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Bolsonaro e Biden
Esta será a primeira viagem de Bolsonaro aos Estados Unidos desde que Joe Biden assumiu a Casa Branca, em 2021| Foto: Alan Santos/PR

O presidente Jair Bolsonaro (PL) embarca nos próximos dias para os Estados Unidos para um encontro com o presidente americano, Joe Biden. A agenda está prevista para ocorrer entre os dias 8 e 10 de junho, em Los Angeles, durante a nona edição da Cúpulas das Américas, evento que deve reunir lideranças do continente.

A viagem ocorre depois de uma ofensiva diplomática de Biden para que Bolsonaro aceitasse o convite da Casa Branca. Desde que tomou posse, em 20 de janeiro de 2021, o presidente americano evitou gestos de aproximação a Bolsonaro e nunca conversou sequer por telefone com o brasileiro. Segundo o chefe do Planalto, a ida aos EUA só foi acertada depois da garantia de um encontro bilateral de ao menos 30 minutos entre os dois chefes de Estado.

"Não iria jamais para lá para ser moldura de uma fotografia. Tem uma audiência bilateral de pelo menos 30 minutos com ele? Tive três horas com Putin. A resposta foi sim. Então iremos falar a posição do Brasil, falar o que havia tratado com o presidente Donald Trump para continuarmos essa política", disse Bolsonaro recentemente.

Temendo um esvaziamento da Cúpulas das Américas depois da resistência de algumas lideranças em participar do encontro, Biden enviou o ex-senador Christopher Dodd para convencer Bolsonaro sobre a importância de sua participação. O presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, sinalizou que não pretende comparecer caso os líderes das ditaduras de Cuba, Nicarágua e Venezuela não sejam convidados.

Até esta sexta-feira (3), às vésperas do evento, a Casa Branca ainda não havia confirmado a lista de lideranças que irão à Cúpula das Américas. "Vamos informar publicamente sobre a lista final de convidados. O importante é dizer por que estamos nos reunindo. Não estamos focados em quem está convidado e quem não está, mas nos resultados que queremos alcançar com essa cúpula", disse Juan Gonzalez, diretor para o Hemisfério Ocidental do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca.

Biden deve tratar de pandemia, segurança e mudanças climáticas com Bolsonaro

Até o momento, o Palácio do Planalto ainda não confirmou a data do encontro fechado entre Bolsonaro e Biden. Em nota, governo se limitou a informar que a "agenda será divulgada em momento oportuno". Espera-se, contudo, que o encontro ocorra entre quarta (8) e sexta-feira (10), quando o presidente da República comparecerá ao evento acompanhado do ministro das Relações Exteriores, Carlos França.

Na reunião entre Bolsonaro e Biden, o Itamaraty tem a expectativa de que os presidentes conversem sobre os temas tratados no âmbito da Cúpula. Entre estes, estão a preparação para enfrentar pandemias, a recuperação econômica pós-coronavírus, o fortalecimento da democracia na América Latina, bem como o desenvolvimento sustentável e as energias limpas.

Para além desses assuntos, também está previsto para ser abordado na esfera bilateral o impacto do conflito na Ucrânia no suprimento de fertilizantes, assim como seu efeito sobre a segurança alimentar global. O Brasil está empenhado em cumprir o pedido da Organização Mundial do Comércio (OMC) em ampliar a produção de alimentos.

O diretor do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca adiantou que os dois líderes terão uma "lista longa" de termas que serão discutidos na Cúpula das Américas. De acordo com Juan Gonzalez, assuntos como insegurança alimentar, resposta econômica à pandemia, saúde, segurança sanitária e mudanças climáticas serão debatidos. "São áreas em que o Brasil desempenha papel muito importante", disse.

Além de Bolsonaro, devem ir aos EUA ministro como Joaquim Leite (Meio Ambiente), Fábio Farias (Comunicações) e Paulo Guedes (Economia). Entre outros temas, Farias pretende tratar sobre o avanço do 5G, enquanto Guedes vai discutir a entrada do Brasil na Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Paralelamente, a Casa Branca espera que Bolsonaro seja signatário de um documento em defesa da democracia. A medida seria uma forma de rechaçar a presença de líderes de ditaduras como Cuba, Nicarágua e Venezuela.

"Os Estados Unidos sabem que todos temos trabalho a fazer para construir uma democracia forte e inclusiva no hemisfério, inclusive aqui em casa”, afirmou Brian Nichols, secretário de Estado adjunto para Assuntos do Hemisfério Ocidental, em entrevista coletiva.

Na mesma coletiva, Juan Gonzalez reforçou que os americanos confiam no sistema eleitoral brasileiro. "A questão das eleições brasileiras deve ser decidida pelos brasileiros. E os Estados Unidos têm confiança nas instituições eleitorais do Brasil, que se mostraram robustas", disse.

Encontro será usado pela campanha de Bolsonaro 

Além do Itamaraty e de integrantes do governo, o encontro com Biden é defendido por integrantes do núcleo de campanha do presidente como uma forma de Bolsonaro faturar politicamente. Assim como a agenda como o presidente da Rússia, Vladimir Putin, em fevereiro, o encontro com o líder dos EUA pode afastar o discurso de que o presidente brasileiro é um pária internacional.

No núcleo de campanha, os aliados de Bolsonaro acreditam que ele pode faturar politicamente caso consiga emplacar o debate sobre a alta inflação compartilhada por Brasil e EUA na pandemia. Neste caso, o tema corrobora o discurso que Bolsonaro tem adotado de que o Brasil não é o único a conviver com a disparada nos preços e a carestia.

Além da agenda com Biden, o Itamaraty negocia um encontro com o primeiro ministro do Canadá, Justin Trudeau. A ideia é pautar a intermediação de compra de fertilizantes com o líder canadense em um aceno para o agronegócio no Brasil. Há também pedidos para encontros bilaterais com Bolsonaro vindos de chefes de Estado da Colômbia, da Guatemala e de El Salvador.

Adversário de Bolsonaro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) costuma afirmar em seus discursos que o Brasil está isolado do mundo por conta das políticas do atual presidente. Recentemente, depois do convite de Biden ao presidente brasileiro, o líder petista passou a fazer críticas ao chefe de Estado americano.

"Não é possível que o presidente [Joe] Biden, que nunca fez um discurso para dar um dólar para quem está morrendo de fome na África, anunciar US$ 40 bilhões para ajudar a Ucrânia a comprar armas. Não é possível", afirmou o petista durante discurso em ato público, em Porto Alegre.

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