A assessora das Nações Unidas para a prevenção ao genocídio, Alice Wairimu Nderitu, denunciou que existem fatores de risco de genocídio, além de violações dos direitos humanos dos povos indígenas no Brasil, e que isso merece atenção urgente das autoridades do país.
Wairimu fez o alerta na apresentação do relatório anual ao Conselho de Direitos Humanos da ONU, que conta com um trecho dedicado às conclusões de uma visita feita ao Brasil em meio deste ano.
"Observo com preocupação que há um histórico de graves violações, uso excessivo da força por parte dos órgãos de segurança, tensões entre as comunidades indígenas e outros grupos, além de uma série de políticas que permitiram a discriminação e abuso contra esses grupos protegidos", disse Wairimu, em entrevista coletiva.
As observações da especialista se concentram no povo Yanomami, que vive em Roraima, assim como na comunidade Guarani Kaiowa, assentada no Mato Grosso do Sul.
No caso dos Yanomami, a especialista garantiu que as terras dessa comunidade se viram "invadidas" para a exploração mineradora, apesar de a Constituição do Brasil considerá-las território protegido.
"Essa atividade extrativa provocou a contaminação por mercúrio das terras e águas da região, com graves consequências para a saúde desta população, que apresenta uma elevada prevalência de desnutrição.
Durante a visita ao Brasil, a especialista também esteve no território da comunidade Guarani Kaiowa e documentou relatos de "ataques violentos" por parte das forças de segurança contra a população, incluindo casos de assassinatos e detenções arbitrárias.
Wairimu alertou que a violência pode gerar "graves danos físicos e mentais" para a população guarani. Durante a missão no país, a especialista também se atentou à situação dos brasileiros negros, que representam mais de 55% da população.
Após se reunir com dezenas de mães de negros vítimas da violência policial, a especialista concluiu que "o racismo estrutural e a violência generalizada contra essa população são atrozes".
Diante da constatação, a ONU exigiu ao governo brasileiro combater esses crimes "de maneira independente e imparcial", com especial atenção aos cometidos pelas forças de segurança contra a população indígena.
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