Pedido de impeachment contra Alexandre de Moraes, do STF, precisa ser pautado pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).| Foto: Geraldo Magela/Agência Senado
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O movimento nacional pelo impeachment do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), se concentrará neste domingo (29) em Belo Horizonte, reduto do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco. Ele e seu partido, PSD, serão os principais alvos de pressão no protesto "Fora Moraes" que ocorrerá na capital mineira. Mais de 20 parlamentares, de vários estados, confirmaram presença no ato.

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Após marcos importantes, como o protesto na Avenida Paulista no 7 de Setembro e a entrega formal do pedido de impeachment a Pacheco por dezenas de congressistas, a mobilização segue buscando novas frentes para alcançar seu objetivo.

Os defensores da destituição de Moraes têm intensificado suas ações nas redes sociais e nas ruas, publicando listas de senadores indecisos para constrangê-los diante dos eleitores e buscando apoio internacional, especialmente de deputados americanos, enquanto ocorre o embate entre Moraes e a rede social X, suspensa pelo ministro em 28 de agosto.

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Nas últimas semanas, o foco do movimento se expandiu, atingindo o PSD, partido de Pacheco. Aproveitando o contexto das eleições municipais, parlamentares conservadores passaram a pregar o boicote aos candidatos do "Partido de Sustentação da Ditadura", como passaram a se referir ao Partido Social Democrático.

Com a maior bancada no Senado, de 15 senadores, a maioria indecisa sobre o impeachment, o PSD, liderado por Gilberto Kassab, tornou-se alvo de uma onda de críticas iniciada pelos deputados Gustavo Gayer (PL-GO) e Nikolas Ferreira (PL-MG), com apoio de outros nomes, como o pastor Silas Malafaia.

Embora ressaltem “exceções à regra”, o ataque ao PSD visa expor seus senadores ao eleitorado e desafiar a orientação do partido, vista como conveniente para acordos com o governo, ao manter uma postura de neutralidade sobre o impeachment de Moraes.

Essa crítica à postura "imparcial" do PSD, agora considerada o maior obstáculo para a abertura do impeachment, se reflete no protesto "Fora Moraes" deste domingo. Os organizadores do ato em Belo Horizonte acreditam que, embora Pacheco tenha o poder de engavetar ou dar início ao processo de impeachment, ele seria pressionado a agir se 41 dos 81 senadores apoiassem o pedido.

O advogado e ativista político Marco Antônio Costa, que lidera a manifestação em Minas Gerais, vai além e acredita que, se Pacheco se recusar a iniciar o processo, ele poderá ser denunciado e afastado do Senado por prevaricação. “Ele não pode simplesmente ignorar um pedido respaldado pela maioria”, diz.

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No contexto geral da mobilização, Costa se mostra especialmente incomodado com a postura do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), por não se engajar mais ativamente na causa e pressionar o Senado contra o que chama de “ditadura”. Tarcísio, que tem Gilberto Kassab como seu principal secretário, estaria articulando nos bastidores para encontrar soluções “menos traumáticas” que o impeachment.

“Tarcísio abraçou o sistema. Ao denunciar isso, não quero dividir a direita, mas sim unir todos os conservadores em defesa da democracia e da liberdade”, afirmou Costa.

O protesto em Belo Horizonte deverá contar com a presença de deputados como Altineu Cortês (PL-RJ), Bia Kicis (PL-DF), Cabo Gilberto (PL-PB), Carla Zambelli (PL-SP), Daniel José (Podemos-SP), Dr. Frederico (PRD-MG), Evair de Melo (PP-ES), Eros Biondini (PL-MG), Gustavo Gayer (PL-GO), José Medeiros (PL-MT), Junio Amaral (PL-MG), Luciano Zucco (PL-RS), Marcel van Hattem (Novo-RS), Marcos Pollon (PL-MS), Messias Donato (Republicanos-ES), Nikolas Ferreira (PL-MG), Rodrigo Valadares (União-SE) e Sargento Gonçalves (PL-RN), além dos senadores Cleitinho (Republicanos-MG), Jorge Seif (PL-SC) e Eduardo Girão (Novo-CE).

Oposição avaliou CPI, obstrução de votações e reação à punição de senador

Em sua campanha pelo impeachment de Moraes, a oposição já ameaçou obstruir votações importantes no Congresso, como a da reforma tributária, e avalia uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no Senado para investigar supostos abusos de Alexandre de Moraes, proposta pelo senador Alessandro Vieira (MDB-SE).

Para a deputada Bia Kicis (PL-DF), o impeachment de Moraes representa “uma guerra pela liberdade e pelo fim da ditadura imposta pelo ministro”. Ela apoia a pressão sobre Pacheco e o PSD, embora acredite que o apoio internacional possa ser crucial para o avanço da causa. "Acho que a maior contribuição à nossa causa virá do exterior", disse em entrevista ao programa Entrelinhas, da Gazeta do Povo.

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Inicialmente, os defensores do impeachment ficaram otimistas com a ideia de que apoiar Moraes se tornou politicamente arriscado. Contudo, reconhecem que o corporativismo no STF se fortaleceu, tendo em vista as possíveis consequências jurídicas e políticas de uma eventual destituição do ministro.

Especialista vê desgaste para Pacheco, mas resistência mantida contra o impeachment

Luiz Filipe Freitas, analista político do escritório Malta Advogados, destaca que protestos públicos contra políticos costumam prejudicar seus projetos, como o de Pacheco, que deverá buscar a reeleição como senador em 2026 ou até uma candidatura ao governo de Minas Gerais.

Freitas lembra ainda que um vídeo de Nikolas Ferreira criticando o PSD causou forte repercussão nas redes sociais, associando o partido à inércia de Pacheco e à sua participação no governo Lula com o controle de ministérios. A reação foi imediata: o senador Irajá (PSD-TO) rebateu a crítica em vídeo, chamando Nikolas de imaturo.

"Além de causar desconforto, a manifestação pode minar a credibilidade de Pacheco e de seu partido em Minas Gerais, estado historicamente decisivo nas eleições presidenciais. Vejo nisso uma estratégia bem fundamentada, ainda que improvável de forçar Pacheco a mudar sua postura sobre o impeachment", comentou Freitas.

Segundo o analista, a manifestação de domingo parece mais um movimento estratégico visando enfraquecer o PSD do que um esforço real para destituir Moraes. "Vale lembrar que a oposição não conseguiu impedir a indicação de Flávio Dino para o STF, nem eleger Rogério Marinho para a presidência do Senado. Resta, então, a pressão nas redes e nas ruas", concluiu.

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