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Principal alvo da mais nova etapa da operação Vigilância Aproximada, da Polícia Federal (PF), realizada na manhã desta segunda-feira (29), o vereador do Rio Carlos Bolsonaro (Republicanos) ainda é o principal responsável pela estratégia e manutenção das mídias sociais de seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Com isso, a tentativa de desvendar uma suposta prática de espionagem ilegal no governo passado contra adversários políticos por meio de equipamentos e servidores da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) interfere na rotina da rede digital mais influente da política no país.
Parlamentares e especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo entendem que o episódio atual se soma a outras ações da PF ocorridas este mês e que tiveram deputados do PL fluminense próximos de Jair Bolsonaro como alvos, casos de Alexandre Ramagem, ex-diretor-geral da Abin, sobretudo, e de Carlos Jordy, líder da oposição. Embora tendam a ter desdobramentos distintos, esse cerco judicial que se fecha contra Jair Bolsonaro e aliados traz com a figura de Carlos Bolsonaro o objetivo de também dissecar o que é chamado pela esquerda de “gabinete do ódio” da gestão passada. Todas ações foram autorizadas pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
A tônica e o enfoque das mensagens juntamente com as ferramentas de engajamento, tudo concentrado em Carlos Bolsonaro e um restrito grupo de colaboradores, são reconhecidas publicamente pelo próprio ex-presidente como responsáveis pelos seus milhões de seguidores fiéis nas redes sociais e pela elevada mobilização que suas postagens provoca. O termo "gabinete do ódio" foi cunhado pelos rivais do clã Bolsonaro para denotar a rapidez e o caráter incisivo e implacável que suas mensagens traziam sobre os campos adversários e até mesmo ex-aliados.
Curiosamente, as buscas feitas na casa e no gabinete dele ocorreram um dia após o clã Bolsonaro realizar transmissões ao vivo em suas redes sociais. A “Super Live” do ex-presidente com seus filhos, o vereador Carlos, o deputado Eduardo (PL-SP) e o senador Flávio (PL-RJ), registrou pico de audiência de 470.960 espectadores simultâneos por volta das 20h20 deste domingo (28), mais de 10 vezes superior ao obtido pela livre semanal ao atual presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), fato que foi denotado pelo ex-presidente e principal adversário.
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Carlos Nantes Bolsonaro cumpre o seu sexto mandato como vereador do Rio, tendo sido eleito pela primeira vez aos 17 anos, em 2000. A PF fez buscas na casa e no gabinete dele em busca de evidências sobre a criação de “estrutura paralela” na Abin durante o governo Bolsonaro. O ex-ministro de Bolsonaro Gustavo Bebiano, já falecido, relatou em 2020 que Carlos Bolsonaro manifestou interesse em criar uma “Abin paralela”, pois supostamente não confiava no órgão oficial. O vereador teria apresentado o nome de um delegado federal e três agentes para formar essa Abin informal, segundo relato de Bebiano.
As buscas e apreensões em endereços do vereador do Republicanos e de outros alvos da PF é uma segunda etapa da operação Vigilância Aproximada, deflagrada na quinta-feira (25) contra o deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ). A PF informou que a etapa desta segunda-feira "busca avançar no núcleo político, identificando os principais destinatários e beneficiários das informações produzidas ilegalmente no âmbito da Abin, por meio de ações clandestinas".
Ainda segundo a PF, as investigações apontam que a ex-deputada Joice Hasselmann, o ex-governador do Ceará e atual ministro da Educação Camilo Santana e o ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia, além de ministros do STF, entre os quais Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, teriam sido espionados de forma ilegal por servidores da Abin.
Gravidade das acusações pode mudar estratégias da oposição
O cientista político e diretor-geral do Ranking dos Políticos, Juan Carlos Gonçalves, destaca a necessidade de uma análise diferenciada das recentes operações conduzidas pela Polícia Federal (PF) contra personagens ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Ele expressa preocupação em relação às ações de busca e apreensão direcionadas ao deputado Carlos Jordy (PL-RJ), baseadas em indícios frágeis de uma suposta participação nos atos de vandalismo de 8 de janeiro. A atuação da PF, acrescenta, sugere excessiva e até perseguição política. “É um completo absurdo”, resumiu.
No que diz respeito às investigações relacionadas ao deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ), que envolvem a montagem de uma “Abin paralela”, o especialista aponta, contudo, para a complexidade do assunto. Ele ressalta a existência de elementos substanciais nas investigações sobre questões sérias envolvendo o uso da máquina estatal para espionar civis. “Caso se confirme esse cenário, estaríamos falando de ameaça à segurança nacional e aos direitos constitucionais, temas muito graves”, observou.
No âmbito político, ele acredita que a oposição buscará maior coesão para desenvolver estratégia capaz de pressionar o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), a promover uma reação capaz de reduzir interferência do Supremo Tribunal Federal (STF) nas atividades de parlamentares e na rotina dos mandatos deles.
Para outros analistas, os recentes acontecimentos policiais envolvendo a família Bolsonaro e políticos próximos do ex-presidente não são só tumultuados, mas ainda podem desencadear novas repercussões nos três Poderes e nas disputas eleitorais.
Postura de Pacheco tira espaço de manobra para oposição reagir
Para o cientista político Luiz Filipe Freitas, o real impacto das operações da PF, sobretudo nesta segunda-feira, ainda está por ser conhecido. Mas, por ora, ele entende que as acusações insinuadas são suficientemente graves o bastante para forçar o grupo político do ex-presidente Bolsonaro a rever algumas de suas estratégias para as eleições de 2024. Ainda na semana passada, após a operação contra Ramagem, o PL confirmou que o deputado ainda é pré-candidato no Rio e o presidente nacional da legenda Valdemar Costa Neto, chegou a mencionar que as investigações poderiam ter o efeito de alavancar Ramagem na disputa pela prefeitura da capital carioca.
“Talvez até mesmo a atuação do Legislativo possa sofrer efeitos", continua Freitas. "A obstrução que parte da oposição ameaça fazer nas duas Casas legislativas pode ter algum recuo agora”, disse.
Não por acaso, ele lembra que a primeira reação do presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), ao saber das buscas contra Carlos Bolsonaro foi solicitar ao STF os nomes dos parlamentares monitorados pela tal Abin paralela. “Isso pode levar à perda de espaço de manobra para os oposicionistas”, disse.
Freitas ressalta que Carlos Bolsonaro, chamado pelo pai de 02, era tido como o estrategista e até mesmo gerente das contas do ex-presidente. “Resta avaliar se as investigações vão chegar até o chefe do clã”, conclui.