Manchas de óleo apareceram primeiro em praias do Nordeste.| Foto: Divulgação/Governo Sergipe

Na iminência da alta temporada de verão, ainda há muitas dúvidas a respeito das manchas de óleo que atingem a costa do Nordeste brasileiro. O impacto para os destinos turísticos da região também é incerto. De um lado, autoridades federais da Saúde e do Turismo fazem um discurso positivo das medidas tomadas e defendem a manutenção das viagens. De outro, o Ibama alerta para o contato da pele com o óleo, e diz que a utilização das praias na região deve ser feita após consulta aos boletins de balneabilidade.

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Há um consenso de que eventuais cancelamentos de viagens não precisam ser reembolsados pelas agências, já que elas não têm responsabilidade na tragédia ambiental. Os Procons de todo o Brasil orientam aos consumidores que é possível tentar negociar possíveis alterações de data ou mudança de pacote, dependendo do teor dos contratos já assinados. Um alento para quem quer manter a viagem são as publicações de sites especializados, como o Viaje na Viagem, que traz relatos diários de turistas no Nordeste – a maioria absoluta afirma que o passeio não tinha sido prejudicado pela presença do óleo.

Entretanto, a falta de informações sobre o vazamento dificulta a tomada de decisão. Na quarta-feira (6), manchas de óleo foram observadas em praias do Espírito Santo, no Sudeste. Enquanto não se definem as responsabilidades pelo ocorrido, não há como saber a quantidade de óleo que está no mar. Praias nordestinas que já tinham sido limpas foram novamente atingidas.

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Pelas investigações conduzidas pela Polícia Federal, a principal suspeita recaía sobre o navio grego Boubolina, que saiu da Venezuela em 19 de julho carregado de petróleo, rumo à Malásia. Ao anunciar a Operação Mácula, com buscas e apreensão na sede da empresa Delta Tankers, proprietária da embarcação, a PF disse que identificou a mancha inicial de petróleo cru em águas internacionais, a aproximadamente 700 quilômetros da costa brasileira, registrada em 29 de julho. O primeiro registro de óleo no território foi em 30 de agosto, nas praias de Jacumã e Tambaba, na Paraíba.

Há outros navios de bandeira grega entre os suspeitos. A informação foi confirmada em nota da empresa Delta Tankers, a partir de documentação enviada ao Ministério de Assuntos Marítimos da Grécia. São eles: Maran Apollo e Maran Libra (da Maran Tankers), Minerva Alexandra (Minerva Marine) e Cap Pembroke (Euronav).

Como decidir?

O jornalista Ricardo Freire, responsável pelo site Viaje na Viagem, fez um desabafo a respeito da cobertura do desastre ambiental. Segundo ele, muitas notícias de ocorrências de óleo no Nordeste são publicadas com fotos antigas ou referentes a outras praias. “Aconteceu ontem [dia 5] com a notícia de que praias da região de Porto Seguro (incluindo Trancoso e Espelho) estavam com óleo. A matéria foi ilustrada com uma foto da ocorrência na Praia dos Carneiros, no mês passado. Acontece que a ocorrência na região de Porto Seguro, até agora (e isso pode mudar a qualquer momento), é pequena, limitando-se a partículas de óleo nas praias mais visitadas, enquanto em Carneiros chegou a um tapete de óleo”, observou.

Para a pergunta “Devo cancelar minha viagem para o Nordeste”, Freire propõe duas respostas: a simples e a complicada. A primeira é para quem não quer se preocupar com o assunto, ou gostaria de ter certeza de que a praia que visitará estará limpa – nesse caso, o melhor é mudar os planos, sugere. Para quem não pode cancelar sem arcar com o prejuízo, ou mantém o desejo de ir para a região, o jornalista sugere paciência para lidar com imprevistos e cita quatro motivos para manter os planos: as praias atingidas estão sendo limpas; os efeitos das manchas variam de ponto a ponto, e locais próximos podem ser um refúgio; a dificuldade de achar notícias sobre o local específico a ser visitado é um sinal positivo, de que não há manchas recentes; e o fato de o Nordeste ter o melhor clima do Brasil durante o verão, com sol firme e calor amenizado pela brisa.

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O que diz o governo

Em uma reunião multissetorial no Planalto a respeito do derramamento de óleo no Nordeste, em 31 de outubro, o Ministério da Saúde informou que até aquele momento não havia “evidências de contaminação que implique risco para a saúde pública e não há restrição ao comércio ou viagens para as áreas afetadas”. O órgão reiterou ainda que “o impacto para a saúde pública é baixo, apesar da amplitude do evento. Parte-se da premissa que esta exposição seja pontual e que o evento será controlado no curto-médio prazo”.

Entretanto, no site do Ibama, que concentra as informações sobre a limpeza do óleo, consta a informação de que o contato com o petróleo cru é enquadrado na Classe I da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). “Suas propriedades físico-químicas podem oferecer risco à saúde pública e ao meio ambiente caso o produto seja gerenciado de forma inadequada”, diz o Ibama, ressaltando que o produto é “especialmente danoso para plantas e animais”, e que no ser humano, “pode causar irritação na pele e nos olhos”. O Ibama orienta ainda a consulta ao boletim de balneabilidade de cada localidade antes de se banhar no mar.

Em outra frente, o Ministério do Turismo lançou um edital para credenciar instituições financeiras para as operações do Fundo Geral de Turismo (Fungetur). Estão previstos R$ 200 milhões em linhas de crédito com condições especiais, abertas para todas as regiões, mas com a intenção de favorecer especialmente aquelas atingidas pelo derramamento de óleo no Nordeste. A intenção é facilitar o financiamento de empreendimentos que sejam impactados por uma possível retração na atividade.

Tira-dúvidas sobre o óleo em praias do Nordeste

Confira orientações e esclarecimentos do Ibama referentes ao vazamento de óleo na costa brasileira:

Qual a origem do óleo que atinge as praias do Nordeste?

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A origem do poluente é desconhecida até o momento. A Marinha conduz a investigação sobre as manchas de óleo observadas no litoral da região nordeste do país. A Polícia Federal é a instituição competente para a apuração de responsabilidades em âmbito criminal.

Qual o papel do Ibama em emergências como essa?

O responsável pelo vazamento de óleo não é conhecido. Por essa razão, o Ibama requisitou à Petrobras, empresa que opera diversos empreendimentos de petróleo e gás, o emprego de recursos técnicos e logísticos disponíveis para o enfrentamento da emergência. Desde 2 de setembro técnicos do Instituto monitoram as áreas atingidas pelo óleo e produzem relatórios regulares sobre as condições verificadas em campo.

Quais ações estão sendo tomadas com relação às praias oleadas?

O Ibama realiza a avaliação do impacto ambiental, direciona ações de proteção à fauna e oferece orientações sobre limpeza de praias e destinação de resíduos, definindo prazos e zonas prioritárias. A fim de organizar as ações de campo, as áreas atingidas são divididas em três categorias: limpa, em processo de limpeza e oleada. Uma área pode ser limpa de três maneiras: pela prefeitura ou outras instituições locais; pela Petrobras, por requisição do Ibama; naturalmente – quando a maré remove as manchas do local ou a força das ondas dispersa o óleo em micro gotículas, que são facilmente degradadas. O Ibama permanece atento às novas áreas com presença de óleo, realizando as vistorias e orientações necessárias.

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O óleo chegará em mais praias? Quais?

Não é possível prever com segurança as localidades que podem ser atingidas pelo óleo, uma vez que a origem do derramamento ainda não foi identificada. As manchas se concentram em camada sub-superficial, o que impede a visualização por satélite, sobrevoo e monitoramento com sensores para detecção de óleo. Praias que já estavam limpas vêm sendo atingidas por novas manchas de óleo.

Posso utilizar as praias dos locais atingidos para banho?

É recomendada a consulta à prefeitura ou órgão estadual de meio ambiente para informações sobre balneabilidade das praias.

O contato com o óleo é perigoso para a saúde?

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O contato com o petróleo cru é especialmente danoso para plantas e animais. No homem, pode causar irritação na pele e nos olhos. A NBR 10004, da ABNT, enquadra esses resíduos na Classe I (perigosos). Suas propriedades físico-químicas podem oferecer risco à saúde pública e ao meio ambiente caso o produto seja gerenciado de forma inadequada. Informações mais detalhadas podem ser obtidas com os órgãos de vigilância sanitária.

Quais são as orientações do Ibama em relação ao depósito e descarte do material recolhido?

Os resíduos não podem ser colocados em lixo comum. Seu acondicionamento deve ser temporário, até o direcionamento para reciclagem, recuperação, tratamento ou disposição final. O armazenamento pode ser feito em big bags, sacos plásticos específicos para resíduos oleosos, tambores metálicos, containers, ou outros recipientes que possam conter os resíduos sem provocar vazamento ou reação, e que possam ser removidos sem que haja o rompimento da embalagem. Após a retirada de todo óleo do litoral brasileiro, o Ibama e o respectivo órgão estadual, vão propor a melhor destinação: aterro para resíduos perigosos ou incineração em fornos de cimenteiras.

O que fazer caso encontre um animal oleado?

Quando um animal atingido pelo óleo for encontrado, a unidade do Ibama mais próxima deve ser acionada imediatamente. O ideal é que sejam informadas as coordenadas geográficas ou alguma referência que determine o local exato para o resgate.

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