Estados e municípios podem voltar à reforma da Previdência em PEC paralela| Foto: Geraldo Magela/Agência Senado

Nem o mais otimista integrante da equipe econômica do governo de Jair Bolsonaro (PSL) sonhou que a reforma da Previdência passaria incólume pelo Congresso. A desidratação começou já na Comissão Especial da Câmara dos Deputados e terminou com a aprovação de destaques no plenário da Casa.

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Apesar de ainda nem ter sido votada no segundo turno na Câmara, etapa necessária antes de ser encaminhada ao Senado, já há um consenso entre parlamentares e governo de que é melhor aprovar o texto do jeito que ele está, nas duas Casas legislativas, para não atrasar ainda mais a sua entrada em vigência e não correr o risco de haver novas desidratações. Isso porque qualquer mudança feita no Senado teria de novamente ser votada na Câmara. Com isso, a ideia é tentar incluir estados e municípios na reforma por meio de uma proposta de emenda à Constituição (PEC) paralela, que vai tramitar separadamente da proposta principal.

Hoje, servidores públicos têm as mesmas regras gerais de aposentadorias, sejam eles integrantes dos quadros da União ou estados e municípios. A diferença é que as alíquotas definidas pelo governo federal representam a contribuição mínima – cada ente pode fixar o valor que desejar. Com a reforma do jeito que está, cada estado ou município com regime próprio poderia estabelecer as regras que desejasse para a aposentadoria de seus servidores.

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Dados da Secretaria de Previdência mostram que, no Brasil, 5,6 mil entes federativos poderiam ter regimes próprios de aposentadoria – isso inclui União, estados e municípios. Mas são 2,1 mil regimes próprios cadastrados. Essa diferença se explica porque muitas cidades, sobretudo as menores, não têm regimes próprios: os servidores se aposentam pelo INSS mesmo.

PEC paralela: inclusão negociada

A manobra da PEC paralela vem sendo discutida pelos parlamentares ao longo das últimas semanas. Na Câmara, o relator da reforma da Previdência, deputado Samuel Moreira (PSDB-SP), foi bastante pressionado para retirar a menção a estados e municípios do texto, sob pena de não aprová-lo sequer na comissão.

Do ponto de vista econômico, faz todo sentido manter estados e municípios na reforma. Suas contas estão tão fragilizadas quanto as da União. A queda de braço para tirar ou manter é política. Muitos deputados não querem arcar sozinhos com o ônus pela aprovação de uma medida que é impopular. Por outro lado, governadores se dividiram entre os que apoiavam a mudança e os que se opunham a ela. Sem muito tempo e com pouco diálogo, o assunto acabou empurrado para o Senado.

A solução encontrada foi a de elaborar uma segunda PEC, que vai incluir não apenas estados e municípios, mas outras eventuais mudanças propostas pelo Senado. Dessa forma, as duas propostas podem tramitar conjuntamente e o grosso da reforma seria promulgado antes.

O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), relator da comissão especial que acompanha a reforma na Casa, já havia defendido esse caminho junto a outros parlamentares, inclusive o presidente da Casa, Davi Alcolumbre (DEM-AP), que fez a interlocução com Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara.

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“Acho que estamos todos convencidos de que a introdução dos estados e municípios é essencial para que a reforma seja completa. Foi um equívoco [da Câmara], num momento de muitas discussões. A questão foi colocada talvez de uma maneira muito emocional. Se conseguirmos passar aqui, quando voltar para Câmara, será outro clima”, declarou Jereissati à Agência Senado.

O líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), ponderou que a falta de apoio de governadores, principalmente os do Nordeste, prejudicou a discussão do tema na Câmara. A expectativa dele é de que a reforma da Previdência seja aprovada em até 45 dias no Senado. Para a PEC paralela, o grande tema é a inclusão de estados e municípios.

Essa nova proposta retornaria para análise da Câmara. Rodrigo Maia já vêm articulando apoio para aprovação dessa proposta. “A única coisa que vai precisar, quando voltar para Câmara, é que os partidos de todos os governadores colaborem. Se não [ajudarem], a gente vai ter dificuldade de aprovar. A gente vai precisar que o PT, PSB e PDT ajudem a aprovar a PEC paralela, se não vai ter obstrução”, disse à Agência Câmara.

Por que estados e municípios precisam estar na reforma?

Os estados brasileiros já têm déficit atuarial, o que significa que não terão dinheiro para cobrir todos os gastos projetados com aposentadoria e pensão. Também sofrem com o descompasso entre servidores na ativa, aposentados e o valor dos benefícios. Os regimes especiais, como de professores e policiais militares, também pressionam as contas públicas. Assim como na União, gasta-se muito com a folha de pagamento dos servidores e sobra pouco dinheiro para investir em saúde, educação e demais áreas.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]
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