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A nova linha de investigação da Polícia Federal para a facada sofrida por Jair Bolsonaro (PL) em 2018, que aponta uma suposta ligação da defesa de Adélio Bispo de Souza com a facção criminosa PCC, chegou a desencadear uma operação que não foi divulgada pela direção empossada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Segundo informações publicadas nesta quarta (19) pelo jornal Folha de S. Paulo, a operação teria cumprido seis mandados de busca e apreensão a partir de uma autorização dada pelo juiz Bruno Savino, da 3ª Vara Criminal de Juiz de Fora (MG), onde ocorreu a facada. O documento a que a reportagem teve acesso foi expedido no dia 11 de novembro do ano passado, após o fim da eleição presidencial.
A operação teria sido deflagrada após a descoberta de indícios de pagamentos fracionados de R$ 350 mil de integrantes do PCC a uma empresa do advogado Fernando Costa Oliveira Magalhães, que atuou na banca de defesa de Adélio, dois anos depois do atentado contra o ex-presidente. Ele negou o envolvimento e disse que os repasses têm relação com a defesa de outros clientes.
“É razoável inferir que o pagamento fracionado de R$ 315 mil tenha constituído auxílio prestado pela referida facção para o custeio dos honorários dos advogados do autor do atentado, lançando mão dos recursos movimentados pelo citado Setor das Ajudas do PCC”, afirmou Bruno Savino no despacho.
O jornal apurou com fontes internas da Polícia Federal que o sigilo na operação do mês passado teria sido necessário para evitar prejuízo na investigação ainda em andamento, diferente do que ocorre normalmente, em que a imprensa é informada das ações. E também por conta da discordância da cúpula da PF com a linha seguida pelo atual delegado do caso, Martin Bottaro.
Indícios apontam ligação do PCC com Adélio
O delegado Martin Bottaro leva em consideração pelo menos quatro indícios de envolvimento do PCC no caso, entre eles os pagamentos fracionados descobertos por meio do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras). Há, ainda, a descoberta de um grupo de troca de mensagens entre os advogados no aplicativo WeChat com o nome “Adélio PCC”.
Segundo a apuração, o grupo tinha a participação do advogado Zanone Oliveira Junior, que estava à frente da banca de defesa de Adélio, com conversas que relatavam a preocupação com o fato de Magalhães ter atuado na defesa de membros do PCC. Zanone teria registrado, em um livro-caixa, um pagamento de R$ 25 mil com a rubrica “caso Adélio”, aponta outro indício.
A Gazeta do Povo pediu explicações à PF sobre a operação e a nova linha de apuração. A corporação afirmou, no entanto, que “não se manifesta sobre investigações em andamento”.
Bolsonaro questionava conclusão das investigações
As investigações da Polícia Federal apontaram que Adélio agiu sozinho no atentado contra o ex-presidente, por insanidade mental segundo repetidos laudos psiquiátricos feitos em diversas etapas da apuração. Isso o levou a ser considerado inimputável e a cumprir medidas de segurança na Penitenciária Federal de Campo Grande (MS).
A conclusão, no entanto, sempre foi questionada pela família de Jair Bolsonaro, que aventava a tese de que Adélio teria agido a mando de alguém. A suspeita ocorreu principalmente por conta da falta de informações de quem teria bancado a defesa de Adélio.
Segundo a apuração da Folha de S. Paulo, a Polícia Federal teria feito diligências em templos de uma igreja evangélica que supostamente contratou Zanone para defender Adélio, mas fiéis disseram desconhecer o financiamento.
Já Magalhães afirmou que não tem conhecimento de valores recebidos pelo advogado, e que foi convidado para auxiliar na defesa com um “sério e enorme prejuízo com a causa, de ordem pessoal, familiar e financeira”.
A Defensoria Pública da União, que atualmente representa Adélio e exerce sua curadoria, afirmou que não foi notificada da nova investigação da PF.