Apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) participam de manifestação por ocasião do Dia do Trabalho, na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro| Foto: EFE/Andre Coelho
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Contrariando previsões de analistas políticos, os protestos de 1º de Maio, realizados neste domingo, foram pacíficos e contaram com discursos moderados tanto de apoiadores do governo quanto da oposição. O presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) adotaram discursos ponderados. Aconselhados por coordenadores eleitorais, ambos evitaram tons que pudessem gerar denúncias por propaganda eleitoral antecipada.

Por duas ocasiões, por exemplo, Bolsonaro realizou discursos curtos a seus apoiadores. Diferentemente dos atos de 7 de setembro, quando adotou um tom mais contundente contra alguns ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), ele resumiu sua participação em Brasília a cumprimentar os apoiadores.

O presidente da República parabenizou os brasileiros que ocuparam parte do gramado da Esplanada dos Ministérios e elogiou a defesa da Constituição, da democracia e da liberdade feita por seus apoiadores. Em discurso remoto transmitido em um telão na Avenida Paulista, disse que o "mal" será "vencido", sem citar as eleições ou Lula. "Venceremos, porque o bem sempre vence o mal", disse.

As manifestações no Dia do Trabalho sempre foram encampadas majoritariamente pela esquerda sindical. Nos últimos anos, no entanto, manifestantes com roupas verdes e amarelas saíram às ruas, principalmente em Brasília e São Paulo, para demonstrar força política durante a data.

Do outro lado, Lula subiu em um palanque organizado por centrais trabalhistas, que contaram com baixa adesão do público. O petista, que já passou uma temporada preso, reforçou várias vezes que não iria falar de eleições e, inclusive, pediu desculpas por uma fala polêmica dita no sábado (30), quando acusou Bolsonaro de não "gostar de gente". "Ele gosta de policial", comentou.

A retratação do petista com os policiais foi uma das primeiras falas dele ao lado de sindicalistas. "Quando eu estava fazendo o discurso, eu queria dizer que o Bolsonaro só gosta de milícia, não gosta de gente, e eu falei que ele só gosta de polícia, não gosta de gente", disse. "E eu queria aproveitar e pedir desculpas aos policiais desse país", complementou.

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Recomendação de aliados evitou discurso de Bolsonaro em trio elétrico

O tom e o discurso usado por Bolsonaro neste domingo atenderam a apelos feitos por aliados. O mesmo vale para a decisão em não ter subido no trio elétrico estacionado na Esplanada dos Ministérios. "O presidente não deixou de subir por 'medo' dos ministros do STF ou qualquer bobagem e ilação que possam ter dito. Ele não foi a pedidos e orientação de aliados e advogados", diz um interlocutor governista.

A recomendação jurídica transmitida a Bolsonaro era de evitar subir no palanque para não transparecer sua presença em um comício eleitoral, segundo apurou a Gazeta do Povo. O temor era de que a participação poderia ser denunciada ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), onde ele já é investigado em um inquérito administrativo.

Aliados políticos defenderam o distanciamento de Bolsonaro das mobilizações sob a justificativa de que sua participação poderia acirrar ainda mais o clima entre os Poderes caso o evento ganhasse tons duramente críticos a ministros do STF e à própria instituição.

Há uma leitura no governo de que o indulto ao deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ) e a defesa ao direito à liberdade de expressão já geraram os "bônus" eleitorais possíveis. O momento, para aliados políticos, especialmente do Centrão, é de defender mais a agenda econômica e tratá-la como mais prioritária do que a chamada "agenda ideológica" por alguns governistas.

Para esta ala de apoiadores, a economia será o fiel da balança nas eleições. O objetivo desses aliados é que Bolsonaro incorpore em seus discursos temas como o Auxílio Brasil e os esforços do Brasil para ampliar sua produção de alimentos e reduzir a inflação, por exemplo.

Não à toa, organizadores dos atos em defesa a Bolsonaro, ao indulto e à liberdade de expressão foram avisados de que o ministro da Economia, Paulo Guedes, compareceria ao ato em Brasília e faria uso da palavra. Segundo eles, também havia a expectativa de que ele falasse aos apoiadores na Avenida Paulista.

Pelo mesmo motivo que Bolsonaro, que ficou em torno de 10 minutos na manifestação, Guedes não acompanhou o presidente, tampouco subiu no trio elétrico. A ex-ministra da Mulher, Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, também não discursou.

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Lula pede desculpas a policiais

O pedido de desculpas feito por Lula aos policiais vai na mesma linha ponderada adotada por Bolsonaro. Após a polêmica fala no sábado, aliados aconselharam o petista a se retratar às forças auxiliares de segurança pública. Embora a cúpula do PT entenda que a maioria dos policiais vote no presidente, o cálculo político feito é de que a crítica poderia afastar outros eleitores.

Ainda no sábado, Lula foi aconselhado a ir às redes sociais e pedir desculpas, ou a gravar um vídeo. A declaração foi definida por um petista ao site Metropoles como "eleitoralmente ruim". Um deputado aliado vai na mesma linha e diz à Gazeta do Povo ao sustentar que o cálculo vai menos na linha de evitar perda de votos dentro das forças auxiliares de segurança e mais nos votos do eleitor de centro.

Adversário de Lula na esquerda política, o pré-candidato do PDT, o ex-governador cearense Ciro Gomes, criticou o petista pela fala. "Lula apertou o acelerador na corrida para superar Bolsonaro em asnice. Quando disse que ‘Bolsonaro não gosta de gente, gosta de policial’, Lula cometeu não um ato falho, mas uma ação indesculpável de discriminação e desumanidade", comentou.

Em uma disputa tão polarizada entre Lula e Bolsonaro pelo voto do chamado eleitor mediano, os aliados petistas alertaram para os riscos que a pré-campanha poderia sofrer. Não é a primeira vez que o ex-presidente "patina" em falas a grupos específicos do eleitorado.

Antes de falar sobre policiais, Lula, que busca o voto de cristãos, defendeu que o aborto seria "uma questão de saúde pública" a que "todo mundo teria direito. A fala não repercutiu bem entre conservadores e, após recomendações feitas por aliados, acenou com elogios aos evangélicos e críticas a Bolsonaro.

Sob aconselhamento de aliados, Lula também fez o possível para driblar a legislação eleitoral e não incorrer em irregularidades em sua participação no ato deste domingo. "Eu estava lá atrás", justificou o petista sobre ter permanecido no fundo do palco durante as falas de outros participantes. "Porque não é possível falar de eleição, eu não sou candidato ainda. E vocês sabem que nós não temos muita gente favorável na Justiça. Pode ter gente que não goste do que a gente está falando", complementou.