A CPI da Covid vai retomar nesta quinta-feira (20), a partir das 9h, o depoimento do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello. Depois de quase sete horas de questionamentos nesta quarta-feira (19), a reunião da comissão teve de ser suspensa devido às votações no plenário do Senado. O presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), avisou que ainda estão inscritos 24 senadores para fazer perguntas ao ex-ministro. Por isso, a opção foi por adiar os trabalhos e retomá-los no dia seguinte
"A gente não sabia a que hora ia terminar a sessão [do plenário] do Senado. Acho que não atrapalha. Temos amanhã [quinta-feira] o dia todo para conversar com o ex-ministro Pazuello", disse Aziz. Contribuiu para essa tomada de decisão também o fato de o ex-ministro da Saúde ter se sentido mal após a interrupção da sessão da CPI. Embora ele próprio tenha dito que não foi nada demais e que poderia voltar a responder às perguntas, a presidência da comissão achou por bem deixar a continuidade da sessão para quinta-feira.
Na avaliação do presidente da CPI, Pazuello se esquivou de algumas perguntas, mas terá mais cinco ou seis horas na frente dos senadores. Aziz opinou não ver necessidade de quebrar os sigilos do ex-ministro.
O vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), e o relator, Renan Calheiros (MDB-AL), afirmaram que Pazuello mentiu várias vezes aos senadores, além de omitir informações.
Para Randolfe, as contradições do depoimento mostram que Pazuello terá de ser acareado com outros depoentes da CPI. Para Renan, Pazuello estava “fingindo responder” e negou as próprias declarações que fez anteriormente.
O senador Otto Alencar (PSD-BA), que é médico, explicou que Pazuello teve um pequeno mal-estar e foi atendido, mas logo se recuperou. "É a chamada síndrome vago-vagal, que acontece muito com pessoas que passam por momentos tensos e ficam muito tempo sem se alimentar. Pode acontecer com qualquer pessoa. Ele se recuperou logo", explicou.
Em defesa do depoente, o senador Marcos Rogério (DEM-RO) afirmou que Pazuello respondeu a todas as perguntas e não se esquivou de questionamentos. "Na minha avaliação, as respostas do ex-ministro em relação à sua gestão no Ministério da Saúde traz luz aos fatos e sepulta as acusações infundadas feitas até aqui com relação ao enfrentamento da pandemia. (...) Foi um depoimento absolutamente esclarecedor; não joga uma pá de cal, joga uma pá de concreto sobre as acusações da oposição em relação a eventuais crimes do Poder Executivo federal", disse.
Em sua opinião, nenhum dos depoentes da CPI, até agora, afirmou que houve interferência indevida do presidente da República no Ministério da Saúde. Para Marcos Rogério, não houve mentiras nem contradições nas falas de Pazuello aos senadores.
O senador Eduardo Girão (Podemos-CE) reclamou que o relator da CPI teria cometido excessos e teria direcionado algumas respostas do depoente. Girão disse esperar que, a partir de agora, a comissão passe a investigar também “os bilhões de reais repassados pela União a estados e municípios durante a pandemia”.
Segundo ele, a Polícia Federal teve mais de 60 operações em 2020 contra denúncias de irregularidades no uso desse dinheiro por alguns estados e municípios. Girão quer “seguir o dinheiro”, pois há denúncias de respiradores superfaturados e hospitais de campanha desativados, por exemplo.
"Tem muita coisa pra gente explicar. Desvio de verba pública em época de pandemia, definitivamente, não é apenas corrupção, é assassinato" afirmou Girão.
24 senadores estão na lista para fazer perguntas a Pazuello
A segunda parte do depoimento de Pazuello deverá ser, novamente, de questionamentos árduos ao ex-ministro. Estão inscritos 24 senadores, e a maior parte deles não integra a base de apoio ao governo Bolsonaro. Os parlamentares que devem fazer perguntas a Pazuello são:
- Eduardo Braga, que teve sua fala interrompida nesta quarta por conta da suspensão da sessão;
- Marcos Rogério (DEM-RO)
- Otto Alencar (PSD-BA)
- Ciro Nogueira (PP-PI)
- Randolfe Rodrigues (Rede-AP)
- Eduardo Girão (Podemos-CE)
- Jorginho Mello (PL-SC)
- Marcos do Val (Podemos-ES)
- Angelo Coronel (PSD-BA)
- Alessandro Vieira (Cidadania-SE)
- Simone Tebet (MDB-MS)
- Rogério Carvalho (PT-SE)
- Fernando Bezerra (MDB-PE)
- Luis Carlos Heinze (PP-RS)
- Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ)
- Jorge Kajuru (Podemos-GO)
- Leila Barros (PSB-DF)
- Zenaide Maia (Pros-RN)
- Izalci Lucas (PSDB-DF)
- Vanderlan Cardoso (PSD-GO)
- Giordano (PSL-SP)
- Fabiano Contarato (Rede-ES)
- Roberto Rocha (PSDB-MA)
- Jean Paul Prates (PT-RN)
Como o depoimento de Pazuello será retomado nesta quinta-feira, acabou sendo adiada a audiência com a médica Mayra Pinheiro, secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do Ministério da Saúde e defensora do tratamento precoce e do uso da cloroquina em pacientes de Covid-19. O testemunho de Mayra foi remarcado para a próxima terça-feira (25).
CPI vota requerimentos antes de retomar depoimento de Pazuello
Antes de dar continuidade ao depoimento de Pazuello, a CPI da Covid deve votar uma série de requerimentos nesta quinta. Entre os 27 pedidos na pauta estão a convocação do empresário Carlos Wizard, apontado como integrante de um suposto conselho paralelo de saúde, além de executivos da empresa White Martins, que fornece oxigênio para hospitais.
No requerimento de convocação de Carlos Wizard, o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) lembra que Wizard é apontado como um dos integrantes de uma espécie de “ministério paralelo” da saúde, que teria atuado junto ao governo federal na defesa de medicamentos sem eficácia comprovada contra a Covid-19. O requerimento é o único de convocação na pauta. Os outros pedidos de oitiva estão na forma de convite.
Entre esses requerimentos estão os que pedem depoimentos de dois executivos da empresa White Martins: Paulo Barauna e Christiano Cruz. Autor dos requerimentos, o senador Eduardo Braga lembra depoimento de Christiano Cruz ao Ministério Público Federal. O executivo relatou que a White Martins só conseguiu se reunir com integrantes do Ministério da Saúde para relatar pessoalmente o grave problema na disponibilidade de oxigênio no Amazonas às vésperas do colapso. Nesta quarta-feira Pazuello disse à CPI que a pasta não foi comunicada pela White Martins sobre a falta de oxigênio em Manaus.
Os senadores podem votar ainda requerimentos de convite a especialistas em saúde e medicina. Podem ser chamados a depor Natalia Pasternak Taschner, fundadora do Instituto Questão de Ciência (IQC); Fernando Zasso Pigatto, presidente do Conselho Nacional de Saúde (CNS); José Gomes Temporão, ex-ministro da Saúde; Cláudio Maierovitch, ex-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa); Clovis Arns da Cunha, presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia; e Zeliete Zambom, presidente da Sociedade Brasileira Medicina de Família.
Também há pedidos de audiência pública com o virologista Átila Iamarino e com representantes do Conselho Nacional de Saúde. Os requerimentos de convite foram apresentados pelos senadores Marcos do Val (Podemos-ES), Alessandro Vieira, Humberto Costa (PT-PE), Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e Renan Calheiros (MDB-AL).
Com informações da Agência Senado
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