Lula se reuniu com influencers| Foto: Ricardo Stuckert/PR
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Mesmo em meio ao recesso, parlamentares de oposição na Câmara dos Deputados intensificaram a coleta de assinaturas para a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) destinada a investigar a relação do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com a empresa Mynd, responsável por 34 perfis de entretenimento e ativismo político e outros 400 de artistas e influenciadores.

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Até agora, 122 deputados assinaram o requerimento de criação da CPI para apurar se os influenciadores digitais que apoiaram o Partido dos Trabalhadores e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fizeram as postagens de livre e espontânea vontade, apenas por idealismo político, ou se receberam para isso. O número mínimo para a instalação de uma CPI é de 171 assinaturas.

A Mynd é a mesma empresa que cuida do perfil Choquei, que publica fofocas de celebridades, com 30 milhões de seguidores, e que recentemente ocupou o noticiário após postagens falsas sobre um suposto envolvimento entre Jéssica Vitória e o humorista Whinderson Nunes. A fofoca, desmentida tanto por Jéssica quanto pelo humorista, terminou com a morte da jovem, que tirou a própria vida após diversos ataques e xingamentos recebidos nas redes.

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Além da gravidade desse fato, a oposição quer instalar a CPI da Máfia Digital, como está sendo chamada, para investigar e descobrir se houve pagamento aos influencers que o presidente Lula diz que o apoiavam de forma gratuita, como afirma o deputado Maurício Marcon (PL-RS), vice-líder da bancada oposicionista na Câmara.

Parlamentares esperam abrir o ano legislativo com investigação do "gabinete do amor"

Segundo Marcon, os parlamentares querem conseguir as 49 assinaturas que faltam para protocolar o pedido da CPI logo no retorno dos trabalhos legislativos, no dia 2 de fevereiro. O autor do requerimento para criação da comissão, deputado Gustavo Gayer, usou o X, antigo Twitter, para defender a investigação da Mynd, sócios, perfis e influenciadores, para "expor de uma vez por todas o verdadeiro gabinete do ódio".

"Este é o verdadeiro "gabinete do amor", que anda espalhado mentiras nas redes", disse Marcon. Ele se referia ao grupo de assessores do ex-presidente Jair Bolsonaro, que fazia a gestão das redes sociais do governo passado, e era acusado pela esquerda de fazer parte do chamado de "gabinete do ódio", por supostamente difundir informações falsas e atacar adversários políticos.

Para conseguir as assinaturas, a liderança da oposição também entrou em campo, e enviou mensagem aos parlamentares com pedido de apoio à CPI.

Também nas redes sociais, o líder da oposição, Carlos Jordy (PL-RJ), criticou o silêncio da Mynd, da dona da empresa, Fátima Pissarra, e de Lula e da primeira-dama, Rosângela Silva, a Janja, diante de provas do suposto financiamento para sites e blogs que divulgam notícias falsas. Para o parlamentar, "é a confissão de culpa incontestável". Lula e Janja chegaram a receber influenciadores para um café da manhã no Planalto.

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Esquerda atribui morte à disseminação de fake news e defende aprovação do "PL da Censura"

Enquanto a oposição tenta buscar o número de assinaturas exigido pelo regimento interno da Câmara dos Deputados para instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito, a esquerda usa o episódio para tentar defender a aprovação do Projeto de Lei 2630, conhecido como PL Fake News ou PL da Censura, como é chamado pelos deputados de oposição.

A votação do projeto, que já tem urgência aprovada para deliberação em plenário, está parada desde maio, por falta de acordo. Mesmo a tentativa de fatiar parte da proposta, incluindo trechos numa outra proposição que trata de direitos autorais, não evoluiu em 2023.

O líder do PT na Câmara, deputado Zeca Dirceu, é um dos que defendem a retomada do projeto pelas redes sociais. “Precisamos avançar em 2024 na tramitação do PL 2630-Fake News, isso deve ser prioridade já no início do ano para o parlamento”, publicou nas redes.

Mas o vice-líder da oposição, Maurício Marcon, não acredita que a Comissão Parlamentar de Inquérito da Máfia Digital possa alavancar a votação desse projeto, o PL da Censura. Segundo ele, a matéria, como está, não passa, pois enfrenta forte resistência dos partidos de centro e de direita. Sobre a possibilidade da CPI sofrer influências da base governista, Marcon avalia que, se for instalada, deverá ser presidida e relatada pelos partidos de oposição.

Para ser protocolada, além das 171 assinaturas, a CPI precisa ter um fato determinado a ser investigado, e prazo definido de funcionamento, de 120 dias, prorrogáveis por mais 60 dias. Depois de protocolada na Mesa Diretora da Câmara, a CPI será oficialmente criada com se ocorrer a leitura do requerimento em Plenário, e a definição da proporcionalidade partidária e indicação de membros. Na primeira reunião são eleitos presidente e vice e, em seguida, será designado o relator.

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Perfis de fofoca da Mynd têm 150 milhões de seguidores e influenciam no debate político

De acordo com o Spotniks, do Canal UOL, um dos projetos da Mynd, chamado de Banca Digital, é responsável por administrar grandes perfis de fofocas, tais como Fuxiquei, Fofoquei, Gina Indelicada e Alfinetei. No total, são 34 perfis que compõem a Banca Digital, os quais somados possuem 150 milhões de seguidores.

Além de atingir o público pelas páginas de fofoca, a Mynd também é responsável pela publicidade de artistas como Pabllo Vittar, Gil do Vigor, Luisa Sonza e Deolane Bezerra. Entre os clientes da agência estão ainda empresas como Americanas e Magazine Luiza. O papel da Banca Digital e suas páginas de fofocas é colocar em evidência os artistas agenciados. Assim, os artistas também melhoram o seu alcance nas redes, o que valoriza o seu trabalho de publicidade. Com os clientes da Mynd sendo mais procurados para a venda de produtos publicitários, o lucro da agência se torna ainda maior.

O alcance dos perfis agenciados e das páginas de fofoca junto a meios de comunicação permite que a Mynd viralize marcas, assuntos e influenciadores. O trabalho é questionado pelo anonimato dos perfis e pelo pagamento de conteúdos que chegam a usuários das redes sociais sem ficar claro que se trata de publicidade.

Além disso, ainda de acordo com o Spotniks, a agência teria usado esse poder para gerar cancelamentos, inclusive no debate político, utilizando notícias falsas. Em maio de 2023, a Gazeta do Povo mostrou o alcance de perfis pró-Lula que divulgavam notícias falsas ao relacionar melhorias na economia com o atual presidente.

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Outro exemplo é a campanha que estimulava jovens de 16 anos a tirarem o título de eleitor, citada pelo Spotniks. Nela, diversos influenciadores ligados à Mynd postaram em suas redes sociais a importância da participação na campanha eleitoral. O vídeo do Spotniks também mostrou como o PT teve acesso a esses influenciadores, considerados "líderes digitais", durante a campanha do presidente Lula.

Em posicionamento enviado à Gazeta do Povo em 04 de janeiro, a Mynd disse que trata apenas da intermediação de venda de publicidade em perfis nas redes sociais. “Cuidamos exclusivamente da intermediação de venda de publicidade em perfis nas redes sociais e não participamos em nenhum momento da definição do conteúdo pessoal postado nos perfis dos criadores que atendemos”, argumentou a agência. A Mynd8 afirmou que não era “dona” de nenhum perfil de notícias e que todos os agenciados são “livres, totalmente independentes”.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]