende escolher todos os candidatos que irão disputar o Senado Federal nas 27 Unidades da Federação. A estratégia visa reforçar a bancada na Casa, caso consiga sua reeleição no ano que vem. Atualmente, o Senado tem travado pautas para o Executivo, como a indicação de André Mendonça para o Supremo Tribunal Federal (STF) e a CPI da Covid, por exemplo.
Em outra frente, Bolsonaro também quer indicar nomes para as candidaturas aos governos estaduais. Segundo aliados bolsonaristas, o presidente quer evitar que candidatos de outros partidos “surfem” na sua popularidade e depois “governem” contra o Palácio do Planalto. Entre os exemplos, aliados citam o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), que teria sido eleito em 2018 com o “BolsoDoria”.
“Ele terá, se ele quiser ele terá [poder de indicação]. Isso já está garantindo. Ele vindo a gente vai sentar e fazer a discussão partidária. Vamos conversar estado por estado. Se ele aceitar o nosso convite, provavelmente vamos fazer tudo em conjunto, PTB junto com o nosso presidente. Ele vai ser o nosso maior líder e vamos trabalhar para reconduzi-lo à presidência”, afirma Graciela Gienov.
Uma prévia da proposta que será entregue a Bolsonaro indica que o presidente também terá o direito de indicar nomes para a executiva do partido. Roberto Jefferson será mantido no comando da sigla, enquanto Bolsonaro será “presidente de honra”.
Além de Bolsonaro, partido deve receber parte da bancada do PSL
Bolsonaro tem sido pressionado por deputados aliados para escolher ainda neste ano uma legenda, facilitando a filiação dentro da chamada janela partidária do ano que vem. Caso escolha o PTB, Bolsonaro deve levar para a sigla cerca de 30 deputados que atualmente estão filiados ao PSL.
“Vou para onde o presidente da República me chamar. Acho o PTB uma boa escolha, tem um estatuto conservador e me relaciono bem com diversos deputados da chapa”, afirma a deputada Carla Zambelli (PSL-SP).
O deputado Bibo Nunes (PSL-RS) defende que o partido é a melhor opção neste momento. "O PTB abriu o partido para Bolsonaro. Creio ser uma ótima opção".
O partido de Roberto Jefferson sonda ainda nomes que já integraram a Esplanada dos Ministérios no governo Bolsonaro. Os ex-ministros Ernesto Araújo (Relações Exteriores), Ricardo Salles (Meio Ambiente) e Abraham Weintraub (Educação) foram sondados recentemente.
“Vamos abrir as portas. Estamos conversando com alguns nomes que já estão praticamente dentro da casa. E todos eles terão legenda dentro do partido. Isso também foi pauta na reunião da executiva e isso ficou bem alinhado entre os presidentes estaduais do PTB”, alega Graciela Gienov.
Qual o tamanho do PTB hoje
Com a filiação de Bolsonaro e de seus aliados, o comando do PTB avalia que o partido será um dos maiores do Congresso Nacional a partir de 2023. Atualmente a sigla conta com 10 deputados federais. Em 2018, os senadores Nelsinho Trad (MS) e Lucas Barreto (AP) chegaram a se eleger pela sigla, mas acabaram migrando para o PSD posteriormente.
Apesar disso, conta com mais de 1 milhão de filiados em todo o país e diretórios estruturados em todos os estados do país. Com isso, Bolsonaro e seus candidatos teriam capilaridade para a disputa eleitoral do ano que vem.
Caso o orçamento de R$ 2,1 bilhões propostos pelo governo para o Fundo Eleitoral seja aprovado pelo Congresso, o PTB deve receber cerca de R$ 65 milhões para financiar suas candidaturas no ano que vem. O montante, entretanto, é cerca de 80% a menos dos quase R$ 280 milhões que o PSL teria direito.
“Sem dúvida alguma [o PTB irá crescer]. Nós estamos organizados já para 2022. Os presidentes [estaduais] fizeram seus relatos, já estamos com muita coisa alinhada para o ano que vem. Todos concordaram em abrir espaço para o Bolsonaro. Se tiver que tirar candidato, se tiver que dividir ou até se tiver que ceder espaço nas presidências estaduais. Nossa última reunião foi muito unificada, equilibrada e tranquila”, completou a presidente interina do PTB.
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