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O anúncio do ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, sobre a entrada do PP e do Republicanos no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) coloca em dúvida a unidade parlamentar da oposição no Congresso. Políticos ouvidos pela Gazeta do Povo minimizaram a adesão e afirmam que a oposição continua firme.
O embarque dos partidos no governo se soma a uma movimentação do Centrão para angariar cargos no governo Lula em troca de apoio político no Legislativo. Os nomes dos deputados Silvio Costa Filho (Republicanos-PE) e André Fufuca (PP-MA) foram confirmados pelo Palácio do Planalto.
Apesar disso, Padilha não anunciou as pastas que os deputados irão ocupar. Uma possibilidade é que Costa Filho fique com o Ministério do Esporte, comandado por Ana Moser. Já Fufuca pode chefiar o Ministério do Desenvolvimento Social, hoje comandado pelo senador Wellington Dias (PT).
É importante ressaltar que o governo possui até o dia 31 de agosto para aprovar o Novo Arcabouço Fiscal, medida que substituirá o Teto de Gastos aprovado no governo do ex-presidente Michel Temer (MDB). O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), tem aproveitado esse limite de tempo para pressionar o governo para dar celeridade nas indicações do Centrão.
Já na avaliação do líder da oposição na Câmara dos Deputados, Carlos Jordy (PL-RJ), apenas o PL e o Novo representam a verdadeira oposição ao petismo.
“Nós sempre soubemos que partidos declaradamente de oposição são somente o PL e o Novo. Os demais partidos, por mais que tenham um viés mais à direita, e que demonstrem serem mais conservadores, na verdade sempre foram partidos mais ao centro”.
Ele afirma que a oposição continuará atuante. “Isso não é algo que vai nos afetar. Porque mesmo eles agora sinalizando que há uma possibilidade de ser, de fato, governo, os deputados que são de oposição desses partidos continuarão sendo de oposição e não vão mudar a posição por conta simplesmente de uma declaração”.
A votação da Reforma Tributária expôs os atritos internos entre deputados mais ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e os mais ligados ao centrão. No caso do PL, 20 parlamentares entregaram votos ao governo Lula para que o projeto fosse aprovado.
Nos bastidores, PP e Republicanos argumentam que votarão com o governo em temas econômicos. Por outro lado, pautas ideológicas, em teoria, terão resistências nas bases dos partidos.
Para o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), a adesão de parlamentares ao governo mostra que muitos se aproveitaram da popularidade de Bolsonaro para se eleger nas eleições do ano passado.
“Nós sabemos quem são os parlamentares de oposição. Penso que nada muda. Sabemos que muitos que estão aí foram eleitos porque se apoiaram na figura do meu pai nas últimas eleições e agora se mostraram quem realmente são”, disse o senador.
A deputada federal Bia Kicis (PL-DF) criticou os parlamentares de oposição que estão votando com governo e faz um alerta para o caminho que o país está tomando.
“Ninguém pode alegar inocência. Todo mundo sabe o que esse governo fez no verão passado, o que está fazendo agora contra os brasileiros e para onde caminhará o Brasil com um governo tirano. Não sabe? Olhe os exemplos ao lado: Cuba, Argentina, Nicarágua, Venezuela. Será que os eleitores do Republicanos e do PP concordam com isso?”, disse a parlamentar.
"Não há constrangimento", disse deputado do Republicanos
Questionado se haveria constrangimento na indicação de Costa Filho, já que PP, PL e Republicanos formaram aliança nas últimas eleições, o deputado federal Augusto Coutinho (Republicanos-PE) negou qualquer impedimento da entrada do partido no governo.
“Não há constrangimento na indicação do Silvio Costa Filho. No partido há uma porcentagem que é bolsonarista e há outra porcentagem que é mais pragmática. É que claro minha posição é de ter uma postura programática em relação ao governo. O país precisa andar”.