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Em 2018, o desempenho do Novo nas eleições foi considerado "sensacional" pelo seu então presidenciável, o empresário João Amoêdo. Com 2,5% dos votos válidos, ele foi o quinto mais votado para presidente da República por um partido que ainda elegeu um governador, oito deputados federais, 12 deputados estaduais e um distrital. Agora, em 2022, a meta da legenda é dobrar os feitos.
"Algo como dobrar [a bancada na Câmara] é factível da gente fazer", diz à Gazeta do Povo o deputado federal Tiago Mitraud (Novo-MG), que, em agosto, chegou a ser defendido como candidato ao Palácio do Planalto em 2022. Mas, com a candidatura do empresário Felipe D’Ávila à Presidência da República, a tendência, agora, é ele não ir à reeleição e nem sair ao Senado, mas atuar como coordenador da campanha à reeleição do governador de Minas Gerais, Romeu Zema.
Com a candidatura de Zema, Mitraud acredita que o Novo possa eleger "até quatro ou cinco" deputados federais. O líder do Novo na Câmara, Paulo Ganime (RJ), articula o lançamento de sua candidatura ao governo do Rio de Janeiro e acredita que ela "ajudaria muito" no aumento da bancada do partido no estado.
"Conduzindo esse trabalho e sendo candidato majoritário à nominata do Novo de uma eleição mais estruturada, com debate, presença na mídia, isso pode ajudar a eleger mais deputados federais e estaduais", analisa Ganime à reportagem. Além dele, outro já confirmado para uma candidatura majoritária é o deputado federal Vinicius Poit (SP) ao governo paulista, que, com sua candidatura, poderia ajudar a ampliar a bancada em São Paulo, avaliam lideranças da legenda.
Dos oito deputados federais, à exceção de Ganime, Poit e Mitraud, os outros cinco devem ir à reeleição. O único que não tentará a permanência por mais quatro anos na Câmara pelo Novo é o deputado Alexis Fonteyne (SP), que avisou aos aliados que está de partida e irá se filiar ao Podemos na abertura da janela partidária, em março de 2022.
Como o Novo espera ser beneficiado pelo debate da terceira via em 2022
O Podemos, com o ex-juiz Sergio Moro, e o PSDB, com o governador de São Paulo, João Doria, despontam no cenário nacional como os partidos que tentam capitanear o debate nacional da "terceira via" diante da polarização entre o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Mas o Novo também espera tirar proveito disso.
Institucionalmente, o Novo mantém a candidatura de D'Ávila à Presidência da República. Verbalmente, os deputados federais e outras lideranças do partido asseguram que ele é o candidato deles para representar a terceira via. Mas, nos bastidores, integrantes reconhecem a possibilidade de, mais a frente, a legenda apoiar a candidatura de Moro caso ela seja a mais viável para enfrentar Lula e Bolsonaro.
Com D'Ávila ou Moro, o partido espera que o debate da terceira via seja um combustível político para fortalecer e viabilizar outras candidaturas aos governos estaduais além de Zema, favorito à reeleição segundo pesquisas recentes, e eleger deputados federais e estaduais na esteira dessas candidaturas.
No Rio de Janeiro, por exemplo, o deputado federal Marcelo Freixo (PSB-RJ) e o governador do estado, Cláudio Castro (PL), nome apoiado por Bolsonaro, já polarizam em algumas pesquisas. Sem uma candidatura de centro bem definida no Rio, Paulo Ganime espera representar uma legítima opção aos polos. "Eu representaria justamente a opção do que chamam de terceira via em nível federal e, também, essa terceira via em nível estadual", diz.
Em São Paulo, por exemplo, o ex-prefeito Fernando Haddad (PT) e o ativista Guilherme Boulos (PSOL) devem liderar a esquerda, enquanto o vice-governador, Rodrigo Garcia (PSDB), representará a centro-direita. Ainda no campo da direita, existe a possível candidatura de um nome a ser apoiado por Bolsonaro. Ou seja, para o Novo, a candidatura de Vinícius Poit é vista como a legítima representante da terceira via.
No Rio Grande do Sul, o partido estuda a possibilidade de apoiar uma candidatura de Marcel van Hattem (Novo-RS), outro que poderia representar uma alternativa de terceira via à possível polarização entre PT, que vai lançar o deputado estadual Edegar Pretto, e o candidato a ser apoiado por Bolsonaro, o senador Luiz Carlos Heinze (PP-RS) ou o ministro do Trabalho e Emprego, Onyx Lorenzoni.
Na mesma onda da terceira via, o partido espera ter candidatos em outros estados. Nomes ainda são estudados pela Executiva Nacional e pelos presidentes dos diretórios estaduais. O Distrito Federal e Santa Catarina são algumas das unidades da federação cotadas para ter pré-candidatos do Novo representando a terceira via.
Entre a ideologia e o pragmatismo, Novo quer mais governabilidade
Em 2022, o Novo não vai abrir mão de sua ideologia liberal de Estado mínimo e eficiente, de equilíbrio das contas públicas, de desburocratização à atividade empresarial, entre outras. Contudo, os quase três anos completos desde as últimas eleições deixaram integrantes do partido minimamente mais calejados em termos políticos.
Uma prova disso são as conversas mantidas entre Romeu Zema e Moro. Os dois se reuniram em Belo Horizonte no fim de novembro para discutir uma possível coligação em 2022, ainda que o partido mantenha a candidatura de D'Ávila. A orientação interna do partido é se manter institucionalmente em defesa de seu candidato da terceira via, mas liberar seus candidatos para costurar suas candidaturas é uma estratégia considerada.
Além de Moro, Zema também conversa com o deputado federal Marcelo Álvaro Antônio (PSL-MG), ex-ministro de Turismo de Bolsonaro, que vai se filiar ao PL para lançar candidatura ao Senado em Minas Gerais. Como afirmou com exclusividade à Gazeta do Povo, Álvaro Antônio mantém conversas com o governador mineiro para estarem no mesmo palanque. "Claro que é uma construção que ainda precisa ser consolidada", disse.
A possibilidade de Zema e Álvaro Antônio dividirem os "santinhos" e palanque em Minas Gerias em 2022 ou de uma coligação com Moro faz parte da estratégia mais pragmática traçada pelo governador mineiro, o único a ser eleito para um cargo majoritário nas eleições de 2018. "A prioridade do Novo em Minas tem que ser a reeleição, com condições de governabilidade que ele não teve na Assembleia Legislativa [de Minas Gerais]", reconhece Mitraud.
Além da necessidade de o governo mineiro aprovar medidas propostas, a gestão de Zema foi alvo de duas Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) no Legislativo estadual. Uma investigação apura um suposto uso irregular de vacinas contra a Covid-19 em servidores da Secretaria de Saúde e outra investiga atos da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig).
Para fortalecer sua candidatura à reeleição, Zema cogita, de fato, apoiar ao Senado um candidato de outro partido. Nesse cenário, o Novo ainda estuda se daria um aval institucional ou libera Zema para articular possíveis coligações. "Até onde eu sei, não tem nenhuma conversa fechada, temos bastante tempo até que uma definição dessa seja tomada", pondera Mitraud.
O deputado do Novo garante, contudo, que, independentemente da decisão a ser tomada, um possível apoio a Álvaro Antônio não significaria adesão à base de Bolsonaro. "Tenho certeza — e isso é óbvio para mim e para o Zema — que o Novo em Minas não apoiará a candidatura dele [Bolsonaro] e vamos apoiar o candidato da terceira via, que esperamos que seja o Felipe D’Ávila, estamos trabalhando para isso, é esse o cenário", explica Mitraud.
"Se um eventual candidato ao Senado apoiado pelo Novo estiver apoiando outro candidato [à Presidência da República], seja Bolsonaro ou qualquer outro, isso de forma alguma significará apoio do Zema ou ao projeto do 'bolsonarismo'", complementa.
A coligação de candidatos do Novo em outros cargos majoritários ou o lançamento de candidaturas "chapa puro sangue", como ocorreu em 2018, ainda será estudado "caso a caso".
Quais os principais desafios do Novo nas eleições de 2022
A montagem de palanques nos estados com o apoio de outros partidos e as estratégias para surfar apoiado pela terceira via são parte das estratégias e dos consequentes desafios que o Novo enfrentará em 2022. Outras dificuldades que a legenda terá de superar é o lançamento de nomes competitivos mesmo para a Câmara dos Deputados e para as assembleias legislativas.
Em 2018, o Novo lançou 223 candidaturas para deputados federais e 155 para deputados estaduais — incluindo os 31 distritais. Fez, no total, 20 deputados no sistema proporcional. Embora lideranças do partido estejam confiantes que possam dobrar a bancada na Câmara e, de certa forma, no restante do país, lançar candidatos mais competitivos é um dos desafios identificados dentro da legenda.
"Os candidatos do Novo não são, geralmente, caras que vêm da comunidade. São pessoas que vão lá, faz o processo seletivo, faz o TCC, é aprovado [para ser candidato] e pode simplesmente não ter voto nenhum. Não é um líder de bairro, popular, que tem voto. É um cara que quer ajudar o Brasil, que pode ser um excelente candidato desconhecido, mas que não puxa voto", diz, reservadamente, uma liderança do partido.
"Não adianta ficar só achando que vamos encontrar os melhores quadros, mas que não tenham outro elemento, quociente emocional, eleitoral. Olha o perfil do Congresso, é um monte de gente popular em suas comunidades que têm voto", complementa.