"O chefe da Secom [Secretaria de Comunicação] Fabio Wajngarten (...) é sócio de agências que recebem verbas do governo federal." "Bolsonaro quer subsidiar conta de luz de grandes templos religiosos. Isto seria bancado pelos demais consumidores." "O governo não é apenas Bolsonaro, meu nobre. Mas o que cabe exclusivamente a ele [Bolsonaro] é justamente o que deixa a desejar."
As três declarações acima, críticas ao governo federal, não vêm de opositores tradicionais de Jair Bolsonaro, e sim de parlamentares que ajudaram o presidente da República a vencer as eleições de 2018: respectivamente, os deputados federais Julian Lemos (PSL-PB), Joice Hasselmann (PSL-SP) e Dayane Pimentel (PSL-BA). As falas indicam uma ameaça que o chefe do Executivo pode encarar já em 2020: uma oposição de direita no cenário político.
Críticas à direita contra Bolsonaro apareceram ainda antes de o presidente tomar posse. Foi o que ocorreu com a eclosão do "caso Queiroz", quando o senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ), filho do presidente, foi acusado de comandar um esquema de "rachadinhas" na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro em conjunto com seu ex-assessor Fabrício Queiroz. O episódio foi divulgado no fim de 2018 e motivou ataques de pessoas que estiveram ao lado de Bolsonaro na eleição, como integrantes do Movimento Brasil Livre (MBL).
Ao longo de 2019, outras ocorrências aumentaram os atritos de Bolsonaro com lideranças alinhadas à direita. Foi o caso das trocas de farpas do presidente com os governadores Wilson Witzel (PSC-RJ) e João Doria (PSDB-SP), o racha no PSL e a criação da Aliança Pelo Brasil, o impasse na sanção do Fundo Eleitoral e do juiz de garantias e, mais recentemente, a especulação da recriação do Ministério da Segurança Pública, o que tiraria poder do ministro Sergio Moro.
O episódio Roberto Alvim – quando o vídeo de inspiração nazista do ex-secretário nacional da Cultura gerou uma reação unânime – mostrou que forças que defendem o governo podem se transformar rapidamente numa oposição de direita caso uma "linha vermelha" seja ultrapassada.
Oposição de direita argumenta que não mudou de lado
A "oposição de direita" é formada por alguns dos integrantes do PSL que permanecerão no partido após a oficialização da Aliança Pelo Brasil. Fazem parte dela, por exemplo, o deputado Delegado Waldir (GO), ex-líder do PSL na Câmara. O grupo também inclui membros do MBL e outros integrantes das forças antipetistas do Congresso Nacional.
As lideranças que estão à direita e contestam Bolsonaro alegam que não mudaram de lado em relação ao que defenderam na disputa eleitoral de 2018. Continuam defendendo propostas como Estado enxuto, liberalismo econômico, conservadorismo cultural. Mas alegam que, ao longo deste pouco mais de um ano de mandato, Bolsonaro e seu núcleo mais próximo foram se distanciando desse ideário ou construindo práticas políticas que o presidente dizia combater.
O deputado federal Junior Bozzella (PSL-SP) é um dos que foram eleitos pelo partido de Bolsonaro que passaram a criticar o presidente. Para o parlamentar, "quem se distanciou foi o Bolsonaro", em referência ao afastamento entre o presidente e o grupo que hoje é visto como adversário.
"Tudo que nós falamos durante a campanha eleitoral nós continuamos defendendo. Assim como nós votamos, e continuaremos votando, com o governo nas pautas que considerarmos corretas. Foi assim com a reforma da Previdência, por exemplo. Não faremos oposição pela oposição", afirma o parlamentar.
Bozzella acredita que a formação de grupos dentro da direita pode criar um cenário similar ao que já há na esquerda. "Assim como lá existe o PDT, o PT, o PSB, a direita também pode ter as suas correntes." Mas o deputado critica a formação da Aliança Pelo Brasil. "O que há ali é um partido formado pela questão familiar, voltado para atender o bolsonarismo."
O deputado ressalta que ao longo de 2019, mesmo após a crise interna, o PSL permaneceu votando ao lado do governo. "Nós defendemos o governo, impedimos convocação de ministros", ressalta.
De fato, o racha entre PSL e Aliança não representará uma adesão imediata dos que ficarem no partido antigo à "oposição". Parte dos que não irá ingressar na Aliança prossegue fiel a Bolsonaro. Nesse grupo encontram-se parlamentares como a senadora Soraya Thronicke (MS) e os deputados Coronel Tadeu (SP), Marcelo Brum (RS), Professor Joziel (RJ) e Soraya Manato (ES).
Moro, uma unanimidade, e um foco de disputas
A expressão "estão fritando Moro" (com variações) foi postada em diversas ocasiões, nos últimos dias, pelo deputado federal Julian Lemos (PSL-PB). Mensagens similares foram expostas nas redes sociais e em outros canais por membros da direita que contestaram especulações recentes sobre um possível enfraquecimento do ministro da Justiça no governo federal. O deputado Capitão Augusto (PL-SP), líder da frente parlamentar da segurança pública na Câmara (conhecida como bancada da bala), disse ver na divisão do Ministério da Justiça em dois como uma tentativa de enfraquecer Sergio Moro.
A condição de Moro como "herói nacional" é uma unanimidade que permanece entre os direitistas e que surge como mais um ponto de conflito entre os aliados de Bolsonaro e os "novos adversários".
A ideia de recriação do Ministério da Segurança Pública – que acabou descartada por Bolsonaro – motivou uma série de críticas ao presidente e elogios ao trabalho do ministro da Justiça. "Os temas que envolvem a corrupção, um possível esvaziamento do Moro, tudo isso vai nos motivar a ter uma postura de oposição a esse tipo de atitude, a um posicionamento contundente em relação ao que envolve os interesses nacionais", afirma Bozzella.
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