A ministra-chefe da Secretaria de Governo, Flávia Arruda, entrou na mira de lideranças da base aliada do Palácio do Planalto. Insatisfeitos com acordos não cumpridos ao fim de 2021 e empurrados para 2022, congressistas cobram o cumprimento dos compromissos firmados. Os mais indignados demandam até mesmo a demissão da ministra.
A relação entre Flávia e lideranças da base já vem em um processo de desgaste, admitem deputados da base à Gazeta do Povo. A diferença, agora, é que a insatisfação está mais disseminada dentro de partidos aliados como Republicanos, parte do PSL, e mesmo o PP, partido presidido pelo ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, e o PL, legenda da ministra e do próprio presidente Jair Bolsonaro.
"Há menos um desgaste da ministra com as siglas e mais com figuras, líderes de partidos", explica uma liderança da Câmara. Um dos principais defensores da demissão da ministra é o deputado federal Hugo Motta (Republicanos-PB), atual líder do partido. Em 2022, a liderança da legenda irá para o deputado Vinicius Carvalho (SP).
"O Republicanos defende a demissão de Flávia da Secretaria de Governo. Se ela seguir no cargo, o governo não contará mais com o partido", afirmou Motta à CNN Brasil em 31 de dezembro. "Na minha bancada não tem um deputado satisfeito. Não é só questão de orçamento, mas também uma falta de respeito na relação com os deputados da base. A gente quer um ministro que cumpra os acordos", reforçou o líder ao jornal O Globo na terça-feira (4).
O que explica a pressão de aliados do governo sobre Flávia Arruda
O líder do Republicanos é um dos poucos parlamentares confortáveis em verbalizar publicamente a pressão sobre a ministra Flávia Arruda. Outros, contudo, têm optado por falar de forma reservada, a exemplo de três deputados ouvidos pela Gazeta do Povo. Todos confirmam as pressões exercidas nos bastidores para derrubar a ministra.
A alegação de que ela teria descumprido acordos é referente a uma promessa de liberação de R$ 600 milhões em recursos de emendas parlamentares de bancada. As emendas de bancada são impositivas, ou seja, de execução obrigatória no Orçamento, e a liberação dessas verbas fica sob os cuidados de Flávia.
A ministra tem trabalhado para cumprir os acordos desde 2021, mas seus desafetos entendem que ela não tem as condições políticas para destravar os recursos e cumprir com os acordos. "A Flávia foi escolhida pelo presidente por influências políticas, a despeito de haver nomes muito melhores e que poderiam articular e aproximar politicamente o presidente com grupos grandes dentro do Congresso", diz uma liderança. "A ministra está de mãos atadas, não serviu para abrir portas, nem para facilitar determinadas coisas", complementa.
Por isso, alguns congressistas defendem a demissão de Flávia quanto antes. Lideranças do Centrão lembram que a ministra terá que se desincompatibilizar do cargo até abril para disputar um cargo eletivo nas eleições de 2022, como prevê o calendário do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Por isso, os principais opositores defendem a saída dela da Secretaria de Governo ainda em janeiro.
"O momento para se fazer mudanças é agora, é melhor do que esperar até abril. O presidente poderia demiti-la agora e começar o ano com menos ruídos sobre o governo, dando fôlego a mudanças políticas e sinalizando o início do quarto ano desta legislatura no Congresso", diz um dos deputados ouvidos. "E outra coisa, o presidente está perdendo apoio", reforça um segundo parlamentar.
O que pensa a ministra e aliados sobre as pressões da base
Os aliados da ministra Flávia Arruda no Congresso reconhecem a pressão política exercida sobre ela, mas entendem que a probabilidade maior é de que ela permaneça, embora ressaltem que a palavra final cabe, naturalmente, a Bolsonaro. Um dos motivos apontados é que ela não pode ser apontada como a principal culpada.
Os R$ 600 milhões prometidos pelo governo tiveram seu repasse bloqueado para a destinação de emendas parlamentares às bases dos aliados — incluindo o Hugo Motta — pelo ministro da Economia, Paulo Guedes. Segundo afirmam interlocutores do Planalto e aliados de Flávia, ele obstruiu os repasses sob a alegação de cumprir acordos internacionais.
O bloqueio aos repasses também foi visto no governo como uma retaliação de Guedes a parlamentares por não aprovarem as pautas na reta final de 2021 com redações mais próximas da almejada pela equipe econômica. A cobrança, contudo, tem recaído sobre Flávia. Bolsonaro tem conhecimento disso e, até por essa questão, não cogita demitir a ministra.
"O presidente sabe como é que são as planilhas, nada acontece sem conhecimento ou o consentimento dele", sustenta um interlocutor do Planalto. Desde o fim do ano passado, mesmo na semana do Ano Novo, Flávia tem atuado para cumprir os acordos, chegando pela manhã e saindo às 21h, segundo afirmam técnicos do governo.
"A ministra entende o papel dela, então ela nunca vai dar uma declaração que seja prejudicial ao Guedes, porque tem consciência de que isso seria prejudicial ao governo", diz um interlocutor palaciano. "Ela tem muitos argumentos, o Guedes já cedeu para eles em vários momentos, o aumento do Auxílio Brasil foi uma guerra que eles travaram com a equipe econômica", complementa.
Interlocutores do Planalto citam que Flávia entregou a aprovação da PEC dos precatórios, o Auxílio Brasil, a aprovação do ex-senador Antonio Anastasia (PSD-MG) para o Tribunal de Contas da União (TCU) e também ajudou na aprovação do ministro André Mendonça, do Supremo Tribunal Federal (STF), no Senado. "O presidente sabe que ela trabalhou muito", diz um assessor.
Um aliado da ministra sai em defesa dela e diz que não faria sentido Flávia ser demitida por uma ação de Guedes. "Na hora que forem ver tudo o que está acontecendo, vão perceber que não foi por erro dela, mas por uma questão ligada ao ministério da Economia. Tem muita gente trabalhando para ela cair, mas também tem muita gente trabalhando para ela ficar. Temos, inclusive, força suficiente para mantê-la", defende o deputado da base.
A fritura política sobre a ministra não é, inclusive, algo recente. Em 2021, ela teve seu cargo cobiçado pelo senador Jorginho Mello (PL-SC), que, por sua vez, tinha o apoio do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). No início da gestão, ela também precisou se sobrepor ao ministro-chefe da Secretaria Geral, Luiz Eduardo Ramos, que havia acabado de deixar a Secretaria de Governo e permaneceu um tempo assumindo as funções de articulador político.
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