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Bolsonaro ao lado de Moro.
Bolsonaro e Moro: carta branca, popularidade e eleição de 2022 como pano de fundo da possível troca de comando na PF.| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

Mesmo depois de um gesto público de reconciliação com o presidente Jair Bolsonaro (PSL), na semana passada, o ministro da Justiça, Sergio Moro, continua em uma situação delicada, sendo pressionado pelo chefe. Os atritos envolvendo mudança de comando em superintendências estaduais da Polícia Federal não parece perto de esfriar e pode levar à troca do diretor-geral da PF, Maurício Valeixo – delegado que participou da Lava Jato e que foi indicado por Moro para o cargo. O desfecho do caso pode sinalizar se a carta branca prometida ao ministro pelo presidente é para valer e até que ponto Moro está disposto a ser melindrado pelo chefe para continuar no cargo.

Moro entrou para o governo como ministro “indemissível”, com a promessa de que teria plena autonomia para atuar no combate à corrupção, ao crime organizado e ao crime violento. Mas o presidente já barrou indicação de Moro para o Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária. Bolsonaro também vem sendo acusado de se afastar da pauta anticorrupção defendida pelo ex-juiz da Lava Jato. O presidente mudou o Coaf (que virou Unidade de Inteligência Financeira, vinculado ao Banco Central) e pressiona por mudanças na Receita Federal e na PF.

A escolha do subprocurador Augusto Aras para o cargo de procurador-geral da República, na quinta-feita (5), foi vista nos bastidores como mais um sinal de enfraquecimento de Moro no governo. Bolsonaro teria escolhido Aras sem consultar seu ministro da Justiça.

Popularidade de Moro é seu trunfo e sua ameaça

Apesar disso, Moro ainda tem um grande trunfo: é muito mais popular do que Bolsonaro. Desde que o governo começou, o presidente tem visto seu índice de aprovação cair – o que não acontece com o ministro. Bolsonaro chegou ao patamar de 38% de desaprovação (aqueles que consideram o governo ruim ou péssimo) e 29% de aprovação (os que consideram o governo ótimo ou bom), segundo o último levantamento do Datafolha. Enquanto isso, Moro tem 54% de aprovação na sua gestão no Ministério da Justiça; e apenas 20% de desaprovação – também de acordo com o Datafolha. Uma eventual saída de Moro do governo tenderia a causar desgaste a Bolsonaro.

Embalado pela alta aprovação popular, o ex-juiz inclusive vem sendo apontado como um candidato de peso para competir na eleição presidencial de 2022, contra o próprio Bolsonaro – que já disse que pretende disputar reeleição.

Na quinta, numa transmissão ao vivo no Facebook, Bolsonaro pela primeira vez demonstrou publicamente desconforto com a maior popularidade de Moro. O presidente tentava se defender das críticas que recebeu de eleitores por ter escolhido Augusto Aras, visto de forma negativa pelo eleitorado mais bolsonarista. “Pessoal que votou em mim, tem pelo menos 20% falando que acabou a esperança dele, que vai votar no Moro em 2022. Pessoal, atire a primeira pedra quem não cometeu um pecado. Eu tinha que escolher um nome”, disse Bolsonaro.

A avaliação de quem acompanha a crise de perto dentro do governo é de que Bolsonaro está assustado com a popularidade de Moro. A avaliação na Esplanada dos Ministérios é de que Bolsonaro se elegeu com um discurso de liderança, que estaria ofuscado pelo protagonismo do ministro da Justiça. Essa avaliação explica episódios de demonstração de força de Bolsonaro, como o que ele disse que quem manda na PF é ele, não Moro.

Qual será a postura de Moro dentro do governo daqui para frente

A avaliação na Esplanada é a de que Moro não vai adotar uma postura mais incisiva em relação a seus desentendimentos com Bolsonaro. Se fosse dar algum tipo de basta para essa situação, buscando se impor, já teria feito. Para quem observa a crise de perto, Moro recuou. Mesmo assim, é necessário que o ministro encontre uma saída para descolar sua imagem da do presidente, já que Moro está perdendo suas principais ferramentas de trabalho.

Desde o início do ano, Moro já perdeu o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), que estava sob seu guarda chuva no Ministério da Justiça. O Coaf é visto como essencial para o combate à lavagem de dinheiro do crime e da corrupção. Moro também viu o Supremo Tribunal Federal (STF) paralisar investigações com base em dados do órgão. E presidente do Coaf indicado por ele, Roberto Leonel, foi demitido. Agora, o ministro também parece estar perdendo as rédeas da PF.

Na tentativa de diminuir a temperatura, na semana passada o ministro da Justiça negou que tenha intenção de concorrer à Presidência. E, embora tenha afirmado que, por ora, Valeixo continua à frente da PF, admitiu que o órgão pode passar por mudanças.

Mas, mesmo depois disso, Bolsonaro continuou a dizer que pretende fazer mudanças na PF. Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo nesta semana, o presidente disse ver “babaquices” da PF na discussão sobre a troca na superintendência no Rio. E afirmou que é preciso “dar uma arejada” na Polícia Federal.

Anteriormente, Bolsonaro já havia dito que, se não pudesse trocar o superintendente, trocaria o diretor-geral. A definição da chefia da PF é uma atribuição do presidente, mas tradicionalmente a escolha é feita pelo ministro da Justiça.

A saída de Valeixo é dada como certa por integrantes da PF, do governo e por setores do Congresso. Resta saber como será a indicação do substituto.

O nome mais cotado é do secretário de Segurança do Distrito Federal, Anderson Torres. O nome dele era cotado para o comando da PF antes mesmo de Moro aceitar ser ministro. Torres é bem visto pela base da PF, formada por agentes e escrivães, além de ser próximo ao presidente da Associação de Delegados da Polícia Federal, Edvanir Paiva. Ele também já foi assessor do ex-deputado federal Fernando Francischini, aliado de Bolsonaro, na Câmara dos Deputados.

Como começaram os atritos

A temperatura começou a esquentar quando o presidente tentou interferir no comando da superintendência da Polícia Federal no Rio de Janeiro. Bolsonaro anunciou a exoneração de Ricardo Saadi do cargo, dizendo que a saída dele seria por motivos de produtividade. O presidente ainda tentou emplacar o nome de Alexandre Silva Saraiva, superintendente da PF no Amazonas, para o cargo.

A PF, que é subordinada a Moro, reagiu negativamente. Informou que a troca no Rio já estava sendo discutida há tempos, que a saída de Saadi nada tinha a ver com questões de produtividade e que seu substituto, na verdade, seria Carlos Henrique Oliveira Sousa, superintendente da PF em Pernambuco.

Moro assistiu a tudo calado – pelo menos publicamente. Mesmo assim, Bolsonaro fez questão de ressaltar sua autoridade. Chegou a dizer que se não podia trocar o superintendente do Rio de Janeiro, trocaria o diretor-geral da PF.

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